No seu cabeçalho, o Distrito de Bragança apresenta sempre a mesma ficha técnica: proprietário e diretor político, Alberto Charula; redator, dr. Abel Aníbal de Azevedo; editor, Francisco da Encarnação Rodrigues; administrador, Carlos de Almeida; Tipografia, Praça da Sé, Bragança. Não deixa de ser curioso o facto de o diretor do jornal ser considerado “diretor político”, ao mesmo tempo que se fala no editor. Isto significa que, na prática, o editor era o responsável executivo pela elaboração do jornal, embora a responsabilidade editorial, sobretudo em termos políticos, fosse do diretor, que era também o proprietário.
Primeira página do número 61 do Distrito de Bragança |
Para lá destas figuras, existia ainda a figura do redator, que era o verdadeiro autor da maior parte dos textos publicados, mas sobretudo dos textos informativos.
Na ficha técnica, aparecia o lema do jornal, que definia a sua natureza e, ao mesmo tempo, um pouco da sua estrutura editorial. O Distrito de Bragança afirmava-se “semanário político, literário e noticioso”. Ao lê-lo, porém, constatamos que era muito mais político que noticioso e literário.
Na época, o caráter político-partidário de um jornal não era considerado depreciativo para a qualidade do mesmo, como agora acontece. Nos dias de hoje, qualquer jornal rejeita a mínima conotação político-partidária para que os leitores não ponham em causa a sua isenção e objetividade informativa. No início do século XX esse problema não se punha, até porque estes jornais, na sua grande maioria, visavam acima de tudo defender e apoiar a carreira política de algum dos seus responsáveis, como era o caso do Distrito de Bragança, ao serviço da carreira política de Alberto Charula, que começou como dirigente do Partido Regenerador, durante a Monarquia, e continuou como dirigente do Partido Democrático, na Primeira República. Em 1912, já era deputado do Partido Democrático, dirigido por Afonso Costa. Aliás, após a implantação da República, ele vai fundar e dirigir outro jornal em Bragança, o Notícias de Bragança, que será um paladino do Partido Democrático, como antes o Distrito de Bragança o fora do Partido Regenerador.
O Distrito de Bragança reservava a maior parte das suas primeiras páginas para artigos de fundo, em que, por vezes, um só artigo ocupava a página inteira. E o assunto, na maioria das vezes, era de natureza política.
A denúncia das práticas do Partido Progressista, quando este estava no poder, ou as «ferroadas» ao seu companheiro de partido, Abílio Beça, ou a defesa de Teixeira de Sousa e de Alberto Charula e seus apaniguados, eram os temas mais recorrentes da primeira página.
Mas o alvo das críticas do Distrito de Bragança não era apenas os adversários do partido concorrente.
O próprio companheiro de partido, Abílio Beça, na altura Governador Civil de Bragança, também merecia umas ferroadas acintosas, como se verifica, em 1904, em que até o nome do Abade de Baçal é de alguma forma atingido pela lama da crítica mesquinha.
No que diz respeito ao conteúdo informativo, no Distrito de Bragança é possível distinguir dois tipos de informação, uma mais importante, quase sempre dedicada à Família Real ou a algum assunto de maior importância relativo ao Distrito, como seja a construção da via-férrea entre o Pocinho e Miranda do Douro, e a pequena informação, normalmente nas segunda ou terceira páginas, referindo-se a factos ou efemérides menores, relacionados quase sempre com familiares, amigos ou correligionários dos responsáveis do jornal.
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