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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Mais Algumas Lendas do Concelho de Vinhais

As mulheres do linho e as mouras

Perto da aldeia de Celas, no concelho de Vinhais, há umas fragas que têm aí uns dez metros ou mais de altura, as quais o povo conhece como "Torre de Celas".
Diz-se que noutros tempos viveram ali os mouros.
Conta-se na aldeia que as mulheres iam para os campos mondar o linho, deixando os seus filhos sozinhos. Então as mouras da "Torre de Celas" gritavam-lhes:
– Ó mulheres do linho, olhai os meninos que estão a chorar!
Porque não os ides acarinhar?
E as mulheres respondiam:
– Deix'ós chorar,
quem os lá deixou que os vá buscar!
E não ligavam nenhuma ao que as mouras diziam.

Fonte: Inf.: Francisco Brás, 86 anos; rec.: Celas, Vinhais, 1999.

Lenda das Fragas do Carvalhal

Há no termo de Vilar de Peregrinos, concelho de Vinhais, umas fragas que são conhecidas como as “Fragas do Carvalhal”. Diz a crença popular que nelas habitaram os mouros, e que um dia, não se sabe bem porquê, ficou ali uma moura encantada a tecer num tear de ouro também encantado. Diz-se ainda que quem encontrasse o tear, ficaria com ele, quebraria o encanto à moura e poderia ficar também com ela.
O povo da aldeia sente que estas fragas têm grande mistério. Há lá uma entrada de forma circular, igual a um forno de lenha, e que depois se divide em vários túneis subterrâneos. Num deles se diz que está a moura a tecer.
Conta-se na aldeia que, há uns anos atrás, uns rapazes, levados pela curiosidade, foram espreitar esses túneis e que meteram lá um cão para ver o que acontecia. Ora o cão demorou dois dias a sair, e diz que foi aparecer do outro lado do monte, a uns dez quilómetros dali, e que estava todo peladinho. O povo acha que foi a moura quem o pelou, e por isso acredita que ela continua lá. E há também, ainda hoje, quem diga que na manhã de S. João é costume ouvir-se lá o ruído do tear.

Fonte: Inf.: Olema Natércia Gonçalves 33 anos; rec.: Vilar de Peregrinos, Vinhais, 1999.

A fraga da Moura de Sobreiró de Cima

Diz-se que perto de Sobreiró de Cima, num monte que fica entre esta povoação e a de Lagarelhos, no concelho de Vinhais, há a Fraga da Moura. Há até uma quadra que diz:

“Sobreiró, terra tão linda,
Tão linda não deve haver!
E lá na fraga da Moura
Há um tear a tecer!”

Conta-se que um rapaz de Sobreiró de Cima ia a passar no monte e encontrou no chão um cordão de ouro. Agarrou nele e pôs-se a enrolá-lo, a enrolá-lo, e foi fazendo um novelo. Só que o cordão nunca mais acabava. E como a dada altura já era grande e pesado demais, o rapaz vai e corta-o. Nesse instante, o cordão ficou negro como carvão. E apareceu-lhe então uma rapariga desconhecida, que lhe disse:
– Ah, ladrão, que me dobraste o encanto!
Dito isto desapareceu. Dizem-se que se ouve ali, em certos dias, o barulho de um tear. E a tecedeira é ela, só que ninguém a consegue ver.

Fonte: Inf.: Graciano Augusto Morais, 81 anos; rec.: Espinhoso, Vinhais, 1999.

O tesouro da Cerca

Diziam os mais antigos de Gestosa de Lomba que, num lugar chamado Cerca, onde viveram os mouros, havia um tesouro enterrado e que no livro de S. Cipriano se dizia como encontrá-lo. Ora, como só o padre sabia ler o livro, uns poucos de homens da povoação pediram-lhe que fosse lá com eles a ver se davam com o tesouro.
O padre aceitou. O pior é que um deles teria de entregar, em troca, a alma ao diabo. E voluntários não os havia. Resolveram então fazer a proposta a um galego que andava a trabalhar por estes lados e que aceitou logo, pois era muito pobre e tinha a família na sua terra a passar necessidade.
E lá foram numa certa noite. Os homens escavavam, escavavam, e o padre lia o livro de S. Cipriano. Às tantas, deparam com uma porta, de onde sai o diabo para levar a alma do galego. Este, coitado, vendo uma coisa tão feia à sua frente, ficou de tal modo assustado que só soube dizer:
– Jesus, mi vida, mi alma és para Dios!
Ditas estas palavras, a porta fechou-se de repente e o diabo desapareceu. E os homens voaram para longe, o padre também. Ficaram sem vontade de lá voltar. A cova que abriram ainda hoje se pode ver.

Fonte: Inf.: António Joaquim, 75 anos; rec.: Gestosa de Lomba, Vinhais, 2001.

Mouros Míticos em Trás-os-Montes – contributos para um estudo dos mouros no imaginário rural a partir de textos da literatura popular de tradição oral.

Alexandre Parafita

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