O Misto Mirandela-Bragança na Estação de Remisquedo (MARISTANY 1971, 187) |
Entretanto os povos do Distrito de Bragança empreendem uma luta algo desesperada para tentarem apanhar (literalmente) o comboio do progresso e saírem do isolamento a que estavam votados devido à absoluta falta de viação, reclamando-o e manifestando-o de forma clarividente através de representações que enviam às Côrtes desde pelo menos 1882 -quando foi necessário apoiar o Governo na decisão em continuar a Linha do Douro por território espanhol-, postura que manterão até verem concretizadas as expectativas criadas (DG 1888a; DG 1882; DG 1890a; DG 1899).
E a Linha do Douro vai avançando do Pinhão até à foz do Tua, cuja margem direita assiste à chegada do comboio em 1.IX.1883 com a abertura da circulação pública desse troço (ABREU 2005), tendo sido alguns meses antes realizado o concurso público para a construção e exploração da linha férrea de Foz-Tua a Mirandela.
Foi o contrato provisório de adjudicação dessa via férrea realizado a 24 de Dezembro desse ano, aprovado por carta de lei de 26.V.1884, tornando-se definitivo a 30.VI.1884, sendo concessionário o conde da Foz que inaugurou os trabalhos a 16 de Outubro, trespassando os direitos à Companhia Nacional de Caminhos de Ferro no ano seguinte (CP 2002; ALVES 1975-1990, IX, 225).
Continuou-se a prever a continuação desta via por Macedo e Bragança até à fronteira, onde deveria entroncar na de Zamora, lamentando o Abade de Miragaia em Abril de 1884 ser de via reduzida, apenas 1m largura, pela demora e despesa de baldeação a que obrigará todas as mercadorias e géneros; enquanto se fosse de via larga como a do Douro e a de Zamora os comboios de mercadorias passavam rapidamente... ha economias que são verdadeiros desperdícios, e esta é uma das taes (LEAL 1886, 478).
Aliás a intenção de prolongar esta linha está bem patente na Portaria de 10.VI.1887, ordenando que a estação em Bragança fosse traçada de forma que o caminho-de-ferro pudesse ser continuado quer para Espanha, quer para Miranda do Douro a ligar com a linha do Pocinho, e que este se aproximasse dos jazigos de mármore e alabastro de Vimioso (DG 1887).
Foi a 29.IX.1887 realizada por D. Luís I (acompanhado pelo Ministro das Obras Públicas Barjona de Freitas) a viagem inaugural desta primeira etapa2 daquela que viria a ser designada por Linha do Tua (CP 2002; Boletim 1949, 20).
Segundo o testemunho de quem assistiu ao acontecimento (o antigo factor de 3.ª classe Álvaro Augusto da Fonseca), na estação do Tua aguardavam o comboio real para além do governador civil e do bispo, representantes das Câmaras Municipais de Mirandela, Macedo de Cavaleiros, Bragança, Valpaços, Vila Flor e Alfândega da Fé, acompanhados de 6 bandas de música e de muito gente, como de costume quando os políticos o desejam.
Foi o comboio com a comitiva da realeza e seus acólitos rebocado pela locomotiva baptizada com o nome de “Trás-os-Montes”, que teve como maquinista especial o eng.º Chefe da Exploração. Em Mirandela após as apresentações oficiais houve recepção nos Paços do Concelho, tendo os grandes da capital sido hóspedes do conde de Vinhais.
Teve aquela linha como primeiros ferroviários, o Eng.º António Xavier d’Almeida Pinheiro (Director), Eng.º Dinis Moreira da Mota (Chefe da Exploração), João Valério dos Santos (Chefe de Tracção e Oficinas), João E. Chaves (Chefe da Fiscalização e Estatística), Simão Marques Pinheiro (Chefe do Movimento e Tráfego), Dr. António Nunes da Rocha (Chefe do Serviço de Saúde) e Jerónimo Maria Cardoso (Chefe da Rede e recrutador do pessoal do movimento e primeiro chefe da estação de Mirandela) (Boletim 1949).
Ainda como contributo para a História desta ferrovia aqui se deixam registados outros aspectos captados através de alguns dos muitos diplomas legais de que o caminho de-ferro foi alvo:
- que no ano seguinte após o início da sua exploração, a Companhia Nacional de Caminhos de Ferro apresentou junto do Ministério da Obras Públicas, Comércio e Indústria (era titular Emídio Navarro) algumas contestações quanto ao contrato para a execução do serviço commum e combinado da exploração dos caminhos de ferro do Minho e Douro e de Foz-Tua a Mirandella, as quais deram origem à portaria de 24.VIII.1888 que previa a nomeação de árbitros por ambas as partes para a sua resolução, árbitros que a 5 de , situação que deu azo a que o Governo publicasse um Aviso dando-lhe 10 dias para o cumprimento dessa cláusula, findo os quais suspenderia a garantia de juro independentemente de outras quaesquer providencias que o governo julgue dever tomar, para regularisar devidamente o serviço nas linhas ferreas pertencentes à mesma companhia (DG 1888b);
Indústria (através do ministro Eduardo Coelho), por portaria de 6.XI.1889, que a fiscalisação da exploração do caminho de ferro de Foz Tua a Mirandella seja desaggregada da direcção dos caminhos de ferro do Minho e Douro, e constitua uma direcção especial de fiscalisação de caminhos de ferro (DG 1889a).
- cujo quadro de pessoal e respectivos vencimentos o director-geral das Obras Públicas e Minas Bento Fortunato de Moura Coutinho de Almeida d’Eça determina naquele mesmo dia e no qual constam 2 engenheiros, sendo um deles director e o outro adjunto (com os vencimentos marcados nas leis e mais disposições em vigor), 2 condutores (idem, portarias de 18.XI.1886 e 5.III.1887), 1 fiscal do movimento e tráfego (44$800 réis), 3 agentes fiscais de 1.ª classe (81$000) e 2 de 2.ª cl. (45$000), 2 aspirantes fiscais (39$000); para a Secretaria da Direcçao estipulava 1 pagador (30$000), 1 amanuense de 1.ª cl. (36$000) e 1 de 2.ª cl. (25$000), 1 desenhador (os previstos na lei), 1 continuo (18$000) e 1 servente (15$000) (DG 1889b);
- que passados 10 anos após o início da exploração e relativamente ao exercício do 1.º semestre de 1898 comparativo com o período homólogo do ano anterior, se haviam transportado menos passageiros (-619) mas um volume maior de mercadoria (em grande velocidade) e que a receita registou um valor negativo superior a 1 conto de réis, segundo o quadro infra (DG 1899).
Direcção geral das obras publicas e minas
2.ª Repartição
Caminhos de ferro
Carlos d’Abreu, 2006/2007
in:ocomboio.net
CONTINUA...
Sem comentários:
Enviar um comentário