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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Adagoi é o epitáfio de todo o interior moribundo

A vida de Adagoi foi-se com a morte dos mais velhos e com a procura de outros mundos pelos mais novos.
Foto Vítor Loureiro/Valpassos d'oje

Adagoi é - ou melhor, era - uma aldeia até ao início dos anos 80 do século passado. "Era" pode até ser um pretérito imperfeito que nos aproxima a algum pedaço de existência daquela povoação abandonada no concelho de Valpaços, Vila Real.

Ali moraram 11 famílias e cerca de 50 pessoas. Foi uma aldeia igual a tantas outras do interior português que se esgotou na vontade dos mais novos em procurar novos lugares, que lhes dessem uma vida melhor, e na fatalidade do destino que a vida sentencia. Não é a única!

Em todo o interior há exemplos destes e se não estão já sem ninguém estão em vias de ficar. Há aldeias com dois, três ou quatro habitantes, que é o mesmo que dizer, com ninguém. As que têm 10, 20, 30 ou quarenta pessoas têm uma idade acima de sessenta anos ou mais. A produtividade é muito pequena e o futuro muito fácil de prever.

"Os políticos e os governos tiveram um tempo em que poderiam ter alterado isto mas agora já é tarde", diz o presidente da Junta de freguesia que também incluía Adagoi. Domingos Vicente também foi emigrante mas voltou há mais de 20 anos para dar "uma" mão à terra. "Agora só já voltam para viver os dias de reforma e a grande parte não vem, já fica lá" atira desolado. "Daqui sai tudo, aqui não há nada".

As aldeias começaram a morrer com as migrações. Para fora e para dentro. Depois as taxas de natalidade reduziram substancialmente e as de mortalidade subiram. A retirada das escolas primárias foi a facada final na pouca vitalidade que ainda iam tendo com o sorriso e a alegria das crianças. Muitas ou poucas davam-lhe vida. Enchiam os caminhos de gritos infantis de esperança.

Acabou tudo! Os agrupamentos levaram "à força" a alegria que existia nas aldeias. À sombra de uma política de aprendizagem e de "numerus clausus", fecharam de vez as aldeias. Trancaram definitivamente a possibilidade de futuro.

Adagoi morreu no início dos anos 80 e já há mais Adagois que tiveram o mesmo fim, um pouco por todo o interior. E há mais Adagois em vias de por os verbos no pretérito perfeito quando se falar delas.

Os governos, todos, acenam com medidas de valorização do interior, com programas de colocação de gente aqui e acolá que supostamente viriam de um litoral povoado e muito stressante. Mas os resultados têm sido praticamente invisíveis e os programas "muito curtos" para um interior muito longo nas angústias.

Os programas políticos não chegam e só servem as vontades de quem os assina. É preciso radicalizar as medidas. Fazer já! Descer os impostos ao mínimo. Dar condições de saúde para que quem quer fazer um exame aos olhos, ou outro qualquer, não seja atendido num centro de saúde de Bragança ou Freixo ou Montalegre ou outro qualquer e depois tenha de ser reencaminhado para Vila Real ou Porto a mais de 300 quilómetros de distância da casa na aldeia porque ali não existem médicos de urgência num sem número de especialidades.

É preciso descentralizar serviços. (e não levá-los quando as populações mais precisam. Os últimos são os correios.) Mas fazê-lo bem para que não apareçam mais burocracias para emperrar o dia-a-dia de quem teima em viver nestas terras e a "emenda não fique pior que o soneto". É principalmente preciso fazer! Fazer e "fazer alguma coisa que se veja", como dizia o presidente de Junta, para que não comecem a aparecer todos os dias mais Adagois.

Dizem que não há gente que os justifique. Cada dia que passa é uma realidade mais visível mas também é uma "pescadinha de rabo na boca". Se não estiverem aqui os serviços as pessoas também não ficam cá, no interior transmontano, no interior beirão, alentejano ou algarvio.

Adagoi é só o epitáfio de todo o interior que está moribundo. O colombiano Gabriel Garcia Marquez no livro "A crónica de uma morte anunciada" dizia que "a fatalidade torna-nos invisíveis". Todo o interior, de norte a sul, está ferido dessa fatalidade.

Afonso de Sousa
TSF

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