Há quanto tempo a música faz parte da sua vida?
A minha história começa em casa. O meu irmão tocava na melhor discoteca de São Vicente. Aquilo sempre me despertou a atenção. Quando tinha cerca de 16 anos, integrei um grupo de dança de tetckonik. Depois tudo foi começando, porque eu tinha contacto com um programa de som, Carina Alves para fazer os mix’s daquilo que dançávamos. Quando vim para Portugal comecei a frequentar algumas festas, no Moda Café, onde se ouvia mais electrónica. Foi ali que me sagrei como DJ, nas festas da Young Beatz, sendo que o Mercado Club também me deu e tem dado palco. Comecei a produzir também nessa altura. Um dia, numa festa, estava a ouvir dubstep e pensei que tinha que fazer uma versão daquele estilo com uma ‘pegada’ afro. Assim nasceu o meu estilo.
Em que se inspira e o que produz hoje em dia?
Comecei a produzir electrónica e depois passei para o hip hop, mais precisamente o trap. Acabei por perceber que se me cingi-se ao hip hop ia acabar por estar sempre a copiar o que já existe e os americanos seriam sempre melhores. Foi aí que comecei a ‘samplear’ as músicas tradicionais de Cabo Verde, morna, batuco, funaná. Comecei a misturar aquilo com o trap. Daí surgiu o TrapTerraTerra. É algo muito orgânico. É composto, por exemplo, por ‘samples’ de músicas da Cesária Évora. Também tenho um ‘sample’ muito ‘fixe’ com uma música da Simone de Oliveira... é muito engraçado ver como ficou aquilo, tão tradicionalmente português, misturado com o trap. Estou a fazer algo que quero que todos possam ouvir, desde a minha mãe, aos meus colegas, às crianças. Quero algo melódico mas com garra e energia. Inspiro-me em qualquer tipo de coisa. Passo o dia a ouvir música e gosto de coisas muito diferentes. Às vezes acordo cheio de ideias e acredito que as pessoas sensíveis são um canal. Eu considero-me um pouco assim. Essas pessoas transformam em arte tudo o que o universo lhes dá.
E agora está a produzir, entre outros artistas, para o Dino D’Santiago, que recentemente tocou, no Festival Iminente, uma composição da sua autoria, reportando- -se, naquele palco, ao seu trabalho como algo merecedor de ser ouvido. Como acontece o encontro com este artista?
Sempre admirei o trabalho dele. Quando lancei o TrapTerraTerra mandei-lho, várias vezes. Até que me respondeu a dizer que o tinha ouvido e que tinha gostado muito. Um certo dia, ele ia entrar em estúdio, para começar a produzir um álbum, e disse- -me que queria beats by Berlok. Incentivou-me, ainda, dizendo que eu me devia dedicar por inteiro à música, sendo que já trabalhei e trabalho com outros artistas. Naquela altura não me conseguia dedicar a isto por inteiro, por causa do emprego que tinha. Ele mandou-me ir a Lisboa para arranjarmos solução. Assinámos contrato e tenho estado a produzir algumas coisas para ele. Tenho muito a agradecer-lhe. É uma grande pessoa.
As festas foram canceladas e os bares/cafés/discotecas fechados. O trabalho como DJ parou. Quanto ao resto, em termos de produção, como foi este tempo?
Consegui solidificar o estilo pelo qual optei, porque me foquei só nisso. Para mim a pandemia foi óptima em termos de produção. Em relação a tocar... algo que eu gosto nos mesmos termos, quando se é DJ é o que se quer fazer, tocar. Mas colmatei essa falha com a produção e, hoje em dia, não dá para apenas tocar e não produzir. Quem não produzir não se conseguirá expandir.
E produzir a partir de Bragança, como é?
Larguei tudo quando vim para Bragança. Claro que estar aqui atrasa um pouco as coisas. Em Lisboa, no Porto, nas grandes cidades, há mais público, mesmo que o estilo musical não agrade a uma grande quantidade de gente. Aqui há menos gente, é apenas isso. As pessoas podem pensar que nessas grandes cidades há mais oportunidades mas não é bem assim. Nesses sítios há muita mais concorrência. E quando se fala de sorte… acho que a sorte é trabalho. Se houver vontade de fazer as coisas não interessa o sitio onde se está. Depende tudo do esforço, do trabalho.
O que faz falta a Bragança, falando de música?
Acho que é preciso unificar as culturas, deixá-las misturarem-se. As instituições devem dar-nos, a nós músicos, mais oportunidades. As pessoas irão abrir as mentes. Os espaços, cafés, discotecas, bares, deveriam ser mais dinâmicos, não tendo medo de fazer o que quer que seja, abrindo portas aos artistas.
Como se vê no futuro?
Só quero estar feliz com a minha música. Quero que seja o mais ouvida possível.
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