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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Duas Lendas do Concelho de Vinhais

O Serro de Penhas Juntas

O Serro de Penhas Juntas, dois quilómetros distante do povo, concelho de Vinhais, é constituído por um enorme penhasco de três quilómetros aproximadamente de comprimento, que segue em linha recta para o rio Tuela, distante quatro quilómetros. Está cheio de enormes e compridas galerias para exploração de minério, que demonstram insano labor e grandes e ricos filões. Em volta dos fragueiros, e principalmente no Múrio, aparecem pedaços de mós manuais, restos de casas sem cimento, fossos, muralhas de pedra solta e recintos fortificados, cobertos de pedras de metro enterradas no solo com a ponta para cima, à maneira de estrepes, dispostas com tal arte que, mesmo a pé, dificilmente se anda por entre elas. (...)
A lenda diz que os trabalhos do Serro foram feitos pelos mouros, comunicando as galerias com o rio Tuela, e que há grandes tesouros guardados pelo diabo, que às vezes sai aos pastores em forma de touro preto.

Fonte: ALVES, Francisco M. – Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança, Porto, vol. IX, 1934, pp. 539-540.


A Fraga do Pingadeiro

Versão A:
Perto da Fraga das Ferraduras [no termo de Cerdedo, concelho de Vinhais] fica a enorme Fraga do Pingadeiro, debruçada sobre o ribeiro Cabanelas, afluente do Rabaçal, à qual se refere a lenda da formosa Helena, filha de rei cristão, raptada por um mouro disfarçado em peregrino, que fugiu levando-lhe um colar de pérolas, supondo-se perseguido.
Ela refugia-se no fragueiro de noite, para escapar às feras, e com rede feita de tiras do manto e dos seus cabelos apanha peixes de dia para se alimentar. Quando alfim chegaram seus irmãos e pai, que diligentes a procuraram e inquiriram do colar, apenas lhes apresentou algumas contas, caídas ao mouro na precipitação da fuga e encontradas no estômago das trutas pescadas. As outras diz o povo que ficaram no fundo do regato, sendo devido a elas o fino sabor das suas trutas.

Versão B (A lenda das pérolas no fundo do rio):
Há muitos, muitos anos, vivia nas terras do Norte uma formosa princesa, que ocupava os dias passeando pelos montes e vales do seu reino, num bonito cavalo branco. Entre os seus enfeites, sobressaía um belo colar de pérolas, que naquele tempo simbolizava o estado de pureza da moça que o trazia. O pai, um poderoso rei cristão, estava sempre e recomendar-lhe todo o cuidado nesses passeios, que podiam ser perigosos devido à presença dos mouros por perto. Ela, contudo, não mostrava ter cuidado algum.
Um dia, o cavalo regressou ao castelo sem a princesa, e logo toda a gente se sobressaltou. O seu pai mandou reunir todos os homens da guarnição e partiu com eles à procura da filha, acabando por avistá-la, ao longe, no cavalo de um mouro que a raptara e a levava para terras distantes. E não tardou que os perseguidores alcançassem o cavalo do mouro, que galopava mais lento, ou não levasse ele carrego dobrado.
O raptor, vendo-se incapaz de levar a sua avante, resolveu livrar-se da jovem, e, ao atravessar o rio Rabaçal, atirou-a à água. Mas ao fazê-lo, deitou as mãos ao colar de pérolas e exclamou:
– Posso não te levar comigo, mas o colar também tu o não levarás!
As pérolas caíram à água e a corrente encarregou-se de as espalhar e fazer desaparecer. Quando o rei e os seus homens chegaram junto da jovem encontraram-na num choro enorme. Mas não chorava pelo tormento que passara nas mãos do raptor, chorava sim pelo colar perdido. E apontava para o leito do rio, num gesto de súplica, que comoveu o rei e todos quantos o acompanhavam. Perder aquele colar seria um sinal de desonra para qualquer donzela, e muito mais sendo ela uma princesa.
Tudo fizeram para consolá-la, mas em vão. A jovem não queria regressar sem o colar. O rei resolveu então ordenar aos seus homens que acampassem ali algum tempo, até conseguir acalmar a filha e poderem voltar ao castelo. Passado um momento, ouviu-se a voz de um soldado em altos gritos:
– Alteza! Alteza! Alvíssaras!
– Que quer aquele homem?! - perguntou o rei, intrigado.
Trazia na mão uma das pérolas perdidas. Tirara-a do ventre de uma truta, que tinha acabado de pescar no rio. No olhar da princesa nasceu um brilho de esperança. E logo todos os presentes correram para diferentes zonas do rio, tentando cada um pescar o maior número de trutas. O próprio rei foi pescar também.
Dali a nada, parecia um milagre o que estava a acontecer: tanto o rei como os soldados haviam pescado tantas e tantas trutas, que, depois de abertas, tinha sido possível encontrar, finalmente, as pérolas perdidas.
E assim a princesa pôde recuperar o seu valioso colar e regressar, feliz, ao castelo, servindo-lhe o sucedido de lição, pois não voltou a ignorar os conselhos do pai. Este, para comemorar, mandou fazer um grande banquete para o povo com as trutas que pescaram no rio. Foi de comer e chorar por mais. Nunca ninguém havia provado peixe mais saboroso.
Ainda hoje as trutas do rio Rabaçal, que atravessa o concelho de Vinhais, em Trás-os-Montes, são famosas pelo seu sabor inigualável. Dizem os antigos que é um dom que ganharam com as pérolas da princesa.

Fonte – versão A: ALVES, Francisco M. – Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança, Porto, vol. IX, 1934, p. 620. Fonte – versão B: PARAFITA, Alexandre A Comunicação e a Literatura Popular, Plátano Editora, Lisboa, 1999, pp 110-111.

Mouros Míticos em Trás-os-Montes – contributos para um estudo dos mouros no imaginário rural a partir de textos da literatura popular de tradição oral

Alexandre Parafita

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