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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

CONVENTO DE BALSAMÃO: UM NOVO RUMO PARA CENTENAS DE REFUGIADOS

 Convento de Balsamão já acolheu cerca de 140 refugiados e migrantes de várias partes do mundo, sendo uma ponte para uma vida melhor


As curvas e contracurvas para conseguir chegar ao topo Convento de Balsamão, no concelho de Macedo de Cavaleiros, podem simbolizar o caminho vertiginoso de quem agora ali mora. São cerca de 40 refugiados e migrantes que se viram obrigados a deixar o seu país à procura de uma vida melhor ou até para fugir à guerra. Tudo começou em Abril de 2022, quando o convento abriu portas para acolher um grupo de refugiados. O padre Eduardo Novo, director do espaço, estendeu os braços àquele que depois se veio a tornar uma estrutura de acolhimento temporário. Já passaram por ali cerca de 140 pessoas de várias partes do mundo, como Nigéria, Marrocos, Nepal, Índia, Argélia, Paquistão, Bangladesh. Ali já chegou a nascer um bebé, de uma família que é agora independente, mas que não esquece a ajuda. O Convento de Balsamão pode ser assim visto como um ponto de viragem na vida de muitos, como é o caso de Adeleke Abesin. É um dos refugiados que vive na estrutura. Tem 29 anos e é da Nigéria. No entanto, estava a estudar na Ucrânia quando o país entrou em guerra e foi obrigado a abandoná-lo. Conta que antes de chegar a Portugal, há seis meses, ainda esteve na Polónia. Com os amigos chegou a Balsamão, onde continua a ter aulas online para acabar o curso de Medicina. "O futuro aqui parece-me bem. Estou a estudar medicina e agora aguardo para fazer o exame final", disse. O objectivo é ficar por Portugal, onde quer ser médico. Aqui disse ter encontrado pessoas "muito boas" e comida também. Comunica com os restantes em inglês, embora um pouco difícil de entender, mas já sabe dizer algumas palavras em português, como "obrigada" e "comida". Já Lúcia Alves é migrante. Natural de Timor-Leste, veio com o marido à procura de uma vida melhor. "Vim para Portugal porque preciso de arranjar trabalho para sustentar a minha família", contou. Tem 23 anos e um problema de saúde impossibilita- -a de trabalhar, uma vez que está a fazer um tratamento. Ainda assim, realçou estar a gostar de viver no convento. "Estou muito contente e tenho muito orgulho, porque eu aprendo muito aqui. Aprendi a fazer comida portuguesa, aprendi português e história de Portugal", disse. Já vive ali há oito meses e confessa que é difícil não ter emprego, mas comida "não falta" e Balsamão também já é a sua "casa".


Acolhimento, integração e independência

O Padre Eduardo Novo explicou que o processo de acolhimento passa por várias fazes, desde o receber, proporcionando "bem-estar", "carinho" e "afecto", à oferta de formação, na "execução das tarefas, responsabilização e compromisso", mas também na aprendizagem do português e depois na procura de emprego e no acompanhamento depois de saírem dali. "Tem sido uma experiência muito interessante, sobretudo de dar oportunidade, de ajudar a transformar vidas, vidas que vêm à procura de melhores condições de vida e que nós aqui queremos ser este foco, que possamos ajudar a acolher", frisou. Por ali passam pessoas de diferentes países e, inevitavelmente, também diferentes culturas e religiões. Sendo ministro da Igreja Católica, Eduardo Novo admitiu que o contacto com diferentes religiões é "interessantíssimo". "É interessante este conjugar de vidas, com o mesmo olhar, de felicidade, que todos buscamos e é isso que Deus quer. Temos acolhido desde muçulmanos, a hindus, a cristãos. Obviamente que há diferenças culturais que se manifestam. Temos também essa sensibilidade. Por exemplo, um hindu não como carne de vaca às terças-feiras, um muçulmano não come porco, portanto, houve também a necessidade de nos adaptarmos a estas realidades", contou, acrescentando que a adaptação foi fácil e que a missão é formar "uma só família", para um "mundo cada vez melhor". Mas nem tudo é perfeito. Uma das grandes dificuldades é a comunicação. Poucos ou nenhuns sabem falar português, por isso, o inglês e o francês são a salvação. Ainda assim, aos poucos vão aprendendo a língua de Camões, uma vez que têm aulas de português todos os dias, mas também de História e Geografia. A coordenadora desta estrutura temporária de acolhimento reconhece que todos os dias é um "desafio constante", até porque ali se cruzam pessoas de variadíssimas culturas. Além do obstáculo da língua, Susana Magalhães conta que nem sempre é fácil "educar e formar pessoas" adultas. As regras são transmitidas "repetidamente". A responsável contou que muitos não sabiam usar os talheres, nem fazer a cama. Coisas básicas na cultura portuguesa, que são difíceis de assimilar para quem vem de fora. "Não sabiam usar um aspirador, não sabiam que o detergente da louça é diferente do que usa para limpar o pó, também não sabiam como fazer uma cama", disse. Outro dos problemas passa pela saúde. Susana Magalhães adiantou que há problemas de saúde oral, falta de vacinas e uso indevido de medicamento. A documentação é também um entrave. "Para os refugiados a documentação é muito ágil, a tramitação é muito mais fácil, mas nos migrantes tem sido um sacrifício enorme, porque os agendamentos com o antigo SEF estão super atrasados, há documentação que não chega", adiantou. A juntar-se a todas estas dificuldades está a de arranjar emprego. "É muito difícil arranjar trabalho para estas pessoas, pelo estigma que já se tem. Tivemos o caso de dois jovens marroquinos que tentaram encontrar em Bragança uma casa e pediram-lhe seis meses de caução. Isto significa que as pessoas não querem alugar a imigrantes". Assim, está já na calha um projecto para a criação de uma empresa que dê trabalho remunerado a estas pessoas, por exemplo, na limpeza das ruas ou até na criação de uma gelataria no Azibo.

Jornalista: Ângela Pais

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