Por: José Mário Leite
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)
A terceira dose da vacina contra a Covid19 é já uma realidade, pelo menos para uma parte da população portuguesa. Ainda bem. Há de chegar aos restantes. Contudo, quando tal aplicação era apenas uma hipótese, houve logo quem, a partir da extrema esquerda, viesse “denunciar” que tal hipótese, a concretizar-se, era uma oportunidade de geração de lucros avultados pela parte das farmacêuticas. Provavelmente sim. E então?
As grandes obras públicas, tão do agrado de algumas correntes ideológicas, nomeadamente na construção de infraestruturas, traz, igual e naturalmente, lucros, muitas vezes significativos, para o ramo da construção civil. Ora isso não incomoda a vanguarda política da esquerda. O que é estranho. Porque, reclamando-se, tantas vezes, paladinos dos valores sociais e justos, deveriam saber bem que os níveis de corrupção e compadrio são muito maiores e mais frequentes entre os que usam mão-de-obra barata e pouco qualificada a movimentar terras e cimento do que os que, nem sempre pagos adequadamente, são altamente especializados a manipularem pipetas, placas de petri e máquinas de PCR.
É sabido que a palavra lucro, apesar de seletivamente, como acabei de demonstrar, causa uma “natural” alergia em certos grupos ideológicos. O lucro é bom. E, se justificado e justo, quanto mais melhor. É nele que reside a primeira condição para o aumento salarial dos trabalhadores que essa elite jura representar, mas também para o aumento do conforto, progresso e bem-estar das populações.
Alguém duvida que se não fosse a perspetiva de elevados lucros para as empresas farmacêuticas, a vacina contra a Covid19 teria surgido em tempo record? Curiosamente, foi anunciada, esta semana, a primeira vacina contra a Malária. Que é uma doença que mata MEIO- -MILHÃO de pessoas, todos os anos, a maioria crianças. É verdade que a luta contra um vírus é mais “simples” do que contra um parasita, muito mais complexo e com vários e complexos ciclos de vida. Mas também é sabido que a perspetiva de baixos lucros, por pertencer ao conjunto de doenças da pobreza, não teve nunca investimentos que se comparassem aos que foram disponibilizados para a pandemia deste século. Ironicamente, os maiores investimentos na investigação e desenvolvimento de vacinas e medicamentos de combate à Malária vieram... da Fundação criada por Bill Gates um dos alvos preferidos da ideologia do proletariado que nele vê a face do capitalismo que tem como dever maior que tudo, combater. Obviamente que a inoculação da terceira dose não pode comprometer o necessário e urgente alargamento das primeiras ao resto do mundo. Nisto, é necessário, igualmente, desfazer um equívoco.
A extensão a África das vacinas não se concretiza, eficazmente, com doações de cedências. Para ser efetiva têm de ser construídas e operacionalizadas fábricas que as possam produzir, localmente. E essa é uma decisão das farmacêuticas que, obviamente, a tomarão em função da rentabilidade que possam obter. Quanto maiores forem os lucros, mais facilmente tomarão tal decisão.
Venha pois a terceira dose e que dela resultem lucros ajustados, mas consideráveis, para as empresas que as fabricam e comercializam.
José Mário Leite, Nasceu na Junqueira da Vilariça, Torre de Moncorvo, estudou em Bragança e no Porto e casou em Brunhoso, Mogadouro.
Colaborador regular de jornais e revistas do nordeste, (Voz do Nordeste, Mensageiro de Bragança, MAS, Nordeste e CEPIHS) publicou Cravo na Boca (Teatro), Pedra Flor (Poesia) e A Morte de Germano Trancoso (Romance) tendo sido coautor nas seguintes antologias; Terra de Duas Línguas I e II; 40 Poetas Transmontanos de Hoje; Liderança, Desenvolvimento Empresarial; Gestão de Talentos (a editar brevemente).
Foi Administrador Delegado da Associação de Municípios da Terra Quente Transmontana, vereador na Câmara e Presidente da Assembleia Municipal de Torre de Moncorvo.
Foi vice-presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes.
É Diretor-Adjunto na Fundação Calouste Gulbenkian, Gestor de Ciência e Consultor do Conselho de Administração na Fundação Champalimaud.
É membro da Direção do PEN Clube Português.
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