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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite, Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues, João Cameira e Rui Rendeiro Sousa.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 22 de novembro de 2025

E mais Zelas e Romanos… E o 25 de Dezembro como data do nascimento de Jesus Cristo…

Por: Rui Rendeiro Sousa
(Colaborador do "Memórias...e outras coisas...")


 Uma minha conterrânea, e muito bem, deixava um comentário na publicação anterior, associando a data do Natal ao Solstício de Inverno. E não só, mas também… O problema, nestas incursões, é tentar ser sintético, o que fácil não é. Que a nossa História colectiva, como já por aqui o mencionei, dá «pano para mangas». Mas regressemos ao Solstício de Inverno. O período que marca a «nova luz», ou o que corresponde à passagem para um novo tempo, no qual os dias começam a aumentar. Desde tempos muito remotos que este período era festejado, de diversas formas. Ou assinalado, inclusive, através de monumentos megalíticos. Tudo tem uma explicação, os nossos antepassados “num se dabum ó trabalhinhu’e de butare uns calhaus impinadus’e, só pur’u que sim’e”…

Depois, há relatos de inúmeras manifestações relacionadas com celebrações que em muito antecederam o Natal. Quem dúvidas tiver, poderá pesquisar lendas relacionadas com o renascimento do urso, ou outras. Ou ainda procurar uma festa que toma o nome de Yule ou Jól… Da qual provêm muitas das nossas tradições natalícias, como o pinheiro (ou o cedro), as decorações da árvore, o azevinho, as pinhas, o tronco de Natal, seja na versão literal ou na versão bolo, os frutos secos, as cores… Outras podendo procurar… Sabendo-se que os nossos antepassados Zelas, como já por aqui trouxe, tinham um especial fascínio pelos astros, tal como o tinham muitos dos povos de substrato pré-romano. Aliás, o nome «Zoelae» derivará de «sol» ou, por estudos baseados no indo-europeu, de «pequeno deus celeste». Assim como o deus que adoravam esses «nossos avós» seria a «estrela da manhã». Sempre a luz e os astros presentes, numa milenar tradição. 

Quando os Romanos aqui aportaram, que à actual Itália tinham previamente chegado provindos da Europa Central, trouxeram os seus ancestrais cultos, assimilando-os com os pré-existentes. Tendo, igualmente, imposto outros mais tardios. Nos quais passaria a incluir-se o «Natalis Solis Invictus», ou seja, o «o nascimento do deus sol invicto», prática instituída a partir do século III. Que se institucionalizaria no dia 25 de Dezembro, porque no Calendário Juliano era esse o dia do Solstício de Inverno! Conjuntamente com as pomposas celebrações das Saturnálias, em honra do deus Saturno, nas quais, por entre muito pagode, se trocavam… presentes! E ainda, particularmente com os soldados romanos, o culto a Mitra, o «génio da luz celeste», nessa mesma data. Festas estas que atingiram elevados patamares, mesmo junto daqueles que se convertiam ao Cristianismo, mas se recusavam a abandonar as suas velhas festividades, misturando crenças cristãs com costumes pagãos. 

E porquê o Natal a 25 de Dezembro? Há duas versões para a escolha desta data. Uma, vinda da velha tradição dos patriarcas que faziam coincidir a data da morte com a data da concepção. Isto é, era tradição que Jesus Cristo teria morrido na cruz a 25 de Março. Seguindo esta tradição, teria sido concebido nessa data, que ainda hoje celebramos. Como a gravidez dura nove meses… Jesus nasceria a 25 de Dezembro! Opinião pessoal, esta versão parece-me um pouco rebuscada… A segunda versão, até pelos diversos escritos que nos foram deixados, é a de que a Igreja transferiria os grandes festejos inicialmente celebrados a 6 de Janeiro, com a Epifania, que já haviam sido influenciados por festas pagãs, para o dia 25 de Dezembro, transformando-o no dia da Natividade. Tudo porque não conseguiu impedir que os cristãos celebrassem rijamente o aniversário do sol ou, até, que participassem nos festejos a Mitra… Alguns dos chamados «doutores da Igreja», em oposição às festas pagãs, afirmavam que Jesus é que era o verdadeiro sol, como é bom exemplo o conhecido Santo Ambrósio, que escrevia «este é o nosso novo sol». 

A partir de Roma, esta nova data para o nascimento de Cristo, irradiaria para todo o Ocidente, acabando, com maior ou menor dificuldade, por se impor. Que por estas terras, ainda no século VI o paganismo imperava… Hoje em dia, alguns estudos mais apurados, apontam até para a possibilidade de que Jesus Cristo poderá ter nascido uns anos antes da data apontada. Por outro lado, há um dado paralelo curiosíssimo, por isso o trago aqui. Em finais de Dezembro, as temperaturas médias nocturnas em Belém oscilam entre os 3 e os 7 graus. Ora, com essas temperaturas, não há pastores a circular com os seus rebanhos. Estão a ver onde quero chegar? Pois, por essa descrição dos pastores e seus rebanhos, bem como por outros dados paralelos, tudo aponta para que Jesus Cristo, de facto, tenha nascido na Primavera, provavelmente no mês de Abril… Por isso, o dia 25 de Dezembro, não é a data de aniversário de Jesus Cristo. Mas sim o dia em que Ele passou, pelos motivos explanados, a representar a «nova luz». Curiosidades… 

Assim como curiosidade é, resquícios das anteriormente aludidas Saturnálias, onde o pagode envolvia que os homens se trajassem de mulheres, e vice-versa, ou que os servos fossem servidos pelos senhores, numa completa inversão de papéis, encontrarmos hoje resquícios no pagode dos «Caretos» e das célebres «Festas dos Rapazes», em pleno período natalício… Mas essas já cá as trarei um dia destes… Temos tanto, “or sim’e”?…

Por este e outros motivos, aqui trouxe, há uns dias, o nosso insigne conterrâneo Frei Francolino Gonçalves, um dos maiores exegetas bíblicos, com o qual tive o privilégio de discutir este tema da Natividade, bem como muitos outros, por horas e horas a fio. Esta também é uma forma de o homenagear, uma vez mais. Porque, para lá dos destacados cargos que ocupou, era um trasmontano dos sete costados! Mais houvesse…

(Foto: A Natividade - El Greco)


Rui Rendeiro Sousa
– Doutorado «em amor à terra», com mestrado «em essência», pós-graduações «em tcharro falar», e licenciatura «em genuinidade». É professor de «inusitada paixão» ao bragançano distrito, em particular, a Macedo de Cavaleiros, terra que o viu nascer e crescer. 
Investigador das nossas terras, das suas história, linguística, etnografia, etnologia, genética, e de tudo mais o que houver, há mais de três décadas. 
Colabora, há bastantes anos, com jornais e revistas, bem como com canais televisivos, nos quais já participou em diversos programas, sendo autor de alguns, sempre tendo como mote a região bragançana. 
É autor de mais de quatro dezenas de livros sobre a história das freguesias do concelho de Macedo de Cavaleiros. 
E mais “alguas cousas que num são pr’áqui tchamadas”.

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