Número total de visualizações do Blogue

Pesquisar neste blogue

Aderir a este Blogue

Sobre o Blogue

SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 7 de julho de 2024

Como conseguem as corujas e mochos caçar à noite com quase luz nenhuma?

 A resposta de Inês Roque, investigadora do LabOr – Laboratório de Ornitologia da Universidade de Évora.

Coruja-das-torres. Foto: Carlos Delgado/WikiCommons

O que faz das rapinas nocturnas caçadoras tão aptas durante a noite, quando raramente existe iluminação suficiente para que consigam ver as presas?

Há uma característica que as distingue das outras aves: o seu sentido de audição particularmente apurado. O ouvido externo das rapinas nocturnas consiste em dois orifícios auriculares grandes e assimétricos, tão grandes que se olharmos para o seu interior podemos ver as órbitas tubulares onde se inserem os olhos! Ao contrário do que acontece com a visão, o tamanho destas estruturas não contribui para aumentar a sensibilidade auditiva: a sua função é a de localizar os sons com grande precisão, avaliando a direcção e o ângulo vertical da fonte sonora.

As rapinas nocturnas conseguem ouvir os sons que as presas fazem ao deslocar-se ou as vocalizações que emitem.

E quais as presas principais das rapinas nocturnas? Isso depende das espécies. As mais pequenas, como o mocho-d’orelhas e o mocho-galego alimentam-se sobretudo de insetos. Outras espécies, como a coruja-das-torres e o bufo pequeno, alimentam sobretudo de ratos. Já o bufo-real, a maior das rapinas noturnas, alimenta-se sobretudo de coelho, embora também possam caçar outras presas como aves, anfíbios, répteis e invertebrados.  

Portanto, é a audição apurada que lhes permite caçar sem luz, quando não conseguem ver.  Ainda assim, há espécie de rapinas nocturnas que caçam de dia, como o mocho-galego, por exemplo, e que localizam as suas presas através da visão. Nesses casos, a visão também é importante. Mesmo as espécies consideradas estritamente nocturnas, na presença de condições ideais de luminosidade, conseguiriam caçar com base na visão.

O olho das rapinas nocturnas evoluiu no sentido de aproveitar ao máximo a luz sob condições de reduzida luminosidade – é por isso que as rapinas nocturnas têm olhos grandes.

Mas o “preço” de ter olhos grandes é estes serem praticamente imóveis. As corujas direcionam os olhos girando o pescoço. Isto, porque os seus grandes e pesados globos oculares estão fixos em órbitas tubulares (ou seja, estão “presos” dentro de ossos em forma de tubo).

Têm muita mobilidade (~270º) porque o pescoço é muito mais articulado do que o nosso, tem o dobro das vértebras. Além disso, as artérias carótidas, que oxigenam o cérebro, são diferentes das nossas, são mais centrais. Isto faz com que a circulação sanguínea não seja afetada quando giram o pescoço, porque as artérias não se torcem tanto. Mesmo que sejam comprimidas em movimentos mais bruscos, a circulação não é interrompida porque as artérias são robustas e elásticas e garantem o fluxo contínuo de sangue para o cérebro.

Girar a cabeça também ajuda a caçar com base na audição, porque permite direcionar o disco facial: um conjunto de penas concêntricas em torno dos olhos destas aves, delimitado por um rebordo de penas mais curtas, que funciona como uma antena parabólica e direciona os sons para os ouvidos.   

Uma outra adaptação importante das rapinas nocturnas é o seu voo completamente silencioso, graças à forma como a estrutura especial das suas penas permite a passagem do ar durante o batimento das asas. Esta característica, seguramente responsável por vários encontros de pessoas com aterradores vultos misteriosos, é fundamental para detectarem e surpreenderem as presas nas suas investidas. Contudo, um ataque certeiro implica que a distância à presa seja avaliada com base na aprendizagem de como os sons se propagam no meio envolvente. Em áreas florestais fechadas, por exemplo, a coruja-do-mato (Strix aluco) enfrenta o desafio de localizar as presas no solo e, simultaneamente, evitar os ramos das árvores e outros obstáculos na sua trajectória de voo.

Inês Roque

Sem comentários:

Enviar um comentário