São Paulo (Brasil)
(colaborador do Memórias...e outras coisas)
Era pleno verão, mês de Dezembro. Na Fazenda São José, região de Ribeirão Preto, Brasil, faz um calor medonho. Eu e mais uns quinze garotos havíamos ido jogar futebol, naquele domingo lindo, na Fazenda Santa Olímpia. Apesar do nosso “técnico” João Domingos, que como sempre deu sua mancada, vencemos por 7x1, com seis gols de Mané Barrinha e um meu (o que me encheu de alegria), visto ser o mais novo entre todos e dois anos menos que o Nelson, meu irmão, que jogava muito melhor que eu.
Naquele tempo, para nós irmos jogar na Fazenda Santa Olímpia não era só percorrer os quinze quilômetros de estrada de terra batida, subindo um morro enorme, mas também tínhamos planejado alguns detalhes, tais como na volta, passar no pomar do Dito do Retiro, que ficava ao pé do morro, para comer mangas e descansar, na ida e na volta O João Domingos, senhor baiano, cantador, lutador de capoeira, reizeiro, benzedor e contador de estórias ira conosco para “ninguém bulir com os meninos”, resolveu convocar o Dito do Retiro na passagem por sua casa. O que destoou é que na volta, nós a pé e o Dito a cavalo, foi o fato de o João Domingos mandar o Dito na frente, com ordem pra mãe dele preparar café e queijo para o time inteiro. Quase morremos de vergonha; embora a Dona Maria bondosamente tivesse feito um bule de três litros de café e deixou seis queijos na mesa, aos quais devoramos em poucos minutos, com vergonha ou não.
Despedimo-nos do Dito, e ao aproximarmos da fazenda, vi numa goiabeira (das vermelhas), uma enorme goiaba temporona.
Não disse nada a ninguém e saí correndo, e tão logo cheguei ao tronco, já comecei a subir. Os outros meninos também viram a goiaba e começaram a atirar pedras. E não é que uma pedrada atirada pelo nosso artilheiro Mané Barrinha me acertou bem no alto da cabeça? E não é só, em meio ao meu grito de dor, com a molecada subindo ao mesmo tempo na goiabeira, fez-se uma algazarra dos diabos; e eu, todo ensanguentado descia, sem a bendita goiaba. Nesse interim, enquanto ali estávamos, meu tio Jair, que havia saído para caçar umas pombas “amargosas”, deu um tiro! Minha mãe, ouvindo os gritos, a algazarra e o tiro, saiu para espiar e da janela da cozinha me viu com a cabeça ensanguentada.
Então ela começou a gritar:
- Jair, Jair, o que você fez com meu filho?
Meu tio Jair sem entender nada foi ver o motivo da gritaria da molecada com a espingarda na mão. Minha mãe deu-lhe uns tapas na cara, pois pensava que ele havia atirado em mim, para a diversão da molecada e para espanto meu e do meu tio.
Felizmente não foi nada sério, e na farmácia rural conseguiram fazer um curativo satisfatório, que hoje passados cinquenta e tantos anos, só resta uma pequena cicatriz na minha cabeça, e muitas lembranças.
Antônio Carlos Affonso dos Santos – ACAS. É natural de Cravinhos-SP. É Físico, poeta e contista. Tem textos publicados em 8 livros, sendo 4 “solos e entre eles, o Pequeno Dicionário de Caipirês e o livro infantil “A Sementinha” além de quatro outros publicados em antologias junto a outros escritores.
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