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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite, Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues, João Cameira e Rui Rendeiro Sousa.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 17 de novembro de 2025

Pauliteiros, Caretos… procissões e manifestações religiosas

Por: Rui Rendeiro Sousa
(Colaborador do "Memórias...e outras coisas...")


 Regressando a uma das particularidades que transformam esta região num tal de território único: os Pauliteiros. “Dize que”… Pelo menos a partir do longínquo século XIII, os tais «dançadores da dança dos paus», ou, mais recentemente, «bailadores», como bem fui advertido, passaram a integrar, oficialmente, as manifestações religiosas, especialmente as «procissões do Corpo de Deus», ou aquelas que festejavam o «santo da terra». Isto porque a Igreja, bem ao jeito de «se não consegues vencer o inimigo, junta-te a ele», ao não ter tido a capacidade para eliminar as celebrações de carácter profano, tal como também acontecia com os «mascarados», optou por integrá-las nas suas celebrações. 

Assim sendo, passaram a ser vulgares as referências à presença de «mascarados», «tamborileiros», «gaiteiros» e «dançadores», nas manifestações de carácter religioso. No entanto, particularmente no que respeitava aos «mascarados», isso terá dado azo a excessos, nomeadamente a ajustes de contas em plena procissão! “De bêz’im quandu’e”, lá aparecia um devoto que não terminava a procissão… O que acabaria por redundar na proibição de «mascarados», quer por instruções eclesiásticas, quer por decretos régios. Prosseguiria, no entanto, a presença dos elementos musicais, assim o justificam, entre outra documentação, alguns «livros de contas» de confrarias ou irmandades. Embora fossem surgindo Pastorais dos Bispos a tentar limitar os excessos, particularmente os cometidos no interior dos espaços sagrados. 

É delicioso examinar a imensa documentação eclesiástica. Somos aí confrontados com realidades bastante distintas daquelas que conhecemos na actualidade. De repente, recordo-me da alusão que é feita aos abusos que eram cometidos dentro de igrejas ou de sacristias, onde se comia e festejava, noite dentro! Ou onde se dormia, «tudo ao monte e fé em Deus»… E outras coisas ainda mais mundanas… Mais tarde, alegando que os tocadores e dançadores distraíam os fiéis, foi mesmo proibida a sua presença em manifestações religiosas. Coisas do «arco da velha»…

A chegada de novos ventos, traria o regresso dos «Pauliteiros» às celebrações religiosas, voltando a misturar-se o profano com o sagrado. Assim como os «Caretos», especialmente nas festividades associadas ao Santo Estêvão, passariam a voltar a ter papel determinante. E muito haveria para dizer sobre as «Festas dos Rapazes», mas ficará para a altura própria. Como o haveria em relação a um incontável número de tradições populares que a chegada da «velha senhora» acabaria por castrar, algumas «matando» de irreversível forma, outras tendo tornado moribundas. O fenómeno da emigração também contribuiria, definitivamente, para esse abandono de milenares tradições, enraizadas na memória popular. Felizmente, resta a documentação para as relembrar. E, felizmente ainda, nas décadas mais recentes vem-se assistindo ao resgatar de muitas delas. 

Entretanto, a propósito desta junção entre festas pagãs e festas religiosas, subitamente me lembrei de outro aspecto. Que também incluía a presença de «mascarados», «tocadores» e «dançadores»: as antigas procissões a locais de culto pagão.

A nossa história colectiva é fabulosa! Por isso há sempre mais uma «carta na manga»… E não se esgotam, acreditem! Mas também não gosto que os textos fiquem muito longos… Como tal, já cá virei trazendo, para os interessados, outros temas, começando pelas antigas procissões… e as capelas no alto dos montes. E outras “cousas, pur’i”…

Uma nota final: antecipadamente, tenho consciência de que me arriscarei a comentários do género «nunca me lembro de ter ouvido falar nisso», «você não sabe o que diz», «faz uma grande confusão» e outras agradabilíssimas saudações do género… Coincidentemente, sempre provindos de pessoas cujos nomes nunca vi referenciados em bibliografia alguma. Não serão esses comentários, escritos em tom sobranceiro, impeditivos para continuar a partilhar com os meus conterrâneos, com todo o prazer, e em modo carolice, o pouco que sei, sabendo que nada sei. Tenho feito questão de interagir com todos os comentários que são deixados, com alguns dos quais tenho aprendido imenso. Todavia, não voltarei a fazê-lo com aqueles provindos da «sabetudologia wikipédica»… Pelo menos até ver os seus autores mencionados em qualquer bibliografia, que até poderá ser de «banda desenhada»... E que me desculpem, por esta nota final, as muitas pessoas com as quais, como dito, tenho aprendido imenso. Nomeadamente sobre boa educação e bons princípios… A minha eterna gratidão a elas!


Rui Rendeiro Sousa
– Doutorado «em amor à terra», com mestrado «em essência», pós-graduações «em tcharro falar», e licenciatura «em genuinidade». É professor de «inusitada paixão» ao bragançano distrito, em particular, a Macedo de Cavaleiros, terra que o viu nascer e crescer. 
Investigador das nossas terras, das suas história, linguística, etnografia, etnologia, genética, e de tudo mais o que houver, há mais de três décadas. 
Colabora, há bastantes anos, com jornais e revistas, bem como com canais televisivos, nos quais já participou em diversos programas, sendo autor de alguns, sempre tendo como mote a região bragançana. 
É autor de mais de quatro dezenas de livros sobre a história das freguesias do concelho de Macedo de Cavaleiros. 
E mais “alguas cousas que num são pr’áqui tchamadas”.

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