Grifo-de-rüppell (indivíduo em primeiro plano). Fotografia Palombar. |
De acordo com dados do portal Aves de Portugal (avesdeportugal.info/gyprue.html), até final de 2009, foram homologadas 13 observações desta espécie. Posteriormente àquela data, foram registadas outras observações, sendo a última no período de 7 a 25 de novembro de 2015, na Península de Sagres, também de acordo com informação daquele portal.
“O facto de haver diversas observações de aves desta espécie a cruzar o estreito de Gibraltar permite supor que as aves observadas em Portugal sejam de origem selvagem”, destaca o portal Aves de Portugal.
A Palombar confirmou que se tratava de um indivíduo da espécie Gyps rueppellii, tendo também consultado outros especialistas em abutres, que deram igualmente um parecer afirmativo, corroborando que, de facto, se trata de um grifo-de-rüppell.
Segundo referem vários especialistas, devido às alterações climáticas e à progressiva ‘africanização’ do clima na Península Ibérica, muitas espécies de aves africanas parecem estar a colonizar este território, incluindo alguns abutres. Recentemente, a Andaluzia, em Espanha, adicionou o grifo-de-rüppell à sua lista de aves necrófagas (medioambienteand.wordpress.com/2019/08/28/el-buitre-moteado-se-instala-en-andalucia).
Os especialistas também destacam que a presença do grifo-de-rüppell na Andaluzia deverá ser fruto de movimentos dispersivos de grifos europeus juvenis, sobretudo de Espanha, que atravessam o Estreito de Gibraltar rumo à África. Aparentemente, indivíduos da espécie africana, quando estão a sobrevoar os céus, juntam-se a bandos de grifos europeus e viajam com estes de volta à Espanha, através do Estreito de Gibraltar, onde a observação da espécie é especialmente frequente, tanto de um lado, como do outro do Estreito.
A Europa poderá, desta forma, passar a ter uma quinta espécie de abutre ameaçada globalmente no seu território, além do grifo (Gyps fulvus), do abutre-preto (Aegypius monachus), do britango (Neophron percnopterus) e do quebra-ossos (Gypaetus barbatus). Apesar de ainda não existirem registos definitivos que comprovem a ocorrência de reprodução dessa espécie na Europa, o grifo-de-rüppell tem sido avistado com cada vez mais frequência na Península Ibérica.
Grifo-de-rüppell (indivíduo em primeiro plano). Fotografia Palombar. |
O grifo-de-rüppell (Gyps rueppellii) é uma espécie de abutre oriunda do continente africano. Encontra-se principalmente na África central e habita sobretudo na savana aberta e árida, em áreas semi-desérticas e zonas limites do deserto, e ainda em zonas de montanha.
É muito semelhante ao grifo (Gyps fulvus), mas diferencia-se deste por ser um pouco mais pequeno, ter a pele mais escura e a plumagem salpicada de orlas brancas ou beges. A sua cabeça e pescoço são quase nus e o bico é amarelado. Apresenta um tufo de penas brancas ao redor da base do pescoço, corpo preto ou castanho-cinza mosqueado. O macho e a fêmea são muito semelhantes.
Mesmo entre os abutres do ‘Velho Mundo’, os grifos-de-rüppell registam várias adaptações biológicas para a sua dieta, que fazem com que sejam exímios consumidores de carcaças. Tem um bico especialmente robusto e a sua língua apresenta uma forma especial que auxilia na remoção da carne dos ossos.
É uma espécie muito sociável e normalmente reúne-se em grandes bandos para repousar, nidificar ou se alimentar. Normalmente nidifica em falésias elevadas e constrói um ninho com grandes dimensões. Habitualmente é o macho quem faz o ninho, enquanto a fêmea transporta materiais para este, podendo ir roubá-los a outros ninhos. É posto apenas um ovo por período reprodutivo, o qual é incubado pelos dois progenitores, que partilham os cuidados com a cria depois desta nascer.
Campos de Alimentação para Aves Necrófagas: qual a sua importância?
Os CAAN são fundamentais para assegurar a conservação de espécies de aves com hábitos alimentares necrófagos. Todas as espécies de aves necrófagas registadas em Portugal estão legalmente protegidas e, a grande maioria, apresenta um estatuto de conservação delicado.
Uma das principais ameaças que enfrentam estas aves é a falta de disponibilidade de alimento, a qual foi agravada com a chamada crise das ‘Vacas Loucas’, que levou a que as carcaças de gado (a principal fonte de alimento para os abutres) não pudessem mais ficar no campo.
Os CAAN surgem exatamente para fazer face a esta ameaça e aumentar a quantidade de alimentos disponíveis para estas espécies, sobretudo no período reprodutivo, quando há uma maior exigência energética não só por parte das progenitoras, como também das crias após o nascimento.
Além dos CAAN, a Palombar também desenvolveu estruturas móveis de alimentação para aves necrófagas que permitem dar uma resposta mais rápida e localizada às necessidades alimentares das espécies no território.
Aproveitando as recentes alterações na legislação portuguesa, a associação tem vindo igualmente a trabalhar na implementação de áreas não vedadas para alimentação de aves necrófagas, uma abordagem que favorece o fornecimento de alimento adicional de uma forma natural, não previsível e com maiores benefícios para as espécies e para os seus hábitos de prospeção de alimento.
Projetos e investigação científica
Nos últimos anos, a Palombar tem desenvolvido e/ou participado em vários projetos de conservação de aves necrófagas e de investigação científica sobre estas espécies. O projeto ‘LIFE Rupis conservação do britango e da águia-perdigueira no vale do rio Douro' (rupis.pt) e o projeto ‘ConnectNatura - Reforço da Rede de Campos de Alimentação para Aves Necrófagas e Criação de Condições de Conectividade entre Áreas da Rede Natura 2000' (connectnatura.pt) são dois deles. A associação tem também realizado trabalhos de investigação científica na área da conservação das aves necrófagas e da perceção social sobre estas espécies, os quais já foram apresentados em congressos e seminários nacionais e internacionais.
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