(colaborador do Memórias...e outras coisas...)
Nos épicos anos de setenta e oitenta, viagens com mais de cem quilómetros eram planeadas, tendo em conta o restaurante onde se haveria de parar não só para descansar, mas também para almoçar, jantar ou só merendar. Ficavam à beira da estrada e eram sobejamente conhecidos. Havia-os que se especializavam em comidas rápidas para os mais apressados ou para ainda ter uma refeição, fora de horas, para os mais noctívagos. Alguns deles abriam e fechavam de madrugada. Já não há. Desapareceram. Por “culpa” das auto-estradas e das vias rápidas. Já não fazem grande falta aos viajantes, o que não quer dizer que não se sinta saudades deles. Mas os viajantes, sim, fazem falta à economia local dos lugares remotos onde essas unidades se haviam instalado. O progresso não tem só benefícios. Também tem custos!
Quando fui Presidente da Assembleia Municipal de Torre de Moncorvo, surpreendeu-me o voto contra de um Deputado Municipal, a propósito de uma moção que reclamava o atraso na conclusão do IP2 que, na parte sul do Vale da Vilariça, continua por acabar. Surpreendeu-me duplamente. Pela qualidade do voto, impedindo a unanimidade, mas sobretudo pela justificação. Dizia, se a memória não me atraiçoa, que a estrada que liga a Junqueira à nova ponte do Sabor está em boas condições, tem poucas curvas e serve melhor os agricultores da Vilariça, porque permite entradas e saídas em toda a sua extensão. Pode não ter toda a razão, mas não está totalmente errado. Curiosamente, na Quinta da Terrincha persiste o único Restaurante de Estrada de toda a IP2, desde Macedo até à Guarda. Será o motivo apresentado pelo Deputado razão válida, do ponto de vista local, para impedir ou atrasar a conclusão da via rápida? Não sei. Uma solução intermédia, era o ideal!
“Pois era, mas isso não há!”, dirão!
Para o IP2 e para quem viaja em carro próprio, não. Mas para o transporte de Mercadorias e para quem não usa a sua viatura, há! A FERROVIA!
A ferrovia permite que no mesmo canal sigam, sem se perturbarem em demasia, comboios rápidos, diretos, com enormes tonelagens de carga e igualmente comboios lentos, dos que param em todas as estações e daqueles que se destinam, exclusivamente, a fins turísticos.
Um camionista que saia do porto, de madrugada, por exigência da urgência da entrega da carga em França do seu camião TIR, provavelmente irá tomar café numa estação de serviço perto de Mirandela, almoçará em León, talvez lanche em Vitória, mas já vai jantar e dormir nas proximidades de Biarritz. A sua “pegada” económica, na península é mínima.
O comboio pode levar, numa noite, vários camiões de carga, mantendo ao longo do seu trajeto, dezenas de estações, com muitos empregos e operações comerciais, sem prejudicar a rapidez, com maior segurança e menores custos ambientais, que agora tanto “preocupam” os governantes!
José Mário Leite, Nasceu na Junqueira da Vilariça, Torre de Moncorvo, estudou em Bragança e no Porto e casou em Brunhoso, Mogadouro.
Colaborador regular de jornais e revistas do nordeste, (Voz do Nordeste, Mensageiro de Bragança, MAS, Nordeste e CEPIHS) publicou Cravo na Boca (Teatro), Pedra Flor (Poesia) e A Morte de Germano Trancoso (Romance) tendo sido coautor nas seguintes antologias; Terra de Duas Línguas I e II; 40 Poetas Transmontanos de Hoje; Liderança, Desenvolvimento Empresarial; Gestão de Talentos (a editar brevemente).
Foi Administrador Delegado da Associação de Municípios da Terra Quente Transmontana, vereador na Câmara e Presidente da Assembleia Municipal de Torre de Moncorvo.
Foi vice-presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes.
É Diretor-Adjunto na Fundação Calouste Gulbenkian, Gestor de Ciência e Consultor do Conselho de Administração na Fundação Champalimaud.
É membro da Direção do PEN Clube Português.
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