(colaborador do Memórias...e outras coisas...)
- Pronto! Está bem… já pedi desculpa!
Isto de gerir as sensibilidades dum quintal onde coabitam uma infinidade de espécies, tem que se lhe diga!
Eu sei que ultimamente toda a minha atenção e afecto têm sido para as rosas, pois são elas que se impõem pela exuberância e beleza no pequeno universo do quintal.
Mas há pouco reparei que as pequenas cerejas, pêras, maçãs, uvas, pêssegos e até as delicadas alfaces me olhavam de lado e no seu pequeno coração de fruto e no seu pequeno coração de legume pensavam baixinho:
- Pois é… só há atenção para as rosas porque são bonitas!
E amuadas queixavam-se dum ou outro pulgão que andava por perto comendo regalado as folhas mais tenras.
Ora, como no quintal não se usam pesticidas, nem insecticidas por causa das joaninhas e até do sapo que lá andam na sua faina de jardineiros, toca de pulverizar as folhas mais atacadas com água com sabão e a bicharada menor lá foi embora, ficando só os que bastem para alimento das joaninhas e do sapo.
- Pronto, já está tudo bem… pronto, já pedi desculpa!
Com vergonha, não disseram nada… mas eu sei que em breve as cerejas, os pêssegos, as maças, as pêras, as uvas e mesmo as alfaces terão o coração cheio de sol e de doçura e hão-de cheirar a frutos maduros e a legumes frescos! E nesse tempo já não haverá rosas e somente diremos que alfaces tão tenras… que frutos tão doces… que cores tão bonitas!
Pois é!... vivemos muito depressa… olhamos para a beleza… só pela beleza e não somos capazes de adivinhar o belo e a doçura que não se vê, mas habita no coração humilde dos pequenos frutos, dos frescos legumes que esperam, pacientemente, pelas longas tarde de sol.
…e a beleza é tão efémera.
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.
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