Na viragem do século XIX para o século XX, Portugal conheceu uma dramática conjuntura política, económica e financeira, marcada pela crise financeira de 1891-1892, por uma crescente debilidade da nossa economia, incapaz de concorrer nos mercados internacionais, e pelo fracionamento dos tradicionais partidos monárquicos, criando-se assim condições para a afirmação progressiva do Partido Republicano Português.
Tudo isto teve como consequência a baixa da cotação dos títulos de dívida pública, a desvalorização da moeda, a paralisação das obras públicas, a redução dos vencimentos da função pública, a proibição de novas admissões de trabalhadores no Estado, o aumento da dívida pública, uma drástica baixa do nível de vida, e o crescimento da emigração, que não mais parou de aumentar até inícios da Primeira Guerra Mundial em 1914.
Entre 1891 e 1910, no Município de Bragança, apenas temos conhecimento de dois incidentes populares e um conflito: um confronto em Quintela de Lampaças, a 2 de janeiro de 1896, entre a população e uma força do regimento de Caçadores de Bragança, a qual, em busca de agitadores republicanos, entrou nesta povoação “desordenadamente e em arruada, proferindo insultos e arruaças às pessoas que encontravam e dirigindo palavras desonestas às mulheres”; um incidente em Bragança a 16 de junho de 1901, com o bispo, que quis terminar com o antigo costume de, nas procissões da Cidade, se incorporarem os andores dos povos das freguesias do Município, cuja notícia que transcrevemos é, cremos, suficientemente explicativa; e um episódio de indisciplina eclesiástica no Seminário de Bragança, que acabou por assumir uma configuração política e dimensão nacional.
Relativamente ao célebre Motim do Seminário, que ocorreu em 1904 e que dividiu fortemente a população de Bragança, na noite de 13 de dezembro de 1904, os alunos internos do Seminário de Bragança amotinaram-se disparando armas de fogo, arrombando e destruindo portas e mobiliário e quebrando os candeeiros de iluminação, não conseguindo, porém, apanhar os prefeitos e o vice-reitor, contra os quais se dirigia o levantamento.
As acusações de um jornal de Viana do Castelo contra os bragançanos, designados como “judeus”, levaram os jornais da Cidade, Distrito de Bragança e Gazeta de Bragança, a repelir a afronta, mas O Nordeste, periódico progressista, iniciou uma campanha insultuosa contra o bispo de Bragança, D. José Alves de Mariz, que teve repercussões nacionais, levando o bispo de Bragança a retirar-se da Diocese, ainda em 1904. A questão, todavia, só iria terminar em junho de 1906.
A publicação do edital-sentença do prelado em 23 de janeiro de 1905, expulsando perpetuamente do Seminário numerosos alunos, desencadeia uma violenta campanha contra José Alves de Mariz e contra aqueles que o apoiavam. O bispo, pressionado pelo Governo e pela hierarquia da Igreja, cede um pouco, declarando-se disposto a readmitir os seminaristas que demonstrassem o seu arrependimento e a reabrir o Seminário, que se encontrava encerrado desde 17 de fevereiro de 1905.
O ministro dos Negócios Eclesiásticos publica uma portaria referente a tais acontecimentos, extravasando os seus poderes, enquanto os alunos do Seminário continuavam a dar provas de indisciplina, nomeadamente nos exames, em junho de 1905.
D. José Alves Mariz só regressou a Bragança em 5 de abril de 1906, após a queda do Governo progressista de José Luciano de Castro, substituído pelo Ministério regenerador de Hintze Ribeiro em 20 de março, e a nomeação de um novo Governador Civil de Bragança. Um mês mais tarde, O Nordeste encerrou a sua campanha contra o prelado.
Título: Bragança na Época Contemporânea (1820-2012)
Edição: Câmara Municipal de Bragança
Investigação: CEPESE – Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade
Coordenação: Fernando de Sousa
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