Declaração de interesses:
Sou bragançano. Digo-o com orgulho e com profundo sentido de pertença. Toda a minha família é transmontana. Até aos ancestrais mais longínquos, todos foram e somos fruto daquelas terras que nos marcam de forma mágica e indelével para sempre. Vem isto a propósito da repercussão pública que assumiu o triste episódio protagonizado pelo cantor José Cid. As coisas valem o que valem. E, nestes casos, valem em função do seu autor. Nesta concreta situação, muito pouco.
A questão é, porém, outra. Bem mais importante e que vem sendo escamoteada nas observações de alguma indignação sobre a reacção das populações locais. Acredito piamente que nestas suas declarações de há seis anos Cid apenas tenha tentado uma graçola num ambiente descontraído. Mas o que afirmou representa uma certa imagem que o País cultiva, por pura ignorância, de Trás-os-Montes e do interior em geral.
Essa ideia de um Portugal profundo e atrasado, medieval nos seus costumes, fora do tempo e do mundo, dos padrões estéticos e do cosmopolitismo persiste. Há muito português que conhece a Europa e a América e nunca foi a Bragança, a Mirandela ou a Vila Real…!
Ora, o problema é precisamente esse. É que hoje o interior, designadamente o Nordeste, representa o que de melhor Portugal tem. Em qualidade de vida, em museus, em teatros, em vida cultural, em coexistência entre o novo mundo e a preservação da sua identidade e das suas tradições. O Estado propiciou alguns meios. As populações souberam aproveitá-los à exaustão, exponenciando, através da sua qualidade e do seu trabalho, a riqueza que endogenamente possuem. Os transmontanos, nesta reacção, apenas nominalmente visaram o baladeiro. Quiseram, sobretudo, denunciar a forma presunçosa como são tratados por muitos compatriotas e por um centralismo ignaro, prepotente e desleal que continuam reféns de imagens desfocadas de um passado que, em abono da verdade, sempre esteve compaginado com os tempos históricos que o País foi ultrapassando e vencendo.
O autor escreve segundo a antiga ortografia.
José Luís Seixas
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Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço.
A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)
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