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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

NAU CATRINETA


Lá vem a nau Catrineta
Que tem muito que contar.
Ouvi agora, senhores,
Uma história de pasmar.
Passava-se mais de ano e dia
Que iam na vetalta do mar.
Já não tinham que comer,
Já não tinham que manjar!
Deitaram solas de molho
Para o outro dia jantar.
Mas, a sola era tão rija,
Que não a puderam tragar.
Deitaram sortes à ventura
Qual se havia de matar.
Logo foi cair a sorte
No capitão-general.
- Sobe, sobe, marujinho,
Aquele mastro real.
Vê se vês terras de Espanha,
As praias de Portugal.
- Não vejo terras de Espanha
Nem praias de Portugal.
Vejo sete espadas nuas
Que estão para te matar.
- Acima, acima, gajeiro,
Acima ao topo real.
Olha se enxergas Espanha,
Areias de Portugal.
- Alvíssaras, capitão!
Meu capitão-general,
Já vejo terras de Espanha,
Areias de Portugal!
Mais enxergo três meninas,
Debaixo de um laranjal.
Uma sentada a coser,
Outra na roca a fiar.
A mais formosa de todas
Estava no meio a chorar.
- Todas três são minhas filhas.
Oh! Quem mas dera abraçar!
A mais formosa de todas
Contigo hei-de casar.
- A vossa filha não quero,
Que vos custou a criar.
- Dar-te-ei tanto dinheiro
Que o não possas contar.
- Não quero vosso dinheiro,
Pois vos custou a ganhar.
- Dou-te o meu cavalo branco
Que nunca houve outro igual.
- Guardai o vosso cavalo,
Que vos custou a ensinar.
- Dar-te-ei a Nau Catrineta
Para nela navegar.
- Não quero a Nau Catrineta
Que não a sei governar.
- Que queres tu, meu gajeiro.
Que alvíssaras te hei-de dar?
- Capitão, quero a tua alma
Para comigo a levar.
- Arrenego a ti, demónio,
Que me estavas a tentar.
A minha alma é só de Deus,
O corpo dou eu ao mar.
Tomou-o um anjo nos braços,
Não o deixou afogar.
Deu um estoiro o demónio.
Aclamaram vento e mar,
E à noite, a Nau Catrineta
Estava em terra a varar.

RECOLHA (1985) de Sebastião Agostinho Gonçalves, Gondesende – Bragança.

FICHA TÉCNICA:
Título: CANCIONEIRO TRANSMONTANO 2005
Autor do projecto: CHRYS CHRYSTELLO
Fotografia e design: LUÍS CANOTILHO
Pintura: HELENA CANOTILHO (capa e início dos capítulos)
Edição: SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE BRAGANÇA
Recolha de textos 2005: EDUARDO ALVES E SANDRA ROCHA
Recolha de textos 1985: BELARMINO AUGUSTO AFONSO
Edição de 1985: DELEGAÇÃO DA JUNTA CENTRAL DAS CASAS DO POVO DE
BRAGANÇA, ELEUTÉRIO ALVES e NARCISO GOMES
Transcrição musical 1985: ALBERTO ANÍBAL FERREIRA
Iimpressão e acabamento: ROCHA ARTES GRÁFICAS, V. N. GAIA

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