Chamam-se Ambria Ardena - do dialeto transmontano, que quer dizer fome ardente - são dos concelhos de Macedo de Cavaleiros e de Mirandela, distrito de Bragança, e têm idades entre os 19 e os 43 anos.
Reunidas num ensaio no centro cultural de Macedo de Cavaleiros, depois dos devidos aquecimentos, entoaram primeiro a história da Rosinha ("Lá vai Rosinha"), uma jovem 'embeiçada' por um Careto mas prometida pelo pai em casamento a um velho ‘tchaloto’ (maluco) em troca de 100 canadas de vinho, 10 alqueires de pão e, talvez, “uma ‘corriça’ e um palheiro”.
Numa pausa, Carla Germano Lopes, a mais velha e mentora do grupo, que nasceu e cresceu na Alemanha, descreveu à agência Lusa “a típica vida de emigrante” na aldeia de Talhas, naquele concelho. “Passava um mês de férias sempre na aldeia. Ouvia as nossas típicas palavras, como ‘tchiba’, ‘cutcho’ [cão], ‘tchinelo’…”, recordou.
Há dois anos que Carla está em Trás-os-Montes. Quis trazer para o presente as recordações, sempre associadas às mulheres.
“Houve sempre memórias que a minha avó cantava que ficaram na minha cabeça. A ideia foi fazer um levantamento da nossa riqueza cultural”, contextualizou.
Assim, juntou na aldeia cantigas da ceifa, do tempo I Guerra Mundial, sobre os amados que foram combater, rezas e mezinhas. Tudo com sotaque: ”Temos as nossas palavras, o nosso dialeto próprio. (…) Alguém tem que fazer valer isso. Se não dermos continuidade a essas canções das nossas avós, [esse património] vai morrer em esquecimento, vai para o caixão”, sublinhou Carla Germano Lopes.
São estes saberes que compõem o cancioneiro que agora reproduzem e que em breve querem alargar. Deram-lhe “um toque pessoal e alguma percussão”, com instrumentos simples, em que sobressai a parte vocal.
“O nosso maior número de seguidores [nas redes sociais] são mulheres. Não esquecemos o que a mulher passou. Histórias que se ouviam, das nossas avós, tias… Da submissão, de tantos filhos a morrer nos braços, dos maridos a bater, da violência… Nós carregamos essa dor”, salientou Carla Germano Lopes, acrescentando que este projeto, “com orgulho”, dá voz às gerações passadas.
Antes de serem as sete, era só Carla e precisava de mais vozes femininas. Por isso, fez uma publicação nas redes sociais. Depois de uma “avalanche de partilhas”, a seleção foi feita de “modo muito natural”, com pessoas de áreas distintas.
Lisa Eugénio, farmacêutica de 31 anos, e Marta Serapicos, 29 anos, das 'engenharias', juntaram-se depois de assistirem a um ensaio.
“Senti-me, desde o momento zero, logo ‘super-identificada’ com o projeto. Por adorar as letras, por fazermos a pesquisa e darmos vida a músicas que dificilmente seriam ouvidas novamente”, partilhou Lisa Eugénio.
Para Marta, foi “uma surpresa” e tem sido uma experiência que catalogou como incrível.
Lara Dias, 19 anos, é estudante de teatro, tem outras iniciativas ligadas à música e está no grupo desde o início, em 2022. “É o que eu quero fazer da minha vida. E este projeto é das melhores coisas de que faço parte”, disse a jovem à Lusa.
As restantes integrantes das Ambria Ardena também não fazem neste momento vida da música, onde são, sobretudo, autodidatas. Têm igualmente outras ocupações, como trabalhadoras remotas, no caso de Carla e de outros elementos, e uma jornalista.
“Embora nem sempre seja fácil conjugar a vida profissional com com o projeto, tento sempre encontrar forma de não faltar a ensaios e concertos. O que fazemos é autêntico e o que nos move é bonito”, explicou Julieta Carneiro, 31 anos, que trabalha na rádio local de Macedo de Cavaleiros.
Já se apresentaram ao vivo, com o público a reagir “muito bem”, contou Carla Germano Lopes, que partilhou a ambição de chegar ao Word Stage Music.
Para 2024, a agenda de concertos começa a ficar composta, com estreia prevista também em festivais.
As Ambria Ardena estão nas redes sociais Facebook, Instagram e You Tube.
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