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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Lendas do Concelho de Vinhais

A moura encantada e o lenhador

À meia noite do dia de S. João, o curioso poderá ouvir em diferentes rochas da região [de Souane] o tac-tac surdo de velhos teares de amoreira e o vai-vem da lançadeira através de dourados fios de seda, impelida pelas formosas mãos de lendária moura encantada.
Um dia, um lenhador, percebendo o rodopio de um sarilho, aproximou-se da alta penedia e viu uma linda compatriota de Tárique a transformar as fartas maçarocas em sedosas meadas. E pôde ver que, terminada a tarefa, a novo trabalho deu começo: colocar sobre a dobadoura as meadas e enovelar os delgados fios, ao mesmo tempo que molhava os dedos lassos no límpido arroio que lhe corria aos pés. E, como não conhecia o regulamento dos encantos, ou, talvez, levado pela beleza inexcedível da donzela, foi-se aproximando, dirigindo-lhe carinhosa fala.
De repente, o fio partiu-se, o fuso de ouro caiu na corrente murmurante, e, com surpresa, observou a pobre moura a fugir para a misteriosa galeria da rocha, de tranças soltas ao vento, a chorar, com a encantação dobrada. É que ela havia-se esquecido de molhar os dedos na água, humedecendo-os de saliva, e, por isso, o fio partiu, e ela recolheu, apressada, para o encantamento, não sem ter tempo de levar os pentes cravejados de rútilos diamantes com que tinha alisado as louras madeixas.

Fonte: MARTINS, Firmino – Folclore do Concelho de Vinhais, vol. 1, Câmara Municipal de Vinhais, 1987, pp. 277-278


A moura no rio Mente

Na Forjinha, termo de Vilar Seco da Lomba [concelho de Vinhais], há numa fraga um buraco com escada cavada na rocha, onde, segundo a lenda, entrou um cão e foi sair à margem do rio Mente, alguns quilómetros distante. (...) Também aparecia uma moura às pastoras, com vestidos brilhantes, dizendo-lhes:
– Trocai a vossa pobreza pela minha riqueza.
Outras vezes via-se a lavar roupa no rio Mente.

Fonte: ALVES, Francisco M. – Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança, Vol. IX, Porto, 1934, pp. 499-500.


A moura de Cidagonha

Na aldeia de Moimenta, concelho de Vinhais, há um lugar com sinais de antigas fortificações conhecido por Cidagonha, e a que o povo também chama “cidade dos mouros”. Diz a lenda que vivia ali uma princesa mourisca encantada que, ora aparecia a pentear os seus cabelos com um pente de ouro, ao luar, ora a tecer num tear de ouro, cujo bater compassado dos pentes na teia e o ruído dos pedais poderiam ouvir-se na povoação em noites calmas. Outras vezes poderia ouvir-se a referida princesa cantar melodiosas canções de saudade, cujas palavras não seriam perceptíveis.
Segundo a lenda, o tesouro seria constituído pelo tear, o pente e muitos outros utensílios e jóias da princesa, incluindo um manto, tudo em ouro. Mas tratando-se de um tesouro encantado, este só poderia ser descoberto por pata de ovelha e ponta de relha.

Fonte: MARTINS, João Vicente – Moimenta da Raia – uma aldeia comunitária em evolução e mudança, Braga, Ed. Autor, 1995, p. 83


A lenda de Igreja de S. Facundo

A Igreja de S. Facundo [na vila de Vinhais] é um templo venerando pela sua arquitectura, tradições e antiguidade. Foi a primeira matriz desta paróquia e das paróquias circunvizinhas até muitas léguas de distância, pois é considerada como a igreja mais antiga deste bispado. (...)
Diz a tradição que os Santos Facundo e Primitivo, cavaleiros galegos, sendo perseguidos pelos mouros depois de um combate, se acolheram na dita igreja e nela permaneceram algum tempo, e que, em memória deste facto, sendo depois martirizados e canonizados, se deu à dita igreja o título de S. Facundo(78).

(78) Segundo Firmino Martins, Facundo foi um heróico oficial do exército cristão na luta contra os bárbaros que invadiram a Península. Este autor está, por isso, em desacordo com Pinho Leal que, ao apresentá-lo como tendo sido perseguido pelos mouros, o situa, desde logo, num tempo muito distante daquele. Escreve sobre este oficial Firmino Martins: “Logo que soube da marcha através da Península do bárbaro conquistador, saiu com um punhado de cristãos ao seu encontro; vendo impossível a resistência, recuou desde as montanhas da Galiza até à povoação antiquíssima de Crespo, hoje extinta, a que corresponde em parte o actual bairro do Eiró [em Vinhais], onde se travou sangrenta batalha; os bárbaros, em maior número, derrotaram o exército cristão, aprisionando S. Facundo, que mataram às punhaladas” (1987: 101)

Fonte: LEAL, Pinho – Portugal Antigo e Moderno, vol. 12, Lisboa, Livraria Editora de Mattos Moreira & Companhia, 1890, pp. 149-150.

Mouros Míticos em Trás-os-Montes – contributos para um estudo dos mouros no imaginário rural a partir de textos da literatura popular de tradição oral.

Alexandre Parafita

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