O acaso que, em 1980, trouxe Georges Dussaud (1944, Brou, França) a Trás-os-Montes, converter-se-ia, pela importância do lugar, na obra e nos afetos, num cíclico retorno.
Dussaud conhece bem a região que, ao longo dos últimos 37 anos, tem vido a ser o principal corpo de trabalho da sua obra, feita de incontáveis peregrinações por lugares, tempos e contextos muito distintos, na tentativa de sobre ela construir, a partir da fotografia, uma "radiografia profunda".
Dussaud regressa em abril de 2016 e em fevereiro de 2017, a convite do Município de Bragança, com o propósito de realizar um novo trabalho fotográfico: uma narrativa sobre a contemporaneidade desta região, sobretudo no que ela mantém de original e identitário.
O comércio, os rituais e os ofícios, os trabalhos agrícolas e o pastoreio, a paisagem e a arquitetura, as artes e a cultura, mas sobretudo as gentes, são alguns dos temas aqui tratados, sublinhando, ao mesmo tempo, a concertação que ainda se mantém entre a preservação das tradições serranas e as transformações impostas pela modernidade citadina, ideal tão aclamado no romance queirosiano.
Neste, como em tantos trabalhos anteriores, as suas imagens apontam, por isso, para um terreno aberto a todo o tipo de incursões, derivam das contingências do tempo e das oportunidades do momento, são feitas de acasos e de instantes aparentemente banais, irrelevantes, quotidianos e são, ao mesmo tempo, uma declaração do seu encantamento, dos seus encontros diretos e fraternos com as pessoas e os seus modos de vida.
A apropriação do título do romance de Eça de Queirós para esta exposição harmoniza-se, assim, com a proposta de uma pausada e apaixonante viagem pela cidade e algumas aldeias do concelho de Bragança, através de um corpo fragmentário e familiar de imagens, que Dussaud nos veio mostrar sob um novo olhar.
Curadoria: Jorge da Costa
Produção: Município de Bragança
Centro de Fotografia Georges Dussaud
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(Henrique Martins)
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