Em plena campanha de vindimas, os vitinicultores do Douro queixam-se de falta de mão-de-obra. Por isso, recorrem à "torna-jeira", ajudando-se mutuamente nas tarefas. Este ano, a produção supera as expectativas em quantidade e qualidade.
As uvas já estão maduras e no ponto de serem cortadas, mas os vitivinicultores do Douro não têm quem trabalhe na vindima. Os mais novos emigraram e grande parte dos que ficaram na região não tem idade nem condições para o trabalho.
“Arranjar pessoas para trabalhar na vindima? É impossível, porque hoje em dia os poucos que ficaram querem receber o dinheiro sem esforço físico”, afirma à Renascença Jorge Vilela, vitivinicultor de Cotas, referindo-se a beneficiários do Rendimento de Inserção Social, que poderiam responder à chamada para a vindima.
Rui Grácio, de Sanfins do Douro, também não encontrou na região quem contratar. “A grande parte das pessoas, entre os 20 e os 40 anos, está emigrada e os que ficaram ou são muito novos ou muito velhos para trabalhar”, diz.
Para fazer a vindima, que ainda está a decorrer, o vitivinicultor de Cheires Luís Alves procurou trabalhadores no exterior: “Fui buscar três mulheres reformadas à montanha, lá para Tinhela, e lá andam a vindimar”.
Luís Alves realça o esforço financeiro que isto implica. “Tenho que lhes dar de comer e de dormir, além de lhes pagar a jeira a 30 euros por dia”, explica. Porque “aqui não se arranja ninguém e eu tenho para aí 100 pipas de vinho”, acrescenta.
Albino Borges, vitivinicultor de Cotas, lamenta o cenário e avisa que, sem "ninguém para contratar, a vindima vai demorar mais tempo”.
Douro recupera tradição da cooperação e ajuda mútua
No concelho de Alijó, para contornar o problema da falta de mão-de-obra, os pequenos e médios produtores estão a realizar a vindima ao fim-de-semana, aproveitando os jovens da família que estão a estudar, os amigos que vêm de fora e ainda com recurso à “torna-jeira”.
“A vindima é feita praticamente com amigos e familiares e conseguimos fazer uma coisa que já não se fazia há algum tempo, que é fazermos o trabalho uns dos outros”, testemunha à Renascença Rui Grácio, para quem a falta de trabalhadores está a “obrigar a região a implementar de novo a "torna-jeira".
“Eu ajudo aquele e ele ajuda-me a mim e vamos fazendo a vindima assim. Ajudamo-nos uns aos outros”, explica António Sequeijo, de Cheires.
A ajudar à vindima na Quinta de Santa Luzia, em S. Mamede de Riba Tua, está um casal de professores desempregados. Vieram de Viseu para engrossar o "rancho" nos socalcos durienses.
“É uma forma de contribuirmos para a economia do país”, refere Cristina Gonçalves. O marido, Bruno Morgado, salienta o “espírito de ajuda, o bom ambiente que se cria, a diversão e o desporto” nas vindimas do Douro.
Ano de excelente quantidade e qualidade
A Região Demarcada do Douro estima uma boa colheita em termos de qualidade e quantidade.
“Este ano tenho o dobro de uvas do ano passado, o vinho é bom e com bom grau”, refere à Renascença Luís Alves, explicando que tudo se deve à chuva. “As uvas estavam secas, mas depois choveu e começaram a engordar”, explica, para reforçar: “É um ano mesmo bom”.
“Este é um ano excepcional e, em termos de grau, as adegas estão de parabéns”, refere Guilhermino Araújo.
A contar com uma boa produção está também Rogério Vieira: “É bem superior à do ano passado, talvez 25% mais, e a qualidade é muito boa”.
Segundo dados da Associação de Desenvolvimento da Viticultura Duriense (ADVID), a produção de vinho no Douro deverá rondar, este ano, entre as 233 mil e as 253 mil pipas, valor superior à produção de 218 mil pipas declarada no ano passado.
Nesta vindima aumenta também para 100 mil o número de pipas (550 litros cada) a beneficiar - quantidade de mosto que cada vitinicultor pode destinar à produção de vinho do Porto. Em 2012, foram produzidas 96.500 pipas de vinho do Porto
Olímpia Mairos in Renascença
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