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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

A HISTÓRIA DO TOURO AZUL

Era uma vez um casal que tinha uma filha, mas a mãe morreu passado pouco tempo ficando só com o pai, que se voltou a casar. Mas a madrasta não engraçava com a filha do marido, maquinando uma maneira de se livrar dela para ficar sozinha com o marido. Passou, então, a pôr em prática uma maldade com a menina, mandava-a todos os dias guardar os animais, enquanto estes pastavam, mas só lhe dava para merenda as côdeas queimadas do pão. A ideia era matar a menina à fome, o que a levava a chorar muito enquanto guardava os animais. Até que um dia um dos seus animais, ao qual chamavam Touro Azul, meteu conversa com ela:
- O que tens para chorar tanto?
- Tenho muita fome.
Então o touro tentou acalmar aquele pranto, pedindo à menina para meter a mão na sua orelha direita e tirar um guardanapo. A menina assim o fez, estendendo-o no chão como o touro lhe pedira, o guardanapo encheu-se de miminhos que a rapariga começou a comer até não poder mais. O touro recomendou-lhe no final que encartasse o guardanapo e o guardasse na orelha de novo. Esta cena repetia-se todos os dias e a menina em vez de sofrer as maldades da madrasta ia, pelo contrário, ficando cada vez mais bonita. A madrasta ficava por isso cada vez mais irada, o que a levou a ir espreitar o que se passava lá pelos campos, surpreendendo-se ao ver a cena do touro a proporcionar um rico almoço à menina. Quando o marido chegou a casa convenceu-o a matar o touro azul, mas a menina ouviu tudo e querendo retribuir o bem que o touro lhe tinha feito resolveu contar tudo a este.
Esperou então que os pais fossem dormir, descendo depois à loja dos animais para ir ter com o touro, que ao ouvir o que a menina lhe tinha para contar, respondeu:
- Ai sim? Então vamos já arranjar maneira de lhe tramar o plano. Saíram os dois da loja e o touro pediu à menina:
- Encostas-te aí a esse muro e sobe para cima de mim!
Dito e feito, os dois tomaram caminho para fugir, até chegarem a um pomar que tinha outro caminho pelo meio. Antes de entrarem o touro parou para fazer as seguintes recomendações à menina:
- Vamos atravessar este pomar, mas livra-te de tocar um raminho que seja destas árvores. Aninha-te bem aí em cima e não toques em ramo algum!
Feitas as advertências atravessaram o pomar, à saída apareceu um forte leão que desafiou o touro para uma luta, obrigando o touro a matar a menina caso perdesse.
O touro ordenou à menina que descesse e começou a luta. O leão saiu vencido, então, o touro tomou novamente o caminho com sua menina no seu dorso, mas percorrido aquele ramal de caminho apareceu outro pomar. Antes de entrar nele, o touro fez as mesmas recomendações à menina para não tocar em ramo algum do pomar. Chegando ao termo deste apareceu um monstro com sete cabeças, que desafiou o touro para um duelo acabando por sair, também ele, vencido. De novo, o leão ordenou à menina que subisse para o seu lombo para seguirem caminho, até chegarem a uma cidade. Antes de entrarem na cidade, o touro pediu à menina que fosse a uma daquelas primeiras casas pedir uma pá e uma picareta. A menina assim o fez, voltando com as ferramentas, explicando, então, o touro: - Vais dar-me com este machado na cabeça para me matar.
A menina ao ouviu isto entrou em choro incessante e disse que isso não faria:
- És meu amigo, eu gosto de ti, mas não me podes pedir isso.
- Vês além aquela casa? É a casa do príncipe. Vai ser para lá que vais servir querem-te lá muito. Deixo-te esta minha varinha que te vai servir muito, quando tiveres alguma necessidade bates com a varinha três vezes em cima da minha campa, fazendo com que eu apareça para concretizar tudo o que tu pedires. Ela começou, assim, a entender um pouco do que ele queria com o seu pedido, ao voltar a repeti-lo, a menina acedeu à sua vontade e matou o touro com o machado.
Enterrou, depois, o touro e partiu em busca da sua nova vida, oferecendo-se, de seguida, no palácio para servir. Aceitaram-na e o príncipe arranjou-lhe para vestir uma saia de pau. Sempre que os senhores saíam a “Maria saia de pau” (alcunha que lhe deram) ficava encostada à lareira até que eles regressassem. Um dia os senhores saíram para a missa e a “Maria saia de pau” lá ficou encostada à lareira, mas cansada de ser tratada como a gata borralheira do palácio decidiu ir ter com o touro azul. Ao bater, como o touro lhe recomendara, a varinha três vezes no chão, este saiu da campa e disse-lhe:
- O que precisas de mim?
- Quero que me calces e vistas de ouro e me dês um cavalo de ouro.
O touro fez-lhe a vontade, saindo assim dourada para a missa, onde todos se admiraram com tanto brilho. No final da missa, ela tomou novamente o cavalo para regressar, mas deixou cair de propósito um dos sapatos, partindo, de seguida, a galope. O príncipe tomou o sapato esquecido decretando que casaria com a donzela a quem servisse aquele sapato. Quando os senhores chegaram ao palácio de nada suspeitaram, porque a “Maria da saia de pau” estava no seu lugar junto à lareira.
Reuniram-se, naqueles dias, muitas donzelas das redondezas para calçar o sapato, todas elas convencidas que iriam casar com o príncipe. Até que um dia a menina da saia de pau, já cansada daquele corrupio, encheu-se de coragem e pediu ao príncipe para a deixar experimentar o sapatinho, no entanto este zombou dela rindo à gargalhada:
- Oh! Oh! Oh! Até tu gata borralheira, que não tens jeito de gente, queres calçar um sapato de ouro?
Ela, no entanto, insistiu e o príncipe deixou calçar o sapatinho, assentando-lhe este que nem uma luva no pé. O príncipe ficou admirado, mas não totalmente convencido.
A menina fez, então, um pedido ao príncipe:
- Posso ir ao meu quarto?
- Vai
Ela foi e regressou toda vestida de ouro, tal como tinha aparecido na igreja, dizendo logo o príncipe:
- Foste então tu que apareceste assim na igreja?
E já convencido que a menina falava a verdade declarou:
- Serás então a minha mulher.
Para acalmar tantas outras interrogações do príncipe, a menina contou-lhe como foi a sua vida desde que a sua mãe morrera e o seu pai voltara a casar, até que um dia o touro azul a ajudou deixando-lhe aquela varinha, através da qual conseguiu todo o ouro. E assim casaram e viveram muito felizes para sempre.

RECOLHA 2005 SCMB, CASIMIRO PARENTE, Idade: 66.
Localização geográfica: PAÇO DAS MÓS – ORIGEM + 60 anos.

FICHA TÉCNICA:
Título: CANCIONEIRO TRANSMONTANO 2005
Autor do projecto: CHRYS CHRYSTELLO
Fotografia e design: LUÍS CANOTILHO
Pintura: HELENA CANOTILHO (capa e início dos capítulos)
Edição: SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE BRAGANÇA
Recolha de textos 2005: EDUARDO ALVES E SANDRA ROCHA
Recolha de textos 1985: BELARMINO AUGUSTO AFONSO
Na edição de 1985: ilustrações de José Amaro
Edição de 1985: DELEGAÇÃO DA JUNTA CENTRAL DAS CASAS DO POVO DE
BRAGANÇA, ELEUTÉRIO ALVES e NARCISO GOMES
Transcrição musical 1985: ALBERTO ANÍBAL FERREIRA
Iimpressão e acabamento: ROCHA ARTES GRÁFICAS, V. N. GAIA

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