Na sequência do estudo da Associação de Defesa do Consumidor (Deco), alertando para irregularidades em cinco marcas de azeite (25 analisadas) presentes no mercado nacional, Francisco de Almeida Lino, chanceler da Confraria do Azeite, reconhece que estas «fraudes pontuais contaminam todo o sector». E alerta para os perigos de, eventualmente, «não se responsabilizar toda a cadeia, desde a produção, aos embaladores, até ao consumidor final».
Francisco de Almeida Lino, da Confraria do Azeite, instado pelo Café Portugal a analisar o estudo divulgado recentemente pela Deco, que alerta para irregularidades em algumas marcas de azeite comercializadas no nosso país, começa por realçar que Portugal produz azeites «absolutamente sublimes com reconhecimento internacional no top dez, ou seja, na categoria dos melhores do mundo».
O responsável salienta, nesta medida, que «são exactamente casos destes que depois são trabalhados até pela concorrência internacional e que agarra neste tipo de informação e a tenta deteriorar, ao ponto de elevar o estigma que temos lá fora de sermos aldrabões».
Por esta razão, o chanceler da Confraria do Azeite, diz que a falta de confiança, «a base de negócio» do sector, «não pode ser abalada. E para reconquistar essa confiança junto do consumidor isso demora depois muito tempo. É inadmissível que, por causa de dois ou três produtores, toda a fileira saia prejudicada».
Quanto ao estudo em concreto, efectuado pela DECO, o dirigente não coloca em causa a seriedade do mesmo. Contudo, realça que «o pressuposto é que pode não ser, na nossa óptica, o mais correcto». E exemplifica: «quando se afirma que um determinado azeite é o mais bem classificado, a questão que o consumidor deve colocar é só uma: mais bem classificado para que tipo de utilização?».
Contudo, «pelos vistos estamos perante uma fraude, e aí deve ser o Estado português a utilizar os instrumentos ao seu dispor e agir», defende.
Acrescenta também que o facto de a rotulagem conter uma designação, «no caso azeites extra virgem, isto significa que são azeites que não têm qualquer defeito organoléptico e que têm parâmetros químicos que vão até 0,8 de acidez».
«Acontece que, em minha opinião, o pressuposto não é o mais acertado. Por vezes, o produtor tem no armazém, azeites extra virgem. Ao serem embalados estão sujeitos a toda uma a logística posterior que surge depois até ao consumidor final – a distribuição. Sai fora do controlo do produtor», sublinha.
Francisco de Almeida Lino adianta que «quando alertamos para os cuidados na distribuição e para o consumidor final, toda esta cadeia de pessoas deve ter os cuidados específicos, como agir de forma a que o azeite não apanhe luz, estar guardado em espaços frescos, etc., já que o azeite é muito sensível e tudo isto foge ao controlo do produtor».
O responsável da Confraria do Azeite diz, por isso, que de acordo com o que sabe, «em algumas amostras deste estudo, que têm origem no supermercado, pode haver aqui uma adulteração de alguns atributos positivos que passam a negativos, embora toleráveis para o consumo humano. E tem de se ter isso em conta».
Alerta por isso para eventuais «irregularidades» que «é preciso ter em atenção para não serem depois imputadas responsabilidades a quem pode estar totalmente alheio, no caso o produtor».
Por fim, reforça a ideia de «ser essencial chamar a atenção à cadeia de distribuição e também às suas responsabilidades».
Deco defende maior fiscalização:
Ao Café Portugal, Dulce Ricardo, do Departamento de Alimentação e Saúde da Deco, garante que os resultados agora conhecidos, «foram enviados para os fabricantes em Maio passado».
No trabalho de campo que depois levou às conclusões do documento, «a análise foi efectuada sempre do ponto de vista do consumidor e tratada como tal» a partir de colheitas anónimas em cadeias e pontos de venda.
A responsável garante que, «a legislação do azeite está muito bem definida e, através desta, existem parâmetros que estão legalmente definidos e nos dão ideia sobre a qualidade e a frescura do azeite, como a acidez, por exemplo. A prova de degustação - também efectuada - serve para ter uma ideia geral do produto».
A prova de degustação, acrescenta, «fez depois a diferenciação que levou à não conformidade das quatro marcas entre azeite virgem e azeite virgem extra».
As análises foram feitas por um laboratório credenciado para o efeito, nas provas físico-químicas e na análise sensorial, informa a técnica da Deco.
A Deco adianta que os casos de fraude e de desrespeito da denominação de venda do rótulo foram denunciados à Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) para agir em conformidade. Contudo, Dulce Ricardo defende uma maior fiscalização de todo processo da cadeia, desde o lagar até ao ponto de venda.
«Os próprios embaladores e produtores têm de estar conscientes de que é fundamental colocar no mercado produtos de qualidade», vinca a responsável.
Recorde-se que o estudo em causa foi efectuado a 25 marcas de azeite e publicado na edição de Setembro da revista PROTESTE.
Foram detectadas cinco marcas em situação ilegal: a marca Alfandagh, Azeite Biológico, descrita no rótulo como azeite virgem extra, nem sequer azeite é, ten-do as análises comprovado a presença de outros óleos vegetais refinados que não o originário da azeitona.
Em relação a outras quatro marcas [«Auchan» (DOP Moura), «É» (Continente), «Grão Mestre» e «Naturfoods»], o azeite estava mal rotulado. Nos rótulos, apresentam-se como "azeite virgem extra”, quando deveriam «ser classificadas como “azeite virgem”, apenas».
Ana Clara
in:cafeportugal.pt
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