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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Padre José Augusto Tavares

Abade de Carviçais, concelho de Moncorvo, e anteriormente de Maçores, tendo também paroquiado, como encomendado, esta freguesia, a de Ligares e de Larinho; sócio da Associação dos Arqueólogos Portugueses e da Sociedade de Geografia de Lisboa.
Nasceu na freguesia da Lousa, concelho de Moncorvo, a 4 de Abril de 1868; filho de Custódio Luís Tavares, natural de Santo Amaro, concelho de Foz Côa, e de D. Luísa da Conceição Teixeira, da Lousa. Fez os estudos preparatórios e teológicos no Seminário Diocesano de Bragança e recebeu a ordem de presbítero em 1894. Tem exercido várias comissões honrosas como pregador da bula e foi-lhe concedido o privilégio de usar de murça.
O abade Tavares é «um dos espíritos ilustrados e esclarecidos da actual geração transmontana, que tem dedicado a sua actividade intelectual ao estudo das antiguidades d’esta provincia, tanto da linguistica como de tudo o que pode concorrer para o conhecimento do seu passado. Sacerdote exemplarissimo, ao mesmo tempo que exerce a evangelica missão da direcção espiritual dos seus parochianos, vae, como espirito sagaz, observador, colhendo entre elles e nos seus habitos, usos e costumes, todas as joias archaicas perdidas, que hão-de um dia servir para formar um thesouro de subido valor para a historia d’esta região. Como homem culto, foi um dos primeiros que, lá de uma escondida aldeia, levantou a voz a saudar com a sua penna fluente a fundação do Museu Regional de Bragança, e para o qual tem offerecido, por diversas vezes, vários objectos».
O sábio mestre doutor José Leite de Vasconcelos, transcrevendo esta apreciação, acrescenta: «Faço com tanto maior prazer esta transcripção, quanto é certo que ao desvelado amor que o meu amigo Rev.do Padre Tavares vota á sciencia deve tambem o Museu Ethnologico Portuguez a posse de importantes donativos archeologicos».
O abade Tavares é um grande coleccionador de antiguidades arqueológicas, de que tem em sua casa um verdadeiro museu, sendo lamentável, porém, que não se resolva a depositá-las no Museu Regional de Bragança, que também o é da sua terra, visto respeitar a todo o distrito, e resultarem infrutíferas as suas tentativas para a fundação de um em Moncorvo.
Que o nosso amigo nos perdoe, mas os coleccionadores de antiguidades são tão beneméritos quando as recolhem, salvando-as do perecimento, quão censuráveis desde que se fecham com elas, privando os estudiosos desses elementos de instrução, contra todo o bom critério, e expondo-as a perderem-se após a sua morte, sendo até preferível que as tivessem deixado ficar in loco. Nem se diga que as facultam de boa vontade aos visitantes, porque a vida moderna carece de tempo para andar de casa em casa, por desvairadas terras, à cata delas. Os museus é que são os lugares próprios, onde só podem estar expostas condignamente, facultando de passo outros elementos de comparação evidentemente falhos nas colecções particulares.
E al não façades, como rezam os documentos antigos, porque é um crime ou, pelo menos, maluqueira injustificável. Compreendem-se os coleccionadores mercantis: é a traficância avara e abjecta que os orienta.
Compreendem-se os armazéns artísticos dos novos-ricos: querem dar-se tom de antigos aristocratas. Compreendem-se as colecções arcaicas dos burgueses endinheirados ou com facilidades de vida financeira; aspiram a impingir-se como estetas e amadores conscientes de arte. Compreendem-se as colecções dos sábios a fingir: querem impor-se como genuínos ao vulgo ignaro.
Compreendem-se os colecciono-maníacos que utilizam mobiliários, códices, manuscritos e livros raros para arrancar o ornato característico, a iluminura, a página interessante, o emblema político: é a vesânia do salteador a manifestar-se por essa forma em vez de aparecer nas estradas.
Compreende-se mesmo que o estudioso retenha por algum tempo os exemplares mais raros para os estudar convenientemente, depositando-os depois num museu para não privar egoisticamente outros dos ensinamentos adequados ao adiantamento científico.
Compreende-se que o povo ignaro feche a sete chaves preciosidades que de nada lhe servem, encontradas algumas nos escombros de civilizações desaparecidas, privando assim estupidamente o progresso mental de grandes elementos de estudo: não sabe o que faz e os governos não têm olhos nem mente para decretar uma lei eficaz que faça remover para lugares adequados tais tesouros.
Mas não se compreende que tu, meu velho e grande amigo Tavares, retenhas por mais tempo a tua colecção arcaica. A tua grande inteligência, desinteresse e amor à ciência brigam com tal resguardo.
Não sei se ouvi, se li, que a querias dar a um museu a fundar no Seminário Diocesano. Prezo-me de ser padre, de honrar a veste sacerdotal, de amar a classe o melhor que posso e como posso, de concorrer para a fundação do seminário, sem recear confrontos com os que mais se avantajam em igualdade de circunstâncias, entendendo-se, é claro, do seminário em Bragança e não em outra parte, como preconizam os amoucos da infeliz fariolatria bragançófoba. Mas o seminário, um seminário nunca pode servir para museu, a não ser que reuna condições tão excepcionais que nunca talvez se encontrem nos portugueses.
Pode e deve mesmo ter alguns exemplares de certas raridades – tecelagem, ferragem, bordados, mobiliário, etc. – para ensino na aula de arqueologia, quando a haja, mas só para isso; o mais é no museu ou nos monumentos que se estuda.
Um museu não é um armazém de velharias: é uma aula de estudo pela imagem, onde vai inspirar-se, aprender o pintor, o escultor, o arquitecto, o numismata, o epigrafista, o marceneiro, o serralheiro, a bordadeira, a tecedeira, enfim, quantos exercem a arte com intuitos de perfectibilidade. Precisa de pessoal conhecedor do assunto para classificar, dispor e auxiliar os visitantes; precisa de amplas salas, galerias e terraços; precisa de larga dotação e de várias outras coisas que, por brevidade, omitimos, coisas que o seminário não tem – tomara ele manter-se no objectivo da sua especialidade…
Quem não faz ideia do que seja um museu pode tentar a criação de um com a mesma consciência com que o tarimbeiro general Junot, ao invadir Portugal, prometia dotar cada uma das províncias do país com um Camões para cantar seus feitos em outros tantos Lusíadas!...
E tanto é assim, que homens da envergadura mental e moral do bispo-conde, D. Manuel Correia de Bastos Pina, em nossos dias, resistindo a veleidades injustificáveis, além de improfícuas, podendo fundar um museu no seu seminário, incontestavelmente em melhores condições em tudo que o de Bragança, preferiu iniciar o famoso Museu Machado de Castro. O mesmo fez no século passado o célebre bispo Cenáculo, tão memorado nas belas páginas da literatura portuguesa.
É que o hic homo cepit aedificare et non potuit consumare é uma verdade evangélica e um conselho a tentativas menos ponderadas.
Um museu no seminário?!... E um dia vinham por ali os alunos e as alunas da Escola Industrial copiar desenhos dos tapetes, dos bordados, das pinturas, das ferragens; copiar a tecitura dos panos; e um dia vinham por ali os alunos e alunas das escolas de belas-artes, do Curso Superior de Letras, das faculdades de letras, e lá se ia a paz espiritual que deve reinar nestas casas, levando, talvez, algumas vocações sacerdotais e... bem cego é o que não vê por um crivo – Sego non ego et inrabazabo cordumzil, segundo a versão macarrónica popular.

O padre José Augusto Tavares escreveu: Etnografia transmontana – Agricultura do concelho de Moncorvo. Porto, 1908. 4.º de 16 págs. (É uma separata do tomo II da Portugália.)
Tem em manuscrito: Crepúsculos (versos); Penumbras (idem); O noivado do sepulcro (poemeto à morte de seu irmão doutor Manuel Jacinto Tavares); e Devaneio poético popular – Colectânea (versos). E em prosa: Superstições populares trasmontanas. Folclore trasmontano; e as Monografias de Carviçais, de Ligares, de Nossa Senhora da Teixeira (Moncorvo) e de Santo Ildefonso (Souto e Felgar).
Tem colaborado nos seguintes periódicos: Gazeta de Bragança, O Nordeste, A Voz do Tua, Correio de Macedo, O Moncorvense, Correio de Lamego, O Brigantino, O Mirandelense, O Tua, Correio Nacional, A Palavra, A Vida Moderna, A Época, Novidades, Diário de Notícias, O Século, Torre de Moncorvo, Legionário Trasmontano, Boletim Diocesano, O Arqueólogo Português, Ilustração Trasmontana, Portugália, Revista Lusitana, Novo Almanaque de Lembranças, Agenda Brigantina e Boletim da Diocese de Bragança.
A fecunda escritora D. Carolina Michaëlis de Vasconcelos, nos seus Estudos sobre o Romanceiro Peninsular, 1907-1909, págs. 7, 104, 211 e 227, refere-se elogiosamente ao Romanceiro Trasmontano publicado pelo abade Tavares na Revista Lusitana, n.os VIII e IX, o qual consta de diversas romanças coligidas por este diligente investigador, algumas das quais ainda não tinham similares em português.
O doutor em direito Manuel Jacinto Tavares, irmão do nosso biografado, a quem este dedicou o poemeto atrás mencionado, nasceu na freguesia da Lousa a 18 de Março de 1888 e faleceu em Moncorvo, onde era professor da Escola Comercial Seixas, a 13 de Junho de 1916.
Colaborou no Imparcial de Coimbra, na Vida Nova e noutros jornais, tanto em prosa como em verso.

Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança

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