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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Delícias do Convento de Vinhais

Viajemos desta vez até ao Convento de Santa Clara, de Vinhais, distrito de Bragança. Este convento era feminino e pertenceu à Ordem dos Frades Menores. A sua fundação, anterior a 1582, foi por vontade de Dr António Álvares Ferreira, juiz de fora da Guarda, e casado com Dona Helena da Nóvoa, que era natural de Vinhais.
O convento esteve sempre sob jurisdição do Bispo de Miranda. Em 1648 estava em ruínas e apenas com 2 freiras. Foi restaurado e ampliado graças à generosidade de 3 vinhaenses, recebendo mais 3 religiosas do Convento de Santa Clara de Bragança. Parece que o auge deste convento terá sido entre 1664 e 1667, chegando a ter 112 freiras, e com uma abadessa que veio do Convento de Amarante. Consta que tiveram um papel importante na defesa da região em mais uma tentativa de avanço espanhol nas guerras da Restauração. O convento encerrou em 1879 apenas com 1 freira e que foi expulsa pelo bispo especialmente por vender o espólio para garantir a sua sobrevivência. Há estórias ou lendas que se contam a propósito de uma freira que geria muito bem todos os alimentos e que criou um dito popular à sua volta com uma expressão que ainda hoje se diz: “… rende como o feijão da Madre Garcia”, conforme publicou o Padre Firmino A. Martins no livro Folklore do Concelho de Vinhais, já em 1927. A Madre Garcia deveria ter um sentido muito apurado para a governação do convento e, por isso, fazer render as mercadorias disponíveis.

Apesar de estarem publicadas as receitas de Barriguinha de Freira, Namorados, e Doce de Laranja, em livros ou revistas, parece que em Vinhais pouca gente os conhece. Barriga de Freira é um doce de origem conventual e que aparece em muitas regiões. Há no entanto doces identificados com origem naquele convento e várias famílias referem antepassadas que dele saíram e lhes deram as receitas. Tive informações privilegiadas com Paula Barreira e Odete Barreiro que ambas continuam a confecionar, e dispõem de um caderno manuscrito que foi pertença da sua bisavó e avó respetivamente, e que sempre lhes disseram que algumas receitas teriam origem no Convento de Santa Clara de Vinhais. Também tive confirmada a existência de doces daquele convento através de texto de Roberto Afonso que muito me elucidou sobre o assunto.

A receita mais identificada é a de Delícias do Convento de Santa Clara, também conhecida por Bolinhos de Amor, confecionada com ovos, amêndoa, açúcar, castanhas e doce de gila. Seguramente parece ser a única receita que teve origem no convento, de acordo com o caderno de receitas da sua antepassada atrás referida. Tive a sorte de Paula Barreira ter confecionado estes doces que me ofereceu e que aparecem nas fotos.

Próximo de Vinhais também nos aparece o Recolhimento da Oblatas do Menino Jesus, de Mofreita. Estas informações foram obtidas através do já referido Roberto Afonso, em ajuda preciosa. Fundado em novembro de 1793 tendo como a “principal missão o abrigo a meninas da classe popular, pobres ou desamparadas”, não impediu que rapidamente tivesse 70 donzelas. “A rotina das freiras passava pela instrução religiosa, trabalhos domésticos, trabalhos artesanais e exercícios de piedade.” É fácil de imaginar que aprenderiam também algumas artes culinárias que ajudaram a desenvolver na região. Curiosamente este Recolhimento só foi extinto com a República. Ainda se contam algumas estórias sobre o bispo da diocese e relacionado com duas madres, cujo processo chegou ao Santo Ofício…

Por vezes há a tentação de tentar criar novas receitas. O excelente sabor e a consistência invulgar destas Delícias apetece perguntar porque não se instala a sua produção, e ajudar a estabilizar a identidade regional gastronómica? Eu sei que o grande emblema local são os enchidos. Mas “o doce nunca amargou”!

© Virgílio Nogueiro Gomes
in:virgiliogomes.com

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