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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 23 de outubro de 2021

O que procurar no Outono: o pinheiro-manso

 O pinheiro-manso é uma daquelas árvores que facilmente se consegue identificar, por isso, aproveite os dias de outono para procurar mais uma bela e encantada árvore nativa. Se estiver calor, aproveite a sombra da sua copa em forma de chapéu-de-sol; mas se chover, abrigue-se sob o seu chapéu-de-chuva.

Pinheiro-manso (Pinus pinea). Foto: Jebulon/WikiCommons

As árvores são fundamentais para a vida da Terra. Têm uma elevada importância ecológica, pois são organismos eficazes para o equilíbrio dos ecossistemas. Fornecem sombra, ajudam a equilibrar a temperatura ambiente e a manter a qualidade e a humidade do ar, são fundamentais para a proteção dos solos.

São também muito importantes para muitas espécies de seres vivos, nomeadamente outras plantas, fungos, líquenes e animais, servindo de habitat e de fonte de alimento.

A economia de muitas regiões também depende de muitos recursos que delas se consegue obter. A madeira, o fruto, o carvão, as flores são matérias-primas essenciais para o dia-a-dia do ser humano. Algumas árvores têm também um grande valor paisagístico e ornamental que valorizam os espaços onde se encontram.

E, nesta época, em que o frio se começa a aproximar, é habitual a procura de lenha e de pinhas para aquecer a casa. Mas não nos podemos esquecer que as árvores são muito mais do que um recurso para o homem. São verdadeiros monumentos vivos que devem ser preservados para garantir a sua sustentabilidade e naturalmente a vida na Terra.

O pinheiro-manso (Pinus pinea) é uma espécie florestal de aparência distinta e muito elegante, de grande valor paisagístico, ornamental e económico. É amplamente conhecido pelas suas sementes comestíveis – os pinhões – e por possuir uma copa com aparência de guarda-sol.

O pinheiro-manso

O pinheiro-manso é uma espécie resinosa da família Pinaceae, de crescimento lento, e que pode viver até aos 300 anos de idade, tendo já sido identificados alguns exemplares com 400 a 500.

É uma árvore que pode crescer até 25 metros de altura, podendo muito excepcionalmente chegar a atingir os 50 metros. Possui tronco direito e robusto, casca castanho-avermelhada e espessa, e forma copas densas e amplas. Os indivíduos jovens possuem formas arredondadas; no entanto, com a idade desenvolvem copas mais largas que parecem um chapéu-de-sol.

As folhas são persistentes, aciculares (em forma de agulha), agrupadas aos pares, ligeiramente torcidas, muito firmes e flexíveis. Possuem cor verde-acinzentada brilhante e persistem na árvore três a quatro anos, renovando-se sem que a árvore fique despida.

Como é uma espécie monóica, as flores, masculinas e femininas, crescem na mesma árvore. A floração ocorre na primavera, entre os meses de março a maio, mas muitas vezes as flores passam completamente despercebidas. São muito pequenas, dispostas em inflorescências na extremidade dos ramos do ano. As flores masculinas têm cor amarela e as femininas são verdes.

As pinhas ou cones são grandes, solitárias ou agrupadas em conjuntos de 2 a 3 pinhas, com forma ovóide, verdes quando novas, tornando-se castanho-avermelhadas na maturação. O período de maturação das pinhas é muito longo, demorando três anos após a fertilização dos óvulos.

Foto: Luis Fernández García/WikiCommons

Estas pinhas são revestidas por escamas que protegem a semente – o pinhão – que cai no outono do terceiro ano ou na primavera do quarto ano. Sob cada escama encontram-se geralmente dois pinhões ovóides, com 1,5 a 2 cm de comprimento, com asa alada e pequena e com uma cobertura externa lenhosa, rígida e espessa que protege a semente.

As primeiras pinhas começam a surgir por volta dos 3 a 4 anos de idade, no entanto a frutificação é mais abundante entre os 15 e os 20 anos, aumentando a produção até cerca dos 40 a 50 anos.

O pinheiro-manso possui um sistema radicular muito extenso, ocupando uma área de cerca de 8 a 52 vezes maior que a área de projeção horizontal da copa.

A designação científica desta espécie deve-se à presença dos frutos e sementes que esta árvore produz. O nome do género Pinus é o nome clássico, em latim, dado ao Pinheiro. O restritivo específico – pinea – refere-se ao nome latino das pinhas, alusivo aos pinhões comestíveis – nux pinea, logo, Pinus pinea é o nome dado ao pinheiro que produz pinhas, com pinhões comestíveis.

Espécie nativa e resistente

O Pinus pinea é uma espécie nativa das áreas costeiras do Mediterrâneo, desde o sul da Europa até à Ásia Ocidental, em países como Portugal, Espanha, França, Itália, Grécia, Albânia, Turquia, Chipre e Líbano.

Em Portugal surge um pouco por todo o território, sendo mais dominante a sul do rio Tejo, principalmente nos distritos de Setúbal, Évora e Faro.

Foto: Gian Carlo Dessi/WikiCommons

Pode encontrar-se em dunas e planícies costeiras e também nas encostas mais baixas de colinas e montanhas de baixa altitude, misturado naturalmente com o pinheiro-bravo, a azinheira, o sobreiro e outros carvalhos, além dos povoamentos puros desta espécie ou em combinação com outras espécies arbustivas, como estevas, tojos, entre outras.

O pinheiro-manso é uma árvore heliófila, que requer exposição solar plena e um clima quente. É capaz de suportar temperaturas muito elevadas, até aos 41º, e é muito resistente à seca, podendo tolerar períodos de seca prolongada. As temperaturas inferiores a 12º, por períodos prolongados, podem provocar problemas no seu desenvolvimento.

Não é muito exigente ao tipo de solo, podendo crescer em terrenos pobres, onde é uma excelente espécie pioneira. Tem preferência por solos ácidos, profundos, leves e soltos, bem drenados, sejam arenosos, graníticos ou siliciosos.

Possui grande resistência ao vento, no entanto não é tolerante a períodos prolongados de geadas, nem ao excesso de água no solo.

Árvore elegante, de grande valor paisagístico

O pinheiro-manso é uma espécie muito importante do ponto de vista ecológico. Devido às suas características, à grande adaptabilidade e rusticidade, é considerada uma espécie pioneira de outras, uma vez que é capaz de estabelecer condições favoráveis ao desenvolvimento e reaparecimento de espécies mais exigentes, como o sobreiro e a azinheira.

Esta árvore tem uma relevante ação protetora dos solos, sobretudo terrenos arenosos, contribuindo para a fixação das dunas costeiras e diminuindo o risco de erosão, além de permitir obter rendimento florestal em terrenos pouco férteis.

Foto: Dubas/WikiCommons

É uma espécie resistente à poluição urbana e, por possuir uma casca grossa e uma copa ampla afastada do solo, apresenta uma elevada resistência à passagem do fogo.

O pinheiro-manso é um excelente refúgio da vida selvagem e uma fonte de alimento fundamental para aves e roedores, que se alimentam das suas sementes e simultaneamente ajudam à sua dispersão.

A elegância e aparência distinta do pinheiro-manso tornam-no uma árvore com grande valor ornamental e paisagístico. A forma única da sua copa, semelhante a um guarda-sol, projeta uma sombra densa e agradável, apreciada em qualquer parque ou jardim.

Pinhas e pinhões

O pinheiro-manso é uma espécie florestal de excelência, sendo cultivado essencialmente pelo elevado valor económico da semente – o pinhão.

O processo de extração do pinhão é lento, complexo e demorado, o que contribui para o valor elevado desta iguaria nacional. De um quilo de pinhas pode extrair-se entre 15 a 45 gramas de pinhões e o preço de um quilo de pinhão pode rondar os 100 euros.

O pinhão possui um sabor muito característico, entre o resinoso e o adocicado, sendo muito apreciado em gastronomia, seja através do consumo direto ou como ingrediente das mais variadas receitas, em pratos de carne, peixe, vegetais, massas, doces, enchidos e chocolate. Com um elevado valor nutricional, rico em nutrientes e em gorduras monoinsaturadas, também ajuda na prevenção de doenças cardiovasculares. Em Portugal, é um elemento indispensável nas mesas de consoada.

As pinhas são normalmente maiores e mais consistentes que as de pinheiro-bravo, sendo, depois da extração do pinhão, vendidas como combustível. A produção média anual é de cerca de 250 pinhas por árvore, podendo, no pico da frutificação, uma só árvore, produzir entre 1000 a 2000 pinhas.

Os mais criativos também usam as pinhas como elementos decorativos, assim como as pequenas árvores, que são cortadas em desbaste, como árvores de Natal.

A colheita, transporte, armazenamento, transformação, importação e exportação de pinhas de pinheiro-manso está regulamentada através de legislação nacional (Decreto-Lei n.º 77/2015, de 12 de Maio) e estabelece, entre outros, a época em que é permitida a colheita de pinhas e que só fica dispensado de registo e comunicação de colheita, as colheitas até ao limite de 10 quilogramas de peso, desde que exclusivamente destinadas a autoconsumo.

Outros recursos naturais

Do pinheiro-manso podemos obter outros recursos: madeira, casca, resina, lenha e carvão vegetal.

A madeira, castanho-avermelhada, é extremamente dura e difícil de trabalhar. Possui elevada resistência e impermeabilidade, sendo ideal para a construção, carpintaria, pavimentos e vigamentos, para os caminhos-de-ferro e para a indústria naval.

Foto: Jebulon/WikiCommons

A casca é rica em taninos sendo usada em algumas regiões para o curtimento de peles. No entanto, a principal aplicação da casca está associada ao cobrimento da superfície do solo, em jardins e na horta, para ajudar a manter as boas condições para um bom desenvolvimento das plantas, protegendo as raízes das condições climáticas adversas, tanto no verão, como no inverno. Também ajuda a controlar o aparecimento de plantas infestantes.

A resina é aproveitada e usada para vernizes, impermeabilizações e até para encerar arcos de violino e sapatilhas de balé. Além disso, é muito aromática e contém terebintina, uma substância usada como antisséptico. E no tratamento de doenças renais, da bexiga e doenças de pele. Na medicina popular terá sido utilizada como balsâmico: a resina era derretida sobre a chama para que o seu perfume impregnasse o quarto, de forma a ajudar a curar doenças do aparelho respiratório.

O pinheiro-manso é uma daquelas árvores que facilmente se consegue identificar, por isso, aproveite os dias de outono para procurar mais uma bela e encantada árvore nativa. Se estiver calor, aproveite a sombra da sua copa em forma de chapéu-de-sol; mas se chover, abrigue-se sob o seu chapéu-de-chuva.

Dicionário informal do mundo vegetal:

Resinosa – planta que produz resina e que pertence ao grupo das coníferas.
Acicular – em forma de agulha.
Monóica – espécie que apresenta flores femininas e masculinas separadamente na mesma planta.
Inflorescência – forma com as flores estão agrupadas numa planta.
Pinha (ou cone, ou estróbilo) – órgão reprodutor das árvores coníferas (tipo de pseudofruto), geralmente de forma cónica, composto por escamas lenhosas, que se sobrepõem parcialmente, dispostas helicoidalmente ao longo de um eixo central, e que protegem as sementes.
Coníferas – grupo de plantas que produzem estruturas reprodutoras com forma cónica (cone, pinha ou estróbilo).
Escamas – folhas rudimentares, modificadas, coriáceas ou lenhosas, que protegem as sementes.
Heliófila – planta que vive preferencialmente em locais de exposição solar plena. Necessita da luz solar para um bom desenvolvimento.

Carine Azevedo

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