Por: José Mário Leite
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)
Nossa Senhora do Castelo
Rainha das açucenas
A quem o povo, com devoção
Faz promessas e novenas,
E A leva em procissão
Antes de terminar a missa
À capela de S. João
Para abençoar a Vilariça
Outra Virgem, mais a norte
Dos Anúncios é Senhora
Tem na ermida outra sorte
De justificada cobiça
Pois sem sair do lugar
Olhe para onde olhar
Verá sempre a Vilariça
Há de causar algum espanto
Quem julgar, em olhar breve
Que sobre o vale há um manto
De fina e alva neve…
Por certo,
Não é milagre, nem encanto;
Com a chegada do calor
O vale ficou coberto
De amendoeiras em flor.
Quando chega a Primavera
Nas asas duma andorinha
Quem me dera, ai quem me dera
Voar com ela à tardinha
Vindo das terras do sul
E como as demais
Fazer ninho nos beirais
Embebedar-me de azul
No outono há a vindima.
Ranchos de raparigas
Andam pelos valados
Cortam uvas, despejam cestas
Nos cestos dos namorados
Colhem beijos, semeiam amores
Bebem desejos, corre o mosto
Alegres, vão de manhãzinha
Alegres voltam, o sol é posto.
Mais adiante a boa nova
Por altura do S. Martinho
Há de vir com a prova
… dos amores… e do vinho!
Há de chegar em dezembro
O Natal do Deus-Menino
De fogueira e rabanadas
Noites frias, manhãs geladas
Apanhando a azeitona
Cumprindo-lhe o destino
No lagar, com grande tormento
Fazer azeite, dourado e fino
Que dá sabor ao alimento
E alumia o divino
O ar que, no inverno,
Vem do norte, em ventania
No verão fica parado
Cobardemente aliado
Do sufocante inferno
De calor e calmaria
Nossa Senhora da Assunção
Virgem Santa, Imaculada
Do alto do vosso andor
Dai-nos a vossa bênção.
Nestes dias de calor
Entre as pedras a rastejar
É nas cobras da fragada
Que se esconde o diabo!
Com o Vosso calcanhar
Pisai-lhes a cabeça
Esmagai-lhes o rabo
No campanário da igreja
Os sinos tocam, Avé Maria,
Regresso a casa, vai sendo hora...
Termina, quente, o longo dia
Calou-se o cantar da nora,
O da rela e o da cigarra.
Vem a noite, vai-se a tardinha
Ouve-se ao longe uma guitarra.
No céu escuro, cobreado
Num desenho floreado
Voa célere uma andorinha.
Quando da escura candeia
Se apaga a luz mortiça
Cai o silêncio na aldeia
Adormece a Vilariça
Junqueira, 11 de junho de 2022
José Mário Leite, Nasceu na Junqueira da Vilariça, Torre de Moncorvo, estudou em Bragança e no Porto e casou em Brunhoso, Mogadouro.
Colaborador regular de jornais e revistas do nordeste, (Voz do Nordeste, Mensageiro de Bragança, MAS, Nordeste e CEPIHS) publicou Cravo na Boca (Teatro), Pedra Flor (Poesia), A Morte de Germano Trancoso (Romance) e Canto d'Encantos (Contos), tendo sido coautor nas seguintes antologias; Terra de Duas Línguas I e II; 40 Poetas Transmontanos de Hoje; Liderança, Desenvolvimento Empresarial; Gestão de Talentos (a editar brevemente).
Foi Administrador Delegado da Associação de Municípios da Terra Quente Transmontana, vereador na Câmara e Presidente da Assembleia Municipal de Torre de Moncorvo.
Foi vice-presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes.
É Diretor-Adjunto na Fundação Calouste Gulbenkian, Gestor de Ciência e Consultor do Conselho de Administração na Fundação Champalimaud.
É membro da Direção do PEN Clube Português.
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