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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Dás-me uma dentada, dou-te uma pedrada.

Salina, largo onde tanto joldei. Uma amoreira da índia ao centro. Ainda hoje lá está. Dava amoras brancas grandes. Muito boas. Ainda deve dar. Largo amplo onde a garotada se juntava para a brincadeira. Tantos os jogos: a bilharda, ao pingo, ao espeta, às escondidas, ao anjo, arrinca cebada, à bola, ao pião, corridas com a roda de ferro (neste verão passava eu pela barraquitas nas festas de Miranda do Douro e não resisti, agarrei na gancheta e na roda e dei uma volta. A minha mulher e as milhas filhas ficaram a ver menino homem que não resiste a ser menino).
Estava eu no largo da Salina, ainda vejo os vizinhos: Senhor Lázaro Cordeiro, tiu António Alcino, tia Parra, viúva, depois foi viver para Úrros com o seu filho, tiu Barandas e a sua mulher, tia Irene Sales, casa com tiu Joio. Lembro-me muito bem da tia Irene. Quando a bola ou a bilharda se chegava à sua porta não nos escorraçaba, metia uma conversinha e tinha sempre palavras carinhosas. O tiu Zé Gordo, o tiu António Barbeiro, o Senhor Napoleão Moura e a sua esposa, professora primária, Dª Gina, muita braba. Chegou a dar tantas baradas na cabeça das alunas que as fez desmaiar. Um pouco mais abaixo a tia Gracinda, casada com o tiu Morais. Um curral onde moraba tiu Zé Achim com a mulher e suas filhas, Clotilde e Adriana. Depois o tiu Fidalgo e mulher e os seus filhos. Outros esqueço mas a memória deles chega-me com a imagem das corridas com os seus filhos, rapazes e raparigas do meu tempo. O largo da Salina fecha a sul com a entrada na rua do castelo. Mandado construir pelo Rei D. Diniz que em visitas a terras de fronteira, o manda edificar para melhor defesa dos ataques Castelhanos. Foi este rei que mudou o nome para Bemposta, antes se chamava Pereinha. 
Dentro do Castelo morava o tiu Celestino Bento e sua esposa, D.ª Aninhas, tantas vezes vi minha mãe cozer o pão no forno. Nesse tempo Bemposta borbulhava de pessoas. Na minha infância a barragem está na força de construção e companheiros de jolda não faltam.
Na rua do castelo morava a tia Lurdes mãe do meu amigo de jolda o Manuel Sales. Também a seu lado morava o tiu Roelo com sua mulher e seus oito ou nove filhos. 
António Cangueiro
Lembro-me de num desses dias de jolda ter saído da salina a correr, sentar-me sossegadinho no escano com imensas dores, mas sem qualquer queixa. Dali a pouco chega a tia Lurdes com o seu Manuel pelo braço a barafustar a mostrar a cabeça do seu Manuel rachada e a sangrar a minha mãe. Nunca me lembro de minha mãe me bater sem ouvir a minha versão das coisas. «anda cá António, diz lá o que se passou». Eu meio a choramingar: puxo a camisola e as marcas de uma dentada estavam bem vivas. A minha mãe: «o seu deu-lhe uma dentada, o meu defendeu-se, deu-lhe uma pedrada. Estão quites.»
Assim se passou mais um dia de jolda. O Manuel com a cabeça rachada, eu com uma dentada.

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