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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

DA POLÍTICA E DOS AFETOS A NORDESTE

A política é uma ciência com um método e um objeto que se tem vindo a apurar com o devir histórico tendente a uma maior objetividade dentro da epistemologia das ciências humanas e sociais. Contudo, a política assenta primorosamente no sentido prático da “polis”, que tende a cuidar da cidade, da vida do quotidiano, do bem-estar dos cidadãos, privilegiando a moral, os bons costumes e o sentido estético dos espaços. O que quer dizer que a política para além do rigor científico funciona também com um empirismo assumido, dentro dos laços de boa vizinhança, de amizade, de afetos que leva a reconhecer os pares no âmbito do pensamento ideológico e a olhar os outros como adversários políticos. E aqui entram as emoções construídas e solidificadas ao longo de tantos anos em que lado a lado se lutou pelas mesmas ideias e pelos mesmos ideais. A dado passo os partidos políticos criam uma espécie de irmandade que assenta mais na dimensão afetiva do que na racionalidade política.

Longe vai o tempo em que os partidos se reuniam nas suas sedes partidárias, quase diariamente, com paixão, debatendo ideias, consolidando estratégias, às vezes conspirando. Mas havia o sentido da pertença, da participação efetiva na tomada de decisões políticas quer a nível regional, quer a nível nacional.

As eleições autárquicas aproximam-se e assistimos a uma pré campanha morna, sem entusiamo, sem paixão, a luta partidária esmoreceu penosamente para prejuízo da democracia.

Quando Carlos Guerra assumiu legitimante, em eleições democráticas, a liderança do Partido Socialista do distrito de Bragança adivinhavam-se grandes reformas, e pensava-se que o sangue novo da juventude e o entusiasmo de militantes que há algum tempo andavam arredados das lides partidárias trouxesse uma nova dinâmica ao PS. O presidente da distrital do Partido Socialista de Bragança começou por dispensar da comissão política distrital alguns dos “históricos” do PS bragançano, ou seja o núcleo duro do anterior presidente Mota Andrade. E isso poderia contribuir para renovar o partido, arejar as ideias, experimentar novos saberes. E Carlos Guerra continuou a sua saga reformista e em entrevista aos jornais anunciou que ia dispensar, nas próximas autárquicas, os dois vereadores, Vítor Prada e André Novo que tinham dado provas de grande competência e reconhecimento público. Com estas declarações muitos militantes do PS ficaram expectantes em relação aos novos elementos das listas autárquicas que iriam dar força e vigor ao Partido Socialista. Contudo, este entusiasmo esmoreceu-se quando constataram que o Partido Socialista, liderado por Carlos Guerra e também candidato à Câmara Municipal, não tem listas de candidatos à junta de freguesia dum número significativo de aldeias do concelho de Bragança, coisa que nunca tinha acontecido na história da democracia pós 25 de abril.

A explicação para esta ocorrência podia passar pelo facto de o meio rural ter cada vez menos gente e pelo facto do PSD estar no poder na Câmara Municipal. Mas temos também que ter em conta que o PS está no poder, com grande pujança, a nível nacional. Por isso, numa análise primária e sem nenhuma consistência científica acho que o que faltou ao PS na constituição das listas foi a relação de afeto com as populações, a relação de amizade que se consolida ao longo de muitos anos. Os militantes de base habituaram-se a serem reconhecidos na amizade, no abraço, na visita à adega, no café na cidade, na consideração por parte dos dirigentes distritais e concelhios. Falhou o conhecimento do latente, do imaginário rural que se reflete, muitas vezes, no que não se diz, mas se sente com o coração à beira dos longos invernos e dos tórridos verões em que se mata o porco, se faz o fumeiro, se vai à missa do galo, se encomendam as almas, se recordam as segadas, as acarrejas, as malhas, as canções dolentes de embalar, se ralha por um palmo de terra e logo se fazem as pazes nas grandes desgraças.

Há coisas que não se aprendem na escola pois só a racionalidade não chega quando as emoções prevalecem e explicam o real.      

Não é saudável que o poder se concentre num único partido, em prol da democracia, por isso, desejamos que o PS reforce o seu empenhamento e entusiasmo no combate autárquico para que em outubro não tenhamos que recordar a antiquíssima saudação dos gladiadores romanos: “Ave César! Os que vão morrer te saúdam!”


Fernando Calado
in:jornalnordeste.com

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