Dois jovens enólogos, ao contrário do que dita a tendência, acreditaram que o futuro podia passar pelo interior e fixaram-se na aldeia de Bemposta, no concelho de Mogadouro. Os transmontanos estão, desde 2017, a explorar vinhas velhas, cujos proprietários já não conseguem tratar. Frederico Machado, apesar de ali ter família, não fazia da localidade a sua residência, assim como o sócio, Ricardo Alves, natural de Bragança. Com 27 anos, o jovem brigantino conta que descobriram o potencial do território em visita à aldeia e que o abandono das vinhas retrata a realidade da região.
“As vinhas que nós lavramos são arrendadas de agricultores locais, é sempre uma consequência da realidade que é a mesma para toda a região. Fazemos nós a produção”, afirmou.
Os sócios exploram cerca de dez hectares, divididos em 15 parcelas, e apostaram na criação de um vinho elegante, que remete para o que será o tradicional do planalto mirandês.
“A nossa filosofia de vinificação é sempre fazer um vinho leve, equilibrado, sem grande extração. Pecou-se muito nesta zona por querer copiar o Douro, com as castas do Douro, com níveis altos de álcool, o tradicional no planalto mirandês nunca foram vinhos muito pesados”, mas sim “os palhetes, mais elegantes mais leves”, referiu.
O “saroto”, uma expressão tradicional em Bemposta, é o que se chama a um lagarto com a ponta do rabo cortada. Os jovens deram agora outra dimensão à palavra, já que o bicho empresta nome ao vinho. “A ideia do nome foi para ilustrar o corte de certas práticas na vinha, como o uso excessivo de herbicidas e fertilizantes químicos e o retorno de práticas tradicionais de lavoura da vinha, a lavoura animal, a escava, a plicação de compostos orgânicos, de estrume”, afirmou.
Os dois sócios já passaram por países como a Austrália, Alemanha, Estados Unidos, França e Espanha, onde adquiriram conhecimentos que agora aplicam em Portugal. Tendo em conta que a exportação já é uma realidade para o “Saroto”, um dos próximos desafios será dar vida a mais vinhas na localidade.
Os jovens enólogos transmontanos renderam-se à pacatez do interior onde produzem os tradicionais palhetes do planalto mirandês.
Escrito por Brigantia
Jornalista: Carina Alves
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