Se há serviço em que a qualidade não pode faltar este é, sem sombra de dúvidas, a saúde. Não raras vezes já tinha ouvido relatos inconcebíveis sobre o atendimento (ou falta dele) nas urgências em Bragança, com crianças. Se já me custava ouvir tamanha alarvidade pela gravidade do que era relatado, muito mais me custou viver, na primeira linha, numa mistura de sentimento de impotência - que qualquer Mãe sente quando estão em causa os seus Filhos e está de mãos e pés atados para fazer mais -, com revolta, pelo estado da saúde no Interior de Portugal. E, pergunto eu: quanto os relatos são tão constantes e convergentes, será que os digníssimos responsáveis não os ouvem, que optam por ignorá-los ou o que fazem para melhorar… não surte efeitos?
A ida às urgências pediátricas no Centro Hospitalar do Nordeste, EPE - Unidade Hospitalar de Bragança (que referirei sinteticamente por Hospital de Bragança) começa por uma sala de espera onde estão três brinquedos para as crianças - como em todos os hospitais com ala pediátrica que conheço - mas com o pormenor de todos eles estarem gravemente danificados, colocando inclusivamente em risco a saúde das crianças. Isto para não falar da limpeza do local…
Depois de imenso tempo de espera sem haver mais ninguém na sala ou qualquer informação (e importa referir que fomos à urgência encaminhados pela saúde 24), somos atendidos por um médico de clínica geral que, quando entende necessário, encaminha o caso para um pediatra, sendo que supostamente está um 24h/dia de vigia. Ainda que não concorde, e se a triagem funcionasse bem e fosse a criança devidamente atendida, poderia ser uma forma de gestão de recursos hospitalares. Mas não é isso que acontece. Ainda que acredite que nem sempre sucede o que connosco sucedeu, ser atendido por um médico que não responde às perguntas dos Pais, que tem uma postura omnipotente e que mal olha para a criança, está longe de cumprir os requisitos mínimos quando se trata de saúde.
Porque importa elogiar quem actua com brio e empenho profissional, referir que, pelo contrário, no piso da ala pediátrica, desde os auxiliares, à administrativa, passando pelos enfermeiros e terminando nos médicos pediatras, a dedicação, atenção e humanismo para com as crianças é total, como se entrássemos numa realidade paralela à, até então, vivenciada. Bem-hajam aqueles que, com os meios que possuem, dão o seu melhor e o fazem atendendo às particularidades de trabalhar com a saúde de crianças.
Bem podem os municípios do Interior apresentar os números mais atraentes que possuem, bem pode o Governo criar os incentivos que entender à fixação de novas famílias, bem podemos todos querer desenvolver novos projectos e potencialidades da região, que enquanto o baluarte do bem-estar – que é indubitavelmente a saúde – assim continuar, dificilmente conseguiremos ultrapassar o marasmo populacional.
Estamos a falar de cuidados hospitalares. Estamos a falar de uma realidade que é banalmente criticada em toda a região. Estamos a falar de crianças que são a prioridade das Famílias e o futuro do País. Peço a quem de Direito que olhe para o que está a acontecer e altere esta realidade, com a máxima brevidade, pelo interesse do próprio Centro Hospitalar do Nordeste, pelo Sistema Nacional de Saúde, pela nossa região, pela saúde das nossas Crianças. Por uma questão de acesso à saúde e igualdade, que segundo me lembro, são baluartes constitucionais do nosso País.
Ana Soares
in:diariodetrasosmontes.com
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