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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 10 de abril de 2015

A minha mula deu-me uma patada!

Já algum tempo que andava com vontade de ouvir o tiu Manuel. É quase meu vizinho. Hoje fui ter com ele. Estava sentado à porta de casa na companhia da mulher. Foi um dos absolvidos da acusação de agressão à GNR, no tempo de construção da barragem de Bemposta, anos 1950/1963.
Passados que são mais de 50 anos ainda senti que havia algum receio em falar do que se passou. O olhar receoso da mulher quando ele falava mais solto e mesmo as choçadelas que lhe dava na perna, de modo despercebido, mostram bem o receio que ainda se sente.
O conflito surge porque alguns capatazes, chefes de equipa de trabalho agrediram fisicamente alguns dos trabalhadores da aldeia. Esta situação começa a gerar algum mal-estar entre a população e os barragistas.
Numa dessas situações de ânimos mais exaltados as pessoas juntam-se na zona do Sto Cristo, a GNR intervém, faz disparos e provoca alguns feridos. A revolta chama revolta e a aldeia em força junta-se e desarma a GNR. O reforço do contingente é significativo e muita gente é presa, agredida, ao soco, pontapé, cassetete e acusada, mesmo aqueles que não tinham estado envolvidos. A tragédia poderia ter sido maior. Alguns elementos da população que na posse de bombas de dinamite tentam atear-lhes fogo e lança-las contra a GNR. A dinamite estava com muita humidade e, sorte, não se incendiaram, teria sido uma tragédia, além dos guardas muita população teria sido atingida.
Quase já em fim de conversa e passadas hora e meia esticada e totalmente solto, fala doutras coisas. O brilho dos seus olhos e o riso achega-se como a reviver tempos de juventude e dispara: «ainda conheceste o tiu Porfírio Panqueler?» «Si.» «Era um homem balente e mui pandego. Já naquele tempo, quando se foi prá tropa, apareceu cá com duas raparigas. Depois teve que ser o pai a pagar-lhes a viagem para as mandar embora.
António Cangueiro
Já ele casado, uma vez, estava eu e outro ali no Pelourinho, ainda lá havia duas pedras grandes para bater o linho, aparece ele ali na esquina da rua junto à casa do tiu Rolés. Havia um ribeiro que corria rua abaixo. Ao passar o ribeiro: catrapus, chimpou-se e deixou-se cair de braços abertos dentro do ribeiro. Nós riamo-nos como perdidos. Passado um cachico pelo mesmo caminho aparece a mulher com um candeeiro na mão, lá teria ido à procura dele à taberna, dá de caras com ele. Ainda ele deitado chega-lhe dois tabefes bem dados. Lá a ajudamos a pô-lo de pé. Agarrou-o de braço dado mas ele tinha uma tal carraspana que não se detinha. Ele era um homem forte encostou-se a ela e pimpa, os dois pró chão, candeeiro e tudo. Apois, lá a ajudamos a levá-lo a casa. Olha que subiu as escaleiras de gatas como um menino. Ao chegar ao cimo das escadas, meio a rir-se faz-lhe uma festa na anca. Ela tinha um prato de esmalte ali à mão com cascas de batatas para mandar prá rua, pega no prato e zás, racha-lhe a testa duma ponta há outra. Toca a chamar o Senhor Albano que morava na praça. Tinha uma malica de enfermeiro e lá veio a cura-lo.
No outro dia quando alguém lhe perguntava como tinha acontecido aquilo, ele respondia: «a minha mula deu-me cá uma patada!»

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