As mulheres do linho e as mouras
Perto da aldeia de Celas, no concelho de Vinhais, há umas fragas que têm aí uns dez metros ou mais de altura, as quais o povo conhece como "Torre de Celas".
Diz-se que noutros tempos viveram ali os mouros.
Conta-se na aldeia que as mulheres iam para os campos mondar o linho, deixando os seus filhos sozinhos. Então as mouras da "Torre de Celas" gritavam-lhes:
– Ó mulheres do linho, olhai os meninos que estão a chorar!
Porque não os ides acarinhar?
E as mulheres respondiam:
– Deix'ós chorar,
quem os lá deixou que os vá buscar!
E não ligavam nenhuma ao que as mouras diziam.
Fonte: Inf.: Francisco Brás, 86 anos; rec.: Celas, Vinhais, 1999.
Lenda das Fragas do Carvalhal
Há no termo de Vilar de Peregrinos, concelho de Vinhais, umas fragas que são conhecidas como as “Fragas do Carvalhal”. Diz a crença popular que nelas habitaram os mouros, e que um dia, não se sabe bem porquê, ficou ali uma moura encantada a tecer num tear de ouro também encantado. Diz-se ainda que quem encontrasse o tear, ficaria com ele, quebraria o encanto à moura e poderia ficar também com ela.
O povo da aldeia sente que estas fragas têm grande mistério. Há lá uma entrada de forma circular, igual a um forno de lenha, e que depois se divide em vários túneis subterrâneos. Num deles se diz que está a moura a tecer.
Conta-se na aldeia que, há uns anos atrás, uns rapazes, levados pela curiosidade, foram espreitar esses túneis e que meteram lá um cão para ver o que acontecia. Ora o cão demorou dois dias a sair, e diz que foi aparecer do outro lado do monte, a uns dez quilómetros dali, e que estava todo peladinho. O povo acha que foi a moura quem o pelou, e por isso acredita que ela continua lá. E há também, ainda hoje, quem diga que na manhã de S. João é costume ouvir-se lá o ruído do tear.
Fonte: Inf.: Olema Natércia Gonçalves 33 anos; rec.: Vilar de Peregrinos, Vinhais, 1999.
A fraga da Moura de Sobreiró de Cima
Diz-se que perto de Sobreiró de Cima, num monte que fica entre esta povoação e a de Lagarelhos, no concelho de Vinhais, há a Fraga da Moura. Há até uma quadra que diz:
“Sobreiró, terra tão linda,
Tão linda não deve haver!
E lá na fraga da Moura
Há um tear a tecer!”
Conta-se que um rapaz de Sobreiró de Cima ia a passar no monte e encontrou no chão um cordão de ouro. Agarrou nele e pôs-se a enrolá-lo, a enrolá-lo, e foi fazendo um novelo. Só que o cordão nunca mais acabava. E como a dada altura já era grande e pesado demais, o rapaz vai e corta-o. Nesse instante, o cordão ficou negro como carvão. E apareceu-lhe então uma rapariga desconhecida, que lhe disse:
– Ah, ladrão, que me dobraste o encanto!
Dito isto desapareceu. Dizem-se que se ouve ali, em certos dias, o barulho de um tear. E a tecedeira é ela, só que ninguém a consegue ver.
Fonte: Inf.: Graciano Augusto Morais, 81 anos; rec.: Espinhoso, Vinhais, 1999.
O tesouro da Cerca
Diziam os mais antigos de Gestosa de Lomba que, num lugar chamado Cerca, onde viveram os mouros, havia um tesouro enterrado e que no livro de S. Cipriano se dizia como encontrá-lo. Ora, como só o padre sabia ler o livro, uns poucos de homens da povoação pediram-lhe que fosse lá com eles a ver se davam com o tesouro.
O padre aceitou. O pior é que um deles teria de entregar, em troca, a alma ao diabo. E voluntários não os havia. Resolveram então fazer a proposta a um galego que andava a trabalhar por estes lados e que aceitou logo, pois era muito pobre e tinha a família na sua terra a passar necessidade.
E lá foram numa certa noite. Os homens escavavam, escavavam, e o padre lia o livro de S. Cipriano. Às tantas, deparam com uma porta, de onde sai o diabo para levar a alma do galego. Este, coitado, vendo uma coisa tão feia à sua frente, ficou de tal modo assustado que só soube dizer:
– Jesus, mi vida, mi alma és para Dios!
Ditas estas palavras, a porta fechou-se de repente e o diabo desapareceu. E os homens voaram para longe, o padre também. Ficaram sem vontade de lá voltar. A cova que abriram ainda hoje se pode ver.
Fonte: Inf.: António Joaquim, 75 anos; rec.: Gestosa de Lomba, Vinhais, 2001.
Mouros Míticos em Trás-os-Montes – contributos para um estudo dos mouros no imaginário rural a partir de textos da literatura popular de tradição oral.
Alexandre Parafita
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