Os produtores de castanha em Trás-os-Montes mostraram-se hoje preocupados com a vespa do castanheiro, praga que foi detetada recentemente na região e que, se não for combatida, pode eliminar 70% da produção nos próximos anos.
"O receio da quebra de produção é fundamentado. Se nós não fizermos nada, em três a quatro anos temos uma redução da produção em Trás-os-Montes que pode atingir os 70%", afirmou hoje, em Vila Real, o presidente da Associação Nacional da Castanha, RefCast, José Gomes Laranjo.
A região transmontana representa 80% da produção de castanha em Portugal, representando um rendimento anual de cerca de 50 a 60 milhões de euros.
Depois de, em maio do ano passado, ter sido detetado o primeiro foco da vespa do castanheiro em Portugal, na região de Barcelos, foram agora notificados dois casos desta praga em Trás-os-Montes, um deles confirmado em Carrazedo de Montenegro, concelho de Valpaços, e outro por confirmar em Bragança.
Dinis Pereira é produtor em São João da Corveira, Valpaços, e mostrou-se hoje muito preocupado com mais esta praga que está a afetar os soutos.
"Principalmente na nossa região, em que a economia assenta 80 ou 90% sobre a produção de castanha e estamos a ver que está tudo em risco de, dentro de dois ou três anos, não termos produção de castanha", afirmou à margem de uma reunião dos associados da RefCast.
Este produtor, que colhe cerca de 40 toneladas de castanha por ano, considerou que houve "um descuido muito grande" por parte de todos, desde produtores a entidades oficiais.
"A ânsia de meia dúzia de pessoas de ganhar dinheiro fácil acabou por introduzir uma praga que já se esperava, mas que se esperava que não que fosse a tão curto prazo", frisou.
José Gomes Laranjo explicou que os focos desta praga foram detetados em novas plantações, feitas este inverno e com castanheiros híbridos importados.
"Importados um pouco à margem da lei, castanheiros que não tinham os passaportes fitossanitários e que, infelizmente, a maioria deles, estava infetada", salientou.
O presidente da RefCast acrescentou que "foram plantados milhares de castanheiros destes e um pouco por toda a região de Trás-os-Montes".
Agora, segundo o também investigador da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, é importante que os produtores estejam atentos às novas plantações, detetem os focos de infeção e atuem de imediato eliminando os galhos infestados.
"Temos uma janela de oportunidade de um mês para atuar e se fizermos uma ação drástica durante este mês conseguiremos ainda minimizar o impacto desta cultura", salientou.
Explicou que durante este período será possível ver "os castanheiros infestados e a praga ainda não saiu do castanheiro para ir contaminar as árvores adultas que estão a dar fruto".
Esta vespa aloja os seus ovos nos gomos dos castanheiros. Só quando estes formam novos ramos é que se percebem as deformações e inchaços nas folhas. Depois de infetados, os ramos não conseguem dar mais fruto.
José Gomes Laranjo referiu que estão a ser feitos ensaios a nível da luta biológica contra esta praga, que consiste na introdução nas áreas afetadas de parasitóides, insetos que são capazes de exterminar esta vespa.
A vespa do castanheiro entrou na Europa através da Itália, onde já dizimou uma percentagem significativa da produção.
PLI // MSP
Lusa/Fim
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