Uma paisagem de qualidade é um recurso dificilmente renovável e facilmente depreciável. É um património natural e cultural de uma região que desempenha um papel importante no bem-estar humano e na sua qualidade de vida. É a percepção do território que se abarca num lance de vista, onde as componentes naturais (clima, litologia, solo, relevo, água, vegetação e vida animal), formam um conjunto de inter-relações e interdependências que o vão transformando com o tempo.
A paisagem é, também, um espelho das relações antigas e actuais do homem com a natureza, que ao longo de gerações a foi modelando e organizando. As espécies vegetais e animais foram-se dispondo segundo padrões por si estabelecidos, que foram evoluindo com o tempo.
A paisagem está, pois, em constante evolução, pelo que registar a sua situação actual, permite não só a sua análise, como a comparação com o estado evolutivo numa situação futura.
Em termos evolutivos, as paisagens caracterizam-se por virgens, naturais e artificiais, consoante o grau de intervenção do homem, no seu processo de modelação e artificialização do meio. Uma paisagem virgem será uma paisagem não intervencionada pelo homem ou que já evoluiu novamente até à sua situação climáxica. A paisagem natural é aquela que, apesar de intervencionada pelo homem, se encontra em equilíbrio ecológico, muitas vezes com níveis de biodiversidade superiores ao de uma situação climáxica. Uma paisagem artificial será aquela em que o equilíbrio natural se perdeu, em que a artificialização do espaço é total, como acontece com os espaços urbanos, industriais, canais e outras infra-estruturas com expressão no território.
A paisagem originária desta região seria de um imenso carvalhal caducifólio, com carvalhos perenifólios ao longo dos vales dos rios Sabor, Maças e Douro. Os carvalhos de folha caduca seriam predominantemente da espécie carvalho negral (Quercus pyrenaica) e as espécies de folha persistente teriam o domínio da azinheira (Quercus ilex ssp. rotunfifolia). A intervenção do homem ao longo do tempo, transformou paisagens virgens em paisagens naturais, em que este vivia em equilíbrio com o meio, modelado de modo a garantir a sua subsistência. O abandono de muitos espaços de menor aptidão agrícola tem contribuído para que a sucessão ecológica devolva algumas zonas do território a uma situação climáxica, ou próximo dela.
Com o surgimento dos espaços urbanos criaram-se paisagens artificiais, em que o equilíbrio com os aspectos biofísicos foi profundamente alterado.
As primeiras alterações significativas à paisagem são os povoados pré-romanos, dos quais se conservam, ainda, nesta região, numerosos vestígios. Deste período e da época romana são, ainda, visíveis vestígios arqueológicos em muitas aldeias, em posições estratégicas do território e nas estradas e pontes.
De um modo geral os habitats pré-romanos dispunham-se ao longo dos rios, como os castros de Moimenta ou da Torre de Maças; na bordadura dos altiplanos, como o castro de Cidadelhe de Vinhais; ou em pleno contexto montanhoso, como o castro da Torre de Soutelo de Gamoedo, em Carragosa.
Com a romanização do território esta região continua o seu processo de humanização da paisagem, com a arroteia dos espaços florestais e com o incremento da cultura cerealífera. Em paralelo surge a construção das vias e das respectivas pontes, como as pontes sobre os rios Sabor, Angueira e Maças, em Vimioso e sobre o rio Tuela em Vinhais.
Na Idade Média, com a formação da nacionalidade, uma das primeiras preocupações dos soberanos foi povoar o reino através da distribuição de terras a fidalgos e á Igreja. Foi também criado um sistema de forais colectivos, já que as rudes condições geográficas e sociais desses tempos exigiam que toda a organização do espaço dependesse da vida em grupo. Muitos desses hábitos comunitários conservaram-se até aos dias de hoje em muitas das aldeias.
A necessidade de protecção das populações de um reino em formação, levou à criação de castelos e atalaias defensivas, como os de Miranda do Douro, Bragança, Vimioso e Vinhais e a Torre da Atalaia em Vimioso.
A Igreja também vai pontuando de uma forma marcante o território, com a construção de grandes igrejas em Bragança e Miranda do Douro e de conventos como o de Santa Clara e S. Francisco em Vinhais, o Convento dos Franciscanos e o Mosteiro de Castro de Avelães, em Bragança.
Por todo o território, onde há um aglomerado populacional, um ponto notável sobre a paisagem, ou ainda, um lugar de culto pagão que importa cristianizar, surge uma igreja ou capela, cuja riqueza decorativa varia consoante a capacidade da comunidade que a constrói.
A utilização de materiais locais levou a uma uniformização das tipologias construtivas, principalmente das casas, que de forma engenhosa foram adaptadas às necessidades dos moradores, mantendo-se ainda em alguns aglomerados habitacionais as suas características primitivas em harmonia e equilíbrio com o espaço envolvente.
Destacam-se pelas suas características particulares e potencialidades turísticas atendendo ao valor cénico, qualidade do casco urbano primitivo, intervenções de recuperação já realizadas, entyre outros atributos, as povoações de Pinheiro Novo, Moimenta, Rio de Onor, Guadramil, Cova da Lua, Varge e Nunes, Paradinha, Argozelo, S. Joanico , S. Martinho de Angueira, Constantim, Caçarelhos, Ifanes, Vilar Seco, Silva, Cércio e Sendim.
Para além das construções habitacionais e de carácter religioso, há nesta região um número significativo de construções ao longo dos rios para aproveitamento da energia hídrica, como é o caso dos engenhos de linho (pisões) e das azenhas e, com especial predominância nos concelhos de Bragança, Vimioso e Miranda do Douro, outras construções que se destacam pela sua singularidade no território português, os pombais.
Característicos das zonas cerealíferas, surgem geralmente agrupados e os mais curiosos apresentam plantas circular ou em ferradura.
Constituem intrusões com forte impacte negativo no equilíbrio ambiental, os depósitos e vazadouros de lixo e sucata, sobretudo os que se encontram nas encostas sobranceiras às linhas de água, como no rio Sabor, junto a Rabal e no equilíbrio da paisagem urbana, a generalidade das construções edificadas nas últimas décadas, muitas vezes inacabadas e sem qualidade arquitectónica, patente na implantação, volumetria e tipologia inadequadas e recurso a revestimentos e cores contrastantes com os materiais tradicionais.
Na análise da situação da paisagem actual da Terra Fria Transmontana, constata-se que a humanização da paisagem é grande, restando apenas pequenas áreas de situação climáxica e uma área urbana percentualmente reduzida, face à grandeza do território.
in:rotaterrafria
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