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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 29 de julho de 2024

O MÃO DE LUVA

Por: Antônio Carlos Affonso dos Santos – ACAS
São Paulo (Brasil)
(colaborador do Memórias...e outras coisas)

Manuel Henriques, tido como garimpeiro e português, era o nome de um personagem lendário: o Mão de Luva! Durante o período da mineração do Brasil, século XVIII (por volta de 1780), ele que teria fugido da região aurífera de Minas Gerais, e teria atravessado o rio Paraíba do Sul, na região de Cantagalo, com o intuito de fazer garimpo por conta própria, já que até então, ele só havia trabalhado para o governo português. Durante muitos anos, acreditava-se que o Mão de Luva era um fidalgo português, e que teria vivido um romance com Maria de Bragança; a rainha Maria I (a louca), de Portugal. Acredita-se de que ele só teria vindo ao Brasil para ficar rico, e poder voltar a Portugal para viver o romance interrompido.

Ele celebrizou-se por ter se tornado um bandido. Mão de Luva chefiava um bando de ladrões dos garimpos oficiais do rei de Portugal, Dom José I; era um tipo de pirata, que atuava em terra firme. À época, o garimpo oficial era controlado pelo vice-rei Luiz de Vasconcelos e Souza. Na representação imaginária do bandido Mão de Luva, há todo um processo que faz com que ele se torne um mito: a não divulgação das escassas citações da vida pregressa do Mão de Luva abastece a sua força criadora, dá sentido a tudo que ele fez, hierarquiza, seleciona e atribui valores como coragem, astúcia e ousadia, que faz dele, ainda depois de três séculos e em pleno século XXI, um mito popular; tanto nas regiões de Macacu e Cantagalo, como em grande parte dos estados de Minas Gerais e do Rio de Janeiro. Uma versão conhecida, atribui ao Mão de Luva uma descendência aristocrática lusa: Ele, Manuel Henriques, teria sido o Duque de Santo Tirso, e era possuidor de vastos domínios e vastas extensão de terras e grandes riquezas; além de erudito! À época, teria se apaixonado por Maria de Bragança. O casal teria se conhecido numa recepção realizada na Corte; e ambos se apaixonaram. Algum tempo depois, Manuel foi convidado a participar de uma conspiração contra o poderoso Marquês de Pombal e ainda forçar a abdicação de Dom José I, em favor de sua filha. Maria, teria prometido sua mão ao amado Duque de Santo Tirso, caso a conspiração triunfasse! Manuel partiu de Lisboa, com homens e dinheiro; porém o Marquês de Pombal foi informado por espiões: descobriu tudo e abortou a conspiração! O Duque de Santo Tirso foi, então, condenado ao degredo no Brasil, sendo –lhe confiscados todos os bens, cassados seus títulos de nobreza e considerado infame até à terceira geração! É reconhecido que Maria o procurou antes do embarque para o degredo, e falou-lhe que o Brasil era o “país das minas de ouro” e das pedras preciosas e, portanto, ele deveria reunir uma grande fortuna e comprar sua liberdade. Teria Maria, nessa oportunidade, fornecido um par de luvas pretas, pedindo que ele as usasse sempre à destra, para provar que voltaria a ter com ela. E assim, acredita-se, foi feito! Lembro que Maria I era mãe de Dom João VI, que fugiu de Portugal com destino ao Brasil em 1808, para não enfrentar Napoleão Bonaparte, tornando a “colônia”, ainda que com 300 anos de atraso, tivesse, finalmente, acesso à modernidade. Maria I morreu no Brasil, aos 86 anos de idade.
Certa feita, o Mão de Luva estava numa taverna bebendo e dançando, quando conheceu aquele que seria seu fiel escudeiro, o Simão. Este, trabalhava na taverna, porém Mão de Luva percebeu que ele tratava os fregueses de má vontade, o que demonstrava que ele não gostava do que fazia. Mão de Luva convenceu-o a segui-lo. Logo, tornaram-se cúmplices; esse cúmplice era a pessoa a quem o Mão de Luva confiava e conversava longamente, durante as viagens pelas matas e estradas das Minas Gerais. Concomitantemente, Mão de Luva praticava seus primeiros roubos, acompanhado pelo Simão. Mão de Luva percebeu que era mais fácil tomar à força, o ouro daqueles garimpeiros do rei, do que trabalhar, de sol a sol na bateia, procurando ouro. O Mão de Luva começou realmente garimpando; só que ele lavrava ouro nos córregos e afluentes dos rios Macuco, Negro e Grande, só que com um diferencial: negava-se a pagar o “quinto” para o vice-rei, sendo então perseguido pelos soldados da Corte. Foi quando, então, percebeu que seria melhor que outros lavrassem o ouro e ele tomava o mesmo para si. Seu bando, como já dito, agia qual piratas, saqueando as tropas que transportavam o ouro dos garimpos das “gerais”, e que eram encaminhadas ao Rio de Janeiro.
A região onde o Mão de luva agia era conhecida por “sertões de Macacu”. Um mapa cartográfico da época (datado de 1767), denominava essa região como “região dos índios brabos”. A Vila de São Pedro de Cantagalo, então, não existia; só foi fundada depois, em 1814! Nos dias atuais, Macacu faz parte de Minas Gerais e Cantagalo do  estado do Rio de Janeiro. Lembro aos leitores que, à época, o garimpo clandestino era considerado uma “contravenção”.
Tanto infernizou a Corte, que o Mão de Luva recebeu os adjetivos de “Facinoroso” (do rei D. José I) e “Rebelde”, do próprio vice-rei. Ele era também adjetivado por “Luva de Xopotó”.
Seu bando era composto por 36 bandidos, sendo 23 escravos e mais 13 homens; entre brancos e pardos livres. Dentre os brancos, dois eram seus irmãos e dois primos (os Lopes). O bando do Mão de Luva era conhecido por “Bando da Montanha”, assim como “Bando da Mantiqueira”. 
O Mão de Luva era também contemporâneo de outro mito brasileiro, o Tiradentes (mártir da Independência); tendo havido um breve contato ambos, por conta de um “affair” romântico entre o Manuel e uma irmã do alferes Joaquim José da Silva Xavier.
Em 1786, o Mão de Luva e seu bando teriam sido capturados pelo sargento–mor Pedro Afonso Galvão de São Martinho, sendo levado para a prisão em Vila Rica (hoje Ouro Preto). De Vila Rica ele, aos 53 anos de idade, foi degredado para a África em 1787, onde morreu.
Em minhas pesquisas, descobri também que o Mão de Luva poderia não ser nobre, nem branco de verdade; mas sim “mulato”! A omissão de tal fato, se verídico for, deve-se creditar à elite branca que, enfim, tinha um herói para chamar de seu.

REFERÊNCIAS E SUGESTÕES DE TEXTO
. nitcult.com.br/luva.htrr
. vo.avozdaserra.com.br - Sandra Pesavento 
. CEPEC – Centro de Estudos e Pesquisas Euclides da Cunha
. Conversas de Pretos (publicado em 1822)
. Dados colhidos aleatoriamente na internet.

Antônio Carlos Affonso dos Santos
– ACAS. É natural de Cravinhos-SP. É Físico, poeta e contista. Tem textos publicados em 9 livros, sendo 4 “solos e entre eles, o Pequeno Dicionário de Caipirês e o livro infantil “A Sementinha” além de 5 outros publicados em antologias junto a outros escritores.

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