Apostar na qualidade do azeite, na gestão sustentável e em mercados externos mais diversificados foram alguns dos desafios deixados pelos especialistas do sector olivícola na conferência «Olival e Azeite - Os novos desafios do mercado», a 10 de Outubro, em Lisboa. Para os participantes no encontro, Portugal deve manter o actual nível das exportações superior as importações.
O mercado de azeite cresce em Portugal, a cada ano, em produção e consumo. Um mercado que oferece grandes possibilidades de incremento exportador em novos países consumidores, como os EUA e o Brasil. Por sua vez, o olival ocupa uma área crescente de terreno em Portugal, sobretudo no Alentejo. Neste momento o país já exporta mais do que importa, permitindo igualmente um reconhecimento internacional importante. Foi este o mote do encontro, que deu início à discussão em torno das «Novas técnicas de condução do olival em sebe», através de Marisa Fernandez, da empresa espanhola Todolivo, no mercado desde 1985, e que há dez anos utiliza tecnologias e maquinaria avançada no sector do olival. «Está claramente provado que os custos de produção podem ser menores e a produtividade é o grande sucesso deste tipo de cultura», garantiu.
«O olival de sebe é uma excelente alternativa para a produção de azeite 100% virgem extra, sobretudo se a tecnologia que utilizarmos for devidamente utilizada», considerou a responsável, acrescentando que este sistema de cultivo «permite uma gestão mais eficaz durante o ciclo produtivo, desde a assistência técnica ao olival ou à utilização de máquinas modernas para apanha da azeitona em oliveiras em sebe».
Marisa Fernandez realçou igualmente que neste tipo de sistema, «de grande capacidade e com os mais rigorosos sistemas de controlo de qualidade para a produção de azeite virgem extra, a produtividade e a rentabilidade da colheita é muito maior» sobretudo se a comparação for com os sistemas de cultura tradicional, «onde há falta de rentabilidade, custos de produção elevados e perda de qualidade».
Para a técnica da Todolivo, um sector olivícola com sustentabilidade tem igualmente de ter em conta «os baixos preços existentes no sector» bem a «concentração da distribuição que influi nos preços». Por tudo isto, considerou ser «fundamental apostar em tecnologias que promovam a qualidade, racionalizando os custos».
Ou seja, o olival em sebe, quando bem gerido, promove «elevados índices de produtividade, baixos custos de produção e altos benefícios sem necessidade de recorrer a subsídios», frisou.
Consumo per capita aumentou em Portugal:
A Manuela Nina Jorge, da Agrogés, coube a exposição sobre a «Análise de rentabilidade em diferentes tipos de olival». A especialista realçou que, a nível mundial, «o azeite está limitado em termos de produção», sendo que actualmente 95% da superfície do olival está concentrada na Bacia Mediterrânica. Países como Espanha, Itália, França, Grécia e Portugal têm a seu cargo 72% produção mundial.
Os dados recentes sobre o sector indicam que na UE, Portugal representa 3,3 % da produção. «Nos últimos 15 anos verificou-se um crescimento de 37% a nível mundial, sendo que a UE representa 63% do consumo mundial», informou.
A responsável da Agrogés sublinhou também que «o consumo tem aumentado em países que, até agora, não eram tradicionalmente consumidores», como é o caso dos Estados Unidos, país que, na lista se posiciona imediatamente a seguir à Itália e à Espanha, no segmento do mercado de consumo. «Já na UE, os principais produtores são, paralelamente, os principais consumidores». E são eles Itália, Espanha, Grécia e Portugal.
Outra mudança, «positiva», registada nos últimos anos em Portugal, diz respeito ao consumo de azeite per capita, onde o nosso país tem alcançado índices «consideráveis». «Apesar da crise económica, o consumo per capita aumentou, tendo descido nos restantes países consumidores», disse, lembrando que tal facto pode estar associado à cada vez maior substituição de outras gorduras pelo azeite, «conhecidos que são os benefícios deste para a saúde».Em Portugal, explicou, «houve investimento em áreas novas», ainda que o país «mantenha praticamente os mesmo níveis de área registada nos anos 90, à volta de 350 mil hectares de cultivo».
No que respeita à produção, há duas regiões que se mantêm muito produtivas, e que se destacam do restante território olivícola: Trás-os-Montes e Alentejo (esta última região registou, em 2011, um aumento significativo, sobretudo com apostas em olival intensivo e superintensivo).
«Também a qualidade do azeite melhorou bastante na última década. Globalmente, devido à melhoria do grau de acidez mas também na concepção da produção e com a melhoria dos lagares», salientou. No que toca aos lagares, Manuela Nina Jorge lembrou que as novas normas de higiene, resíduos e obrigações ambientais, potenciaram a «exigência». «Muitos lagares viram-se obrigados a fechar as portas. Por outro lado, aumentou bastante a transformação das colheitas, por exemplo, em lagares industriais».
E na exportação, que «tem vindo sempre a aumentar», Portugal conseguiu, pela primeira, ao fim de 12 anos, obter no sector do azeite, uma balança comercial positiva. «O valor da exportação do azeite é mais valorizado do que o que importamos. O que prova que Portugal é um país com excepcional vocação exportadora». E os números provam isso mesmo. O Brasil é o principal destino do azeite português, importando duas vezes mais do que toda a UE, seguindo-se Espanha e Angola.
«O mercado brasileiro representa 65 % das exportações nacionais e 50% do consumo do azeite no Brasil», afirmou Manuela Nina Jorge. Contudo, alertou para a necessidade de Portugal «se abrir a novos mercados» já que «pode ser perigoso a concentração de marcas apenas no Brasil».
No final da sua intervenção, a especialista lembrou que na última década, o nosso país «duplicou a produção e o consumo de azeite, registaram-se melhorais na qualidade do azeite, verificaram-se investimentos consideráveis de olival, sobretudo no Alentejo, bem como foi notório um aumento do consumo global». «Tudo isto fez com que a linha exportadora alcançasse níveis de topo. Continuar esta aposta é decisivo para o futuro do sector e da nossa economia», finalizou.«Melhor azeite, com custos controlados»:
Ana Carrilho, da empresa Olivais do Sul, fez uma exposição sobre a «Gestão da produtividade e da qualidade do azeite», numa abordagem à optimização na extracção de azeite. E começou por se dirigir aos produtores: «nos tempos actuais, temos que produzir mais barato e cada vez com maior qualidade. E temos de o fazer, sacrificando os custos, tendo custos mais controlados para também as nossas empresas serem mais sustentáveis».
A responsável prosseguiu enumerando os factores fundamentais para obter, desta feita, um azeite de qualidade. «Há factores que determinam a qualidade do azeite, intrínsecos, que não podemos modificar, como o clima, o solo, variedade, localização. Mas, depois, temos os extrínsecos, que podem ser trabalhados, como a colheita, a rega, as práticas culturais, a fertilização, poda, tratamentos, fitossanitários, transporte, etc.».
Na elaboração, «é fundamental a separação por variedades da azeitona, por qualidade e atingir o grau de maturação desejável, grau esse que define as características organolécticas do azeite».
Também o uso de materiais inertes é essencial: «é importante impedir o esmagamento da azeitona, calcular o tempo de armazenamento, ter um pátio coberto que protege do calor ou da chuva, cuidar do devido transporte, e ter depois uma boa amostragem, sabendo o que está a entrar no lagar em termos de gordura e de humidade».
No campo da extracção, «dever ter-se em conta o tempo, a velocidade e a temperatura do batido; a quantidade e temperatura da água nas centrífugas; a análise do rendimento e humidade do bagaço; a acidez e análise organolética a todas as partículas (para a correcta separação dos azeites obtidos); e a higiene de todas as instalações».
Ana Carrilho não esqueceu também de salientar a importância do armazenamento, «onde é fundamental a utilização de depósitos opacos de material inerte e o controlo da temperatura em armazém para facilitar a decantação».
No engarrafamento «é essencial o loteamento, consoante o tipo de mercado, seja a granel ou engarrafado, mas também a filtragem do azeite, que evita o aparecimento de borras. Seja em garrafa, garrafão ou lata, os produtores, para terem azeite de qualidade devem, pois, certificar-se que obtêm a temperatura e o volume de ar adequados». E, apesar de a validade recomendada, em termos gerais, ser de 18 meses, «cabe a cada embalador definir os prazos certos de validade consoante o tipo do azeite. «O consumidor é o nosso objectivo fina e se não houver qualidade, não há azeite de sucesso», concluiu.
No final do encontro, vários responsáveis de algumas empresas nacionais que se dedicam à produção e comercialização de azeite, partilharam com o público as suas experiências ao nível da exportação, dos mercados e da concorrência.
A Conferência «Olival e Azeite - Os novos desafios do mercado» foi organizada pela Revista Vida Rural.
A Conferência «Olival e Azeite - Os novos desafios do mercado» foi organizada pela Revista Vida Rural.
Ana Clara
in:cafeportugal.net
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