O amanhecer trouxe uma luz pálida, mas suficiente para dissipar parte do nevoeiro que cercava Bragança. A cidade respirava em alerta, todos os ruídos amplificados pelo silêncio tenso das ruas. Afonso reuniu novamente Lídia, Baltasar e Miguel no alto das muralhas.
- Hoje enfrentaremos o que a floresta esconde, disse ele, a voz firme. - Mas não apenas com armas. Precisamos entender o que guardam. Só assim a paz será possível.
Seguindo os símbolos antigos, o grupo entrou na clareira no coração da floresta. Lá, os seres esperavam, organizados em círculo, não em posição de ataque, mas de julgamento. Entre eles, o líder adiantou-se, impondo silêncio com um gesto.
- Bragança, disse, a voz soando entre as árvores, demonstraram coragem, inteligência e respeito pelos segredos que protegemos. Mas agora enfrentarão o último teste, provar que merecem compreender e conviver com o equilíbrio que guardamos há séculos.
De repente, o nevoeiro condensou-se em ilusões vivas. Paisagens da própria cidade, batalhas antigas, rostos de antepassados. Os passos em falso podiam confundir o grupo, prendê-lo em labirintos mentais ou despertar criaturas ilusórias para os atacar.
- Lembrem-se, murmurou Lídia, observem o estilo, não a aparência. Cada ilusão tem uma lógica.
Afonso guiou o grupo com calma, desafiando os enganos e analisando os sinais. Baltasar protegeu os flancos, e Miguel observava detalhes que os adultos poderiam ignorar, lembrando histórias antigas contadas pelo Cavaleiro das Sombras.
No centro da clareira, uma grande pedra antiga erguia-se, coberta por inscrições que apenas Lídia conseguiu decifrar parcialmente:
- “Aquele que respeitar o passado e proteger o futuro será digno do equilíbrio.”
Com passos firmes, Afonso e o grupo tocaram a pedra. Um clarão suave percorreu a clareira, dissipando ilusões e revelando a verdadeira forma dos seres. Humanos transformados pelo tempo, guardiões de segredos e do equilíbrio natural entre cidade e floresta.
- Vocês compreenderam, disse o líder, agora com expressão quase humana, Bragança não lutará contra nós. Lutará connosco, respeitando o que foi preservado por eras.
O alívio percorreu o grupo. Não houve aplausos, apenas um silêncio profundo, carregado de respeito e entendimento. A cidade, de volta às muralhas, agora sabia que poderia proteger-se, crescer e conviver com os mistérios da floresta.
Baltasar respirou fundo, apoiando-se no bordão:
- Então a guerra terminou… não com sangue, mas com sabedoria.
Afonso olhou para a cidade e para a floresta à frente:
- Bragança sobreviveu, não apenas por força ou coragem, mas por aprender a ouvir. E esta será a lição que carregaremos para as próximas gerações.
Enquanto o nevoeiro se dissipava totalmente, a floresta parecia mais calma, como se reconhecesse a cidade como aliada. E Bragança, pela primeira vez em séculos, respirava sem medo, consciente de que a verdade, a coragem e a compreensão eram as chaves para o seu futuro.
Continua...
N.B.: A narrativa e os personagens fazem parte do mundo da ficção. Qualquer semelhança com acontecimentos ou pessoas reais, não passa de mera coincidência.

Sem comentários:
Enviar um comentário