Estamos no último ano desta legislatura e dificilmente encontraremos na história do regime democrático uma representação parlamentar tão muda e queda, relativamente aos interesses do distrito, como o trio de deputados que temos na Assembleia da República.
É verdade que começámos com cinco deputados nesta terceira república e hoje só restam três, a caminho de um dueto, como já acontece com Portalegre, nosso companheiro na desgraça, de par com Évora e Beja, a que se juntarão, em breve, Guarda, Castelo Branco e os nossos vizinhos de Vila Real, ou talvez não.
Mas enquanto houver representação a obrigação primeira dos deputados é a intervenção política permanente, que garanta a atenção daquele órgão de soberania aos atropelos e ameaças aos direitos dos cidadãos e à sua dignidade, para eliminar discriminações que se vão tornando irremediáveis, matando-nos o futuro.
Em mandatos anteriores a acção dos deputados foi geralmente mais intensa, muitas vezes no campo da politiquice, da intriga ou do imediatismo eleitoralista, sem efeitos na condição do território e das populações. O que se esperaria era que a cada nova legislatura a qualidade dos deputados atingisse patamares que permitissem considerar importante a participação cívica. No entanto, vamos assistindo à demissão do essencial, em favor de um carreirismo cinzento, que não fará história.
Ser eleito por Bragança, nas listas do poder ou da oposição, impõe mais responsabilidades do que as esperadas da generalidade dos deputados. Porque, por cá, não se trata de gerir tranquilamente as expectativas de conforto, progresso ou qualidade de vida. Neste território vive-se a tragédia da sobrevivência e todos os esforços são poucos para manter o alento.
Assim, deveríamos contar com a coragem dos nossos representantes, mesmo no interior dos aparelhos partidários, para defender sem hesitações as mudanças de rumo que nos afastem dos dias do fim.
Por isso se estranha a ausência de posições claras sobre a segurança, a saúde, a mobilidade, as comunicações, a educação ou o desenvolvimento económico, sem o qual nada será possível.
Fica o exemplo do silêncio dos deputados nas vésperas da cimeira ibérica, quando o distrito de Bragança é expressão do desprezo a que tem estado sujeitas as regiões raianas dos dois estados da península.
Dir-se-á que elegemos deputados que alimentam outras ambições, muito para além da monotonia de um território da cor do Inverno. Em tempos houve um eleito que nos criticou a pieguice e se proclamou com direito à ambição de chegar às ribaltas. Não terá ido tão longe como queria e nós também não passámos da cepa torta.
Um jornal de Zamora arrisca que nesta cimeira serão discutidas as ligações Bragança-Puebla e o definitivo lançamento da auto-estrada entre Zamora e a fronteira, além de outras conexões com o território espanhol. Tentámos que nos fosse fornecida a agenda, junto do gabinete do Primeiro-Ministro mas, infelizmente, não tivemos sucesso. A ver vamos se as decisões da cimeira tornam desnecessários os deputados.
Teófilo Vaz
in:jornalnordeste.com
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