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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 2 de maio de 2016

Memórias Orais - Adilia Meireles

Começa com uma oração, quase de forma involuntária. Como quem quer espantar o nervosismo. Conhece pouco as letras. Só os seus irmãos foram à escola. Tinha que ser a segunda mãe, diz, e ir criando os irmãos. “Eles sabem-se defender do mundo, e eu sou uma analfabeta”.
Adília Veneranda Branco passou depressa pela infância. Lembra-se apenas que foi muito triste. “Meu pai não era trabalhador. Passei necessidades. Minha mãe tinha um bom cordão, vendeu-o pra comprar gado, meu pai destruiu-o …destruiu tudo. Podíamos estar bem na vida, mas não estivemos..”
Da vida foi obrigada a saber quase tudo. Com 15 anos viu nascer , pelas suas mãos, um irmão. A falta de recursos obrigava ao desenrasque e Adília, de olhos na vida, ajudou a sua mãe. “Fui eu que cortei o cordão e graças a Deus correu tudo bem”.
Com 73 anos recorda uma vida de trabalho para contrariar as necessidades e um marido muito seu amigo. “Eu casei com uma mão atrás e outra à frente mas arranjei os meus bocadinhos e fiz uma casa de raíz que tem 10 de largo por 11 de comprido. O meu marido era muito trabalhador”.
Nunca saiu de Lagoaça, “feliz daquele que se governa na sua Nação”. A primeira viagem para fora foi ao Porto, pra ver um filho doente. “Deus Nosso Senhor levou-mo”. Talvez a única vez que Falhou com ela. Diz que tudo que lhe tem pedido, Deus tem-lhe dado. Sente-se sozinha mas isso é culpa da vida. Os filhos há muito que fizeram a sua vida fora da aldeia mas Adília queria-os perto. “Quando o meu marido era vivo nada me fazia falta, e hoje faz-me falta tudo, companhia...”
Apesar de tudo, não lhe faz falta a alegria que imprime nas canções e versos que sabe de cor, com as pausas e tempos certos e com a entoação de uma artista. Talvez saiba que assim a solidão se torna mais pequena...

Texto: Joana Vargas



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