O céu amanheceu encoberto por nuvens densas, e um nevoeiro espesso estendeu-se sobre Bragança, mais denso do que em qualquer outro dia. As ruas silenciosas estavam preparadas, mas o ar carregava a promessa de perigo iminente. A cidade, que tinha aprendido a reconstruir-se e a ouvir, agora precisava de enfrentar aquilo que sempre esteve à espreita.
Afonso reuniu os líderes da cidade na torre mais alta das muralhas:
- Hoje não lutamos apenas por casas e ruas. Lutamos por Bragança inteira. Todas as decisões serão decisivas. Não subestimem o inimigo, disse, olhando para os rostos determinados, mas tensos, de Lídia, Baltasar e dos jovens vigias.
Pelas beiras da floresta, as sombras começaram a mover-se. Diferentes das que haviam enfrentado antes, eram maiores, mais numerosas e organizadas. Olhos brilhantes surgiam entre os troncos, calculando cada movimento da cidade. O nevoeiro tornou-se um véu quase impenetrável, e o silêncio, cortante.
- Eles aproximam-se! - gritou um vigia, fazendo sinais com uma tocha.
Afonso posicionou os arqueiros nas muralhas, preparando flechas especiais com pontas reforçadas. Baltasar bloqueou entradas estratégicas com barricadas e alavancas. Lídia guiava grupos mais pequenos pelos becos, coordenando ataques de surpresa e sinalizações silenciosas.
Quando as primeiras formas emergiram do nevoeiro, a batalha começou. Flechas cortaram o ar, mas muitas criaturas desviavam-se com uma precisão quase sobrenatural. A cidade percebeu que não bastava força ou estratégia convencional, era necessário prever os movimentos do inimigo, como aprender o ritmo do próprio nevoeiro.
No meio do confronto, uma figura mais alta e imponente surgiu, era um líder dos seres, com armadura completa, adornada com símbolos antigos e olhos que refletiam séculos de sabedoria. Ele dirigiu-se à cidade com voz clara, embora carregada de autoridade:
- Bragança, conhecemos a sua coragem e a sua inteligência. Mas o que vocês defendem aqui não é apenas o vosso território, é o equilíbrio de forças que guardamos há séculos. Vós podeis sobreviver… se provarem que merecem entender.
Afonso ergueu a espada, firme:
- Estamos prontos para proteger o nosso povo e nossa cidade. Mas queremos compreender o que vocês guardam. Só assim haverá paz.
O líder recuou, ordenando que as suas forças fizessem um recuo estratégico. A batalha parou, mas não como uma rendição, como um teste contínuo, indicando que a cidade precisava não apenas de lutar, mas agir com sabedoria, paciência e coragem.
Baltasar, olhou para o grupo:
- Esta é apenas a primeira fase. Eles não vão embora. Mas agora sabemos que podemos enfrentá-los… e que talvez, se entendermos, possamos até ganhar aliados.
Afonso viu o nevoeiro a dissipar-se lentamente.
- Amanhã será decisivo. Não só pela força dos nossos braços, mas pela clareza da nossa mente. A cidade que reconstruímos será a mesma que decidirá o seu destino, com coragem, estratégia e conhecimento.
Enquanto isso, na floresta, os olhos dos seres brilhavam na penumbra. Eles sabiam que Bragança tinha aprendido algo importante, que coragem sozinha não bastava, e que a cidade, agora, começava a tornar-se digna do que a floresta guardava há séculos.
Continua...
N.B.: A narrativa e os personagens fazem parte do mundo da ficção. Qualquer semelhança com acontecimentos ou pessoas reais, não passa de mera coincidência.

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