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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 8 de novembro de 2019

"Espanha esquecida" pede mais gente e trabalho para o interior despovoado

Mais investimentos, gente e trabalho, são estes os pedidos de San Martín del Pedroso, uma aldeia que parece esquecida pelos políticos "que vêm pouco aos povos pequenos", lamentam os moradores.

San Martín del Pedroso é a primeira localidade espanhola no outro lado da fronteira de Quintanilha onde os pedidos para as eleições de domingo são mais gente e trabalho num povo invadido pelo silêncio e vazio do despovoamento.

Serão “30 ou 40” os que vivem no buraco moldado pela natureza onde está encaixada a aldeia e que ficou mais fundo depois de os portugueses terem construído a autoestrada A4 e a nova ponte internacional sobre o rio Maças, que desviou o trânsito da nacional espanhola 122, que atravessa a localidade.

Encontrar gente é, como constatou a reportagem da Lusa, o mais difícil neste povoado de Espanha separado de Portugal pelo rio Maças, e que partilha com as aldeias portuguesas que o rodeiam o envelhecimento e despovoamento.

A presença de estranhos desperta a atenção de duas mulheres que espreitam à porta e se afastam mal avistam uma câmara, desculpando-se com a falta de tempo numa localidade onde a única que corre é a carteira a distribuir o correio do dia.

Na correspondência sobressaem cartas de propaganda política a apelarem ao voto nas eleições de domingo em Espanha. Se vai votar ou não, “depende de como estiver o dia” e nada mais diz a carteira. As eleições são importantes e vai votar no domingo, “mas não há tempo para estar atenta” diz também Montserrat Blanco, das mais novas a viver permanentemente no povoado.


Aqui nos povos espanhóis vivem-se menos as eleições do que em Portugal. Em Portugal nota-se mais ambiente, mais carros e festas e coisas e aqui não se vive tanto. Os políticos vêm pouco aos povos pequenos”, disse à Lusa.

Políticos nacionais nunca viu por ali, mas se pudesse fazer um pedido a quem decide os destinos do país, Montserrat “pedia trabalho próximo para que as pessoas não vão embora porque os poucos que há têm de ir-se embora”. Ela vai e vem todos os dias para o trabalho, nas bombas de Sejas de Aliste, onde os portugueses vão abastecer gasolina por ser mais barata.


Tem uma filha pequena que tem de ir à escola a Alcañices, alguns quilómetros mais à frente, num autocarro que vai “quase vazio porque não há crianças nestes povos“. Em San Martin há três crianças que têm um parque infantil e um campo de futebol.

Antes de construírem a ponte da autoestrada portuguesa, a localidade era mais movimentada. Tinha “dois comércios, quatro bares e agora nada”. No lugar de uma das lojas onde ainda há poucos anos portugueses e espanhóis faziam compras, há agora letreiros de um clube chamado “Lisboa” associado à diversão noturna com mulheres. A poucos metros está o Centro de Cooperação Policial e Aduaneira de Quintanilha, com polícias portuguesas e espanholas e, entre os dois, um café fechado por volta da hora de almoço com um maço de cartas de propaganda política encaixado na porta.

No centro do povo vive a portuguesa Maria da Graça, a quem a velhice levou para junto do neto emigrado e casado em Espanha. É de São Julião, aldeia do concelho de Bragança, “uma aldeia grande”, como fez questão de vincar, mas parecida com San Martin del Pedroso. “É como aqui, está tudo para o estrangeiro. Está a mesma coisa. Agora não há trabalho para ninguém”, sustentou.

Tal como nas aldeias portuguesas, também neste povoado espanhol o verão é sinónimo de mais gente com o regresso dos que estão fora para férias.

Santiago Ribas Garcia está reformado e divide agora o tempo entre San Martin e Madrid, a 350 quilómetros. Todas as eleições são importantes, como defendeu, porém estes povos estão mais virados para a proximidade dos ayuntamientos (as autarquias locais espanholas), províncias, diputaciones e as próprias regiões, num sistema de regionalização que não existe em Portugal.


Nós dependemos da comunidade autónoma de Castela e Leão e esses são os que distribuem depois dinheiro pelas províncias e cada província tem a sua autónoma, as diputaciones, que distribuem o dinheiro pelos povos. O que lhes cabem até dão, normalmente, não temos razão de queixa”, explicou à Lusa.

Aos 90 anos, a reforma é mais do que suficiente para a mãe, Cármen Gago, que já não pede nada aos políticos, enquanto o filho gostaria que mais gente se instalasse nestas regiões, apesar de reconhecer que “é difícil, mesmo para a agricultura é preciso fazer investimentos grandes”.

A casa da família fica junto à estrada nacional que perdeu o trânsito com a nova ponte internacional e lhes tirou o supermercado ali perto “que tinha tudo”. Agora têm de ir às compras a Travassos ou Alcañices e também a Bragança, porque a cidade portuguesa tem tudo, “e fica a um quarto de hora”. Cármen vai a Travassos, no domingo, mas para votar como os habitantes de cinco povoados que fazem todos parte do mesmo município.

O filho já votou por correspondência e o neto, de nome também Santiago, antevê que “irá haver menos participação” nestas eleições. “Estamos um pouco cansados. Tivemos muitas eleições este ano, entre as gerais e das comunidades autónomas e a verdade é que estamos um pouco desanimados”, afirmou.

Santiago vive em Madrid e está de férias em San Martin, onde, à semelhança de outras pequenas localidades espanholas, “interessa mais a política local porque é a que contribui mais para a melhoria dos povos”. Povoados que, como observou, são a “Espanha olvidada (esquecida)” que já foi lema de outras campanhas, mas que continua a perder gente e serviços, como o médico que agora lhes querem tirar.

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