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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 9 de março de 2012

“Hoje temos muitos adultos com fé de criança”

Foto: A.P.
Disse D. José Cordeiro, Bispo da Diocese
D. José Cordeiro, Bispo da Diocese de Bragança-Miranda, foi, no passado dia 2, o convidado de mais uma conferência realizada no salão paroquial de Santo Condestável, em Bragança, no âmbito da temática «Liturgia e Nova Evangelização». No final, após a exposição, falou ao Mensageiro sobre alguns dos pontos abordados nesta conferência.
P.: Disse aqui que a fé é um dom, mas existe uma crise de fé. Como é que é um dom, mas existe uma crise?
R.: A fé é sempre um dom de Deus, mas exige o cultivo da inteligência do coração do Homem que adere de uma forma pessoal, livre e consciente a Jesus Cristo, porque é sempre o resultado de um encontro. A crise de fé que foi apontada pelo Papa Bento XVI como uma crise na Igreja é uma constatação, sobretudo na velha Europa, e é uma crise, eu atrevia-me a dizer, é uma crise do Homem, é uma crise antropológica que pôs em causa os valores fundamentais da vida. Esses mesmos valores são os valores cristãos, porque o mistério do Homem só à luz do mistério de Cristo pode entender-se completamente. A crise que estamos a viver não é apenas económica e financeira, é uma crise ética e a crise da ética é também uma crise de fé, porque falta esse encontro com a pessoa que dá o sentido à existência. Porque se pensou, e muita gente pensa, que a felicidade ou a realização da pessoa estava noutros valores, mais efémeros, mais materiais. Agora, quando foram postos em crise, então percebeu-se que havia um vazio dentro da própria pessoa e esse vazio é uma crise de fé. É uma fé humana e é uma fé cristã que está em crise.
P.: Acontece na Europa, enquanto em outros países, principalmente da Ásia, está a crescer.
R.: Este Papa também diz que o terceiro milénio é da Ásia, é da Igreja na Ásia. Cresce de uma forma impressionante e de uma forma também convicta, porque são, sobretudo, os adultos que se fazem baptizar e entram neste processo de iniciação. Não sei se a Europa tem que passar por este momento e por esta crise, também, para se reencontrar consigo mesma, porque, como eu disse, o cristianismo não nasceu na Europa, mas a Europa nasceu do cristianismo. Quando a Europa se desliga das suas raízes perde a sua identidade e uma pessoa sem identidade é uma pessoa sem Norte na vida.
P.: Foi a Europa que perdeu a fé, ou Deus que abandonou a Europa?
R.: Não, Deus acredita sempre no Homem, mas criou-o com liberdade, com vontade, com capacidade de amar e por isso Deus permite isso mesmo, porque o Homem é livre. Se calhar é uma oportunidade também para as pessoas se voltarem para Deus, mas primeiro têm que cair em si, olhar a sua realidade, a sua circunstância, para voltarem ao primeiro amor que é Deus, que é a fonte do amor. Certamente que há muitas causas para isso e não é um facto isolado, mas o certo é que perdendo-se os valores fundamentais como a justiça, a verdade, a paz, o amor, perde-se essa ligação. E isto, até há bem pouco tempo, era transmitido pela família. Era quase bebido no leite materno, tal como a fé, e deixou de se operar isso. Então tem de ser um processo mais alargado. Daí esta urgência da reevangelização, da proposta do Evangelho como o caminho da vida, com o sentido da vida.
P.: Aqui, pediram-lhe para explicar aos simples o que pretendeu transmitir com a importância da Liturgia. Eu pedia-lhe o contrário, para explicar a “visibilidade” de Cristo, às pessoas mais racionais.
R.: Às pessoas mais racionais eu diria que a fé não se consegue só pela razão. A razão não se contrapõe à fé, nem a fé se contrapõe à ciência, nem à razão. Mas só pela razão é difícil porque exige o encontro, é como o amor. Não se pode explicar apenas pela mera racionalidade. Exige o confronto com a palavra visível e ninguém é cristão sozinho, por isso ninguém pode dizer: eu tenho a minha fé. É na fé da Igreja que nós construímos a nossa própria fé. É quando nós percebemos que isto nos liga a alguém que é alguém que nos ama, então é que existe essa cambalhota também. Só pela via intelectual eu não digo que é impossível, porque a Deus nada é impossível, mas digo a esses racionalistas que Deus é maior do que a inteligência, Deus é maior do que o coração humano, Deus é maior do que as nossas elucubrações filosóficas, intelectuais.
P.:Apesar dessa crise de fé, disse também que se calhar a Igreja nunca esteve tão bem como hoje.
R.: Sim, eu tenho essa visão optimista da Igreja, dizendo que a Igreja nunca esteve tão bem como hoje porque nunca se viveu numa liberdade religiosa como existe hoje, nunca houve tantas vocações na Igreja como hoje, nunca houve tanto sentido de pertença à Igreja como hoje e, se calhar, também nunca houve tanta gente com uma pertença activa, pessoal, convicta na relação com Cristo e com a Igreja. Se eu dissesse o contrário estaria a pôr em causa a existência do espírito Santo na Igreja e a presença de Cristo Ressuscitado. Estaria a pecar contra o Espírito Santo, porque Ele hoje continua a realizar maravilhas e toca-nos a nós ser facilitadores desse encontro. Por isso, estas acções que se fazem, como tantas outras, é em ordem a uma formação permanente que é absolutamente necessária na Igreja, para dizer que a fé tem que acompanhar as etapas todas da existência humana e tem que acompanhar todos os conhecimentos ao mais alto nível. Porque hoje temos muitos adultos com fé de criança, com fé infantil, porque pararam ou na Primeira Comunhão, ou na Comunhão Solene, ou no Crisma, ou com algumas pinceladas, e a eles Deus não lhes diz nada porque têm uma compreensão infantil de Deus. Claro que com esse Deus não querem nada, tem que ser com um Deus a quem possam tratar por tu e ter uma relação de tu a tu, coração a coração, olhos nos olhos.

Por: Ana Preto
in:mdb.pt

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