(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
À beira da aldeia às vezes o silêncio dói. A cadela ladra por desfastio e os vizinhos falam do tempo e das maleitas. O sino toca, para a missa, ou para a via-sacra e pequenos grupos de mulheres fazem-se à devoção e a aldeia fica mais deserta. A cerca da escola há muito que emudeceu, longe do bulício de trinta, quarenta alunos que rezavam a Santa Luzia para que a palmatória fosse leve na urgência do aprender. A escola há muitos anos que fechou as portas e a cerca da escola, arranjadinha, espera pela festa de São Lourenço para se animar na timidez do baile de poucos dançadores.
Agosto não tarda. Os que partiram na saga da emigração hão de voltar para o aconchego do abraço, para a emoção do beijo.
Meu filho quanto me tardaste, hão de dizer os mais idosos lavados em lágrimas como se as ausências fossem tantas, em comparação com a brevidade das chegadas.
De novo a cerca da escola se vai animar com uma infinidade de crianças que falam todas as línguas.
O Sr. Padre vai ficar contente com a igreja cheia de devotos que se preparam para a procissão e para levar o pálio.
Nos cafés a cerveja será fresca e as valentias dos portugueses, por esse mundo de Cristo, vão-se ampliar até ao infinito.
O silêncio da aldeia apazigua-se, no “meu querido mês de Agosto” e assim sonhamos com uma aldeia povoada, com muitas crianças, mulheres e homem que vieram de longe para ficar.
Mas Agosto destemperado vai passar. As águas do ribeiro continuarão a passar debaixo da ponte, indiferentes… e nós vamos ver partir os que chegaram e a aldeia, de novo, será o silêncio que já nos dói nesta morte anunciada do nordeste.
… não vamos capitular… vamos resistir.
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.
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