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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Guerra da sucessão e Cerco de Miranda em 1711

Aniquilamento dos rendimentos de cavalaria de Trás-os-Montes e Almeida. — Miranda é tomada devido à infame traição do seu governador; em represália Alcanices, Carvajales e Puebla de Sanábria caem em poder dos nossos. — O tenente-coronel António Monteiro de Almeida livra os povos de Miranda de um opressivo tributo. — Incêndio de Meixedo e destruição de Baçal.

Morrendo Carlos II, de Espanha, em 1 de Novembro de 1700, sem sucessão, deixou o trono a Filipe V, príncipe francês da casa de Anjou. As nações europeias não viram com bons olhos este engrandecimento dos Bourbons e resolveram opor-se-lhe pelas armas, secundando as pretensões do arquiduque Carlos da Áustria à Coroa espanhola.
A Inglaterra, a Áustria, a Holanda e a Alemanha preparam-se para a guerra e el-rei D. Pedro, de Portugal, assina com essas potências o tratado de 16 de Maio de 1703, no qual se obrigava a fazer guerra à Espanha, e em seguida, a 27 de Dezembro do mesmo ano, o de Methuen com a Inglaterra, que fez a felicidade comercial de algumas povoações da raia seca, como Bragança, do qual diremos ao tratar desta cidade.
Declarada a guerra, tratou-se dos aprestes militares: nomeiam-se governadores das armas para as províncias. Na de Trás-os-Montes teve esse cargo o segundo conde de Alvor, Bernardo Filipe Nery de Távora.
Na primavera de 1709 as tropas luso-britânicas, devido a uma péssima manobra, são vencidas nos plainos de Badajoz e aí inteiramente derrotados os regimentos de cavalaria de Trás-os-Montes e o regimento de Almeida.
A cavalaria de Trás-os-Montes só depois, na guerra dos sete anos, é que devia ter-se reorganizado, porque em 1762, época em que Portugal nela entrou, aparece a cavalaria de Bragança, numa das cinco partes em que se dividiu o nosso exército.
O rei de Portugal, D. Pedro, morre entretanto, mas a guerra continua.
Em 1710, a 8 de Julho, o general espanhol Montenegro, marquês de Bay, apossa-se de Miranda do Douro, devido à infame traição do governador da praça, Carlos Pimentel, que lha vendeu por seis mil dobrões.
Vingou esta afronta Pedro Mascarenhas, que entrou no reino de Leão e tomou Alcanices, Carvajales e Puebla de Sanábria.
A guerra que no ano de 1711 nada deu de notável, por haver serenado, continuou a manter-se acesamente nas províncias fronteiras. Eis o que se lê em documento dessa época:
«Por carta que se recebeu do sargento-mór de batalha Francisco de Távora, escrita de Bragança no primeiro do corrente (1 de Fevereiro de 1711) se sabe que entrando na praça de Miranda o brigadeiro Palomino com o seu regimento e 130 cavalos para governá-la em lugar do marquez de Dragonete, mandara notificar os logares visinhos á dita praça, para que pagassem contribuição, do que tendo noticia o dito Francisco de Tavora ordenara aos logares não contribuissem, e mandara ao tenente-coronel do regimento de cavallaria de Almeida, António Monteiro de Almeida, com setenta cavallos, para que juntos aos sessenta que estavam naquellas visinhanças, se oppozesse aos inimigos, que tinham ameaçados os ditos logares de serem queimados, se não pagassem, e com effeito no ultimo do passado sairam daquella praça 140 cavallos e 160 infantes para executar as promettidas hostilidades, de que tendo noticia o dito tenente coronel, os foi atacar com 130 cavallos, e o executou com tal valor, que derrotando os inimigos lhes tomou 12 cavalos e matou 14, e da infanteria se não salvou mais que um subrinho do dito Palomino, e assim ficaram prisioneiros cento e dez e os mais mortos».
Mesmo logo depois da entrega de Miranda em 1710, a região bragançana foi talada pelo inimigo como se vê pela seguinte Provisão:
«D. João por Graça de Deus rei de Portugal e dos Algarves. etc. Faço saber a vós ouvidor da comarca de Bragança que fazendo-me presente em consulta da Junta dos Tres Estados o requerimento que nella fizeram os moradores do logar de Meixedo, termo dessa cidade, sobre os aliviar de pagarem decima do anno de 1710 com atenção da summa pobreza em que se acham por causa da invasão do inimigo por lhes haver queimado as suas cazas e o pão que tinham para sustento de que havia resultado andarem muitos delles pedindo esmola. Fui servido resolver em 30 de abril proximo passado havia por bem fazer mercê aos supplicantes de os aliviar de pagarem a decima que lhes foi lançada no anno passado e da dita minha resolução vos mando fazer este avizo para lhe dardes comprimento a esta provisão como nella se contém... Lisboa 21 de maio de 1711».
Ameaçou também sitiar Bragança o que não levou a efeito graças à vigilância do seu alcaide-mor, Lázaro de Figueiredo Sarmento, acampando perto, nesta minha povoação de Baçal, que muito danificou, como se vê por um requerimento de D. Maria de Figueiroa, terceira mulher de Sebastião da Veiga Cabral, avô paterno do Bispo de Bragança, D. António Luís da Veiga Cabral e Câmara, a qual faleceu na freguesia de Santa Maria de Bragança a 7 de Outubro de 1747 e deixou um filho, Francisco Xavier da Veiga Cabral, governador da vila de Chaves, pai do mesmo bispo.
Pertencia a esta D. Maria a comenda de Santa Maria de Bragança à qual andavam anexos os lugares de Samil e Baçal e pretendiam obrigá-la a fazer certas obras na capela-mor deste, por conta dos frutos da comenda: alegava ela como escusa em seu requerimento: — «que o logar de Baçal que é o unico de que tem os dizimos ficou totalmente arrazado pelo inimigo estando sobre elle acampado onze dias o exercito de Castella de maneira que ainda hoje aquelles moradores que se resolveram a buscar as paredes que acharam arruinadas vivem na mais summa pobreza sem meios para se utilizarem das suas agriculturas».

Vejamos agora o Cerco de Miranda em 1711
Segundo a Relaçam do sitio, e Rendimento da praça de Miranda, que mandou o Mestre de Campo General D. João Manoel de Noronha, pelo coronel de infanteria Joseph de Mello, que chegou a esta Corte em 20 do corrente mez de março, publicada em 24 de março. Lisboa, 1711. 4º de 8 pag. O autor deste folheto parece ser D. Francisco Xavier de Meneses, 4º conde da Ericeira.
O sítio de Miranda do Douro foi principiado aos 11 de Março de 1711.
O mestre de campo, general D. João Manuel de Noronha, conde da Atalaia, comandante das tropas aquarteladas na província de Trás-os-Montes, constantes de onze regimentos de infantaria e cinco de cavalaria, fez reconhecer pelo sargento-mor da batalha Pedro Carle a praça de Miranda e os mantimentos com que podia contar no país conquistado que fez armazenar em Alcanices, Carvajales e Vimioso.
Na primeira destas vilas fez juntar a cavalaria e na última a infantaria no dia 10 de Março. Ambas estas vilas distam quatro léguas de Miranda.
O mestre de campo general e o sargento-mor da batalha Francisco de Távora, comandante da cavalaria, e o brigadeiro António Luís de Távora chegaram nesse dia a Alcanices e o brigadeiro Francisco da Veiga Cabral, encarregado do governo de infantaria, foi postar-se no Vimioso.
No dia 11, apareceu à vista de Miranda o mestre de campo, general D. João Manoel de Noronha, onde no mesmo dia, pelas duas horas da tarde, chegou a infantaria e antes da noite o trem de artilharia, composto de cinco peças de 24, três de 16 e quatro de campanha.
A noite de 11 para 12 foi gasta pelos sitiantes em estabelecer seu alojamento sobre a ribeira de Fresno, que corre junto a Miranda, e a montar uma bateria para bater o castelo.

«No dia 12 o sargento-mor de batalha Pedro Carle com cem granadeiros, o regimento de André Pires e duzentos homens por destacamento de todo o exército, foram cortar a comunicação da barca do Douro, o que seria impossível se os inimigos não fossem surpreendidos. O coronel André Pires marchou na testa de cem granadeiros, seguido de duzentos infantes, sustentado pelo sargento-mor de batalha Pedro Carle com o regimento do dito André Pires e ganharam um alto da montanha, postando-se a meio tiro de mosquete da praça. Tomados assim os postos, Pedro Carle ordenou ao coronel André Pires que marchasse com parte daquela infantaria, a atacar os inimigos numa vinha, onde mostravam querer fazer algum esforço para defender a sua comunicação; mas logo que viram que se marchava a eles, retiraram para a praça», ficando assim cortada aos inimigos a comunicação pelo rio.
A noite de 12 para 13 passou-se em assestar oito peças na bateria que principiaram a jogar sobre a praça às 5 horas da manhã, desmontando logo quatro inimigos.
«Os inimigos vendo que as suas peças não podiam ofender, principiaram uma bateria sobre o ramal esquerdo de uma obra corna, que cobre um lado do castelo» o que não lhe surtiu efeito, pois que o brigadeiro Tomás da Silva Teles a atacou com feliz sucesso de noite, de espada na mão, à frente de duzentos e cinquenta granadeiros à ordem do coronel Francisco de Ares, e duzentos homens de infantaria comandados pelo
sargento-mor João Pissarro. Nesta entrepresa foi ferido dos nossos, numa perna, por uma bala de mosquete o capitão de granadeiros João da Costa Ferreira, que muito se distinguiu.
No dia 14 bateu-se a brecha vigorosamente que estava aberta suficientemente às 8 horas da manhã do dia seguinte, o que obrigou os inimigos a tocar à chamada, mandando um tenente-coronel a pedir três dias de espera para acordarem no que deviam fazer, não foram
atendidos e intimou-se-lhes dentro de meia hora a entrega de toda a guarnição como prisioneira de guerra com as respectivas honras. Os inimigos ainda mostraram alguma relutância em aceder, mas, vendo que os nossos se dispunham ao ataque geral, tocaram segunda vez à chamada. Foi à praça o brigadeiro Tomás da Silva Teles e estabeleceu com o governador dela as seguintes Capitulações com que se entregou a praça de Miranda, feitas pelo brigadeiro Thomaz da Silva Telles, e o Tenente de Rey commandante da dita praça D. António de Mendonça e Sandoval, em 15 de março de 1711:

Que a praça se entregará logo que as capitulações forem aprovadas pelo mestre de campo general D. João Manuel de Noronha, comandante do exército, e a porta principal da dita praça será ocupada como ele determinar.
Que a guarnição ficará prisioneira de guerra à discrição.
Que se manifestarão todas as munições de guerra e boca, que houver na dita praça, e de todas elas se dará uma exacta relação.
Que se houver algum dinheiro, ou para pagamento das tropas, ou qualquer outro efeito, se entregará prontamente.
Que todos os cavalos, como as mais bestas, se entregarão da mesma sorte.
Assinados nestas capitulações: Thomás da Silva Teles, D. António de Mendonça Sandoval, D. João Manuel de Noronha.


Eis a lista da guarnição prisioneira:

Em seguida, D. João Manuel de Noronha tomou e demoliu Alcanices, vila espanhola, fronteira a Miranda do Douro.
Estes sucessos prósperos foram de alguma maneira anuviados pelo aprisionamente do sargento-mor Domingos Teixeira de Andrade, com duzentos soldados e três peças de artilharia em Carvajales, apesar do grande valor com que resistiu por vinte e seis dias, sendo afinal obrigado a render-se.
Esta guerra terminou pelo tratado de Utrecht, celebrado entre a Inglaterra, a Prússia, a Holanda, a Sabóia e Portugal com a França e a Espanha a 11 de Abril de 1713.

Oficiais maiores:
O governador da praça, D. António de Mendonça Sandoval.
O tenente-coronel do segundo batalhão de Burgos.
O sargento-mor da praça.
O tenente de fuzileiros.
O alferes de fuzileiros.
O ajudante do primeiro batalhão do regimento de Palomino.
O comissário da artilharia.
Artilheiros.




Memórias Arqueológico-Históricas
do Distrito de Bragança

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