Isaac Oróbio de Castro - Pensador Judeu do Século XVII
Baltazar (Isaac) Oróbio de Castro é um dos vultos mais notáveis do judaísmo do século XVII.
Nasceu em Bragança em Portugal, no ano de 1620, filho duma família judaica-marana. Não consta ao certo, quanto tempo ficou em Portugal, mas parece ter sido ainda muito jovem, quando abandonou a sua terra natal, emigrando para Alcalá de Henares, um município da Espanha na província e comunidade autônoma de Madrid, onde cursou filosofia.
O seu profundo conhecimento nesta ciência, e as suas grandes qualidades de mestre, o levaram a ser escolhido para dirigir a cátedra de metafísica na Universidade de Alcalá, e mais tarde na de Salamanca. Sentia-se atraído por este estudo, pois achava que só esta ciência o conseguia levar a um conhecimento exato. Mais tarde estabelece-se permanentemente em Sevilha, onde cursa medicina. Médico de profissão, Oróbio de Castro revela-se em proporções gigantescas, passando a ser o médico da família real e do Duque de Medinaceli (antigamente Medina Celi).
Convivendo com os homens de letras do seu tempo, muitos deles por inveja, procuraram deprimi-lo, fazendo com que ele fosse cair nas mãos do Tribunal do Santo Ofício, onde permaneceu durante o espaço de três anos, sofrendo as maiores torturas, entre os vastos interrogatórios, acabando por confessar ser cristão e prestar juramento de fé à Santa Madre Igreja.
Depois do seu cativeiro nos cárceres da Inquisição, os soberanos da Espanha, decretam a sua expulsão, dirigindo-se Oróbio para a França. A viagem era incômoda, as estradas péssimas; tudo concorria para tornar este exílio verdadeiramente aterrador. Mas Oróbio lutou e venceu. O arguto não se conformou com o sucedido, dispunha-se a lutar contra aqueles que maldiziam e perseguiam o judaísmo. Entra na França; nesse país encontra bom acolhimento, sendo já conhecida a sua reputação como médico hábil. Começa imediatamente a insinuação tênue mas firme no meio francês. Trava relações e consegue, com pasmo de todos, alcançar a cátedra da Universidade de Toulouse, sendo pouco depois nomeado conselheiro maior do rei da França.
Oróbio de Castro estava definitivamente lançado no meio francês. Mas os intelectuais desejavam afastá-lo, achando nele uma sombra. Torturado de desgostos e desilusões resolve partir para Amsterdã.
Em Amsterdã é recebido pela colônia judaica Luso-Hispânica da Holanda; nesta cidade foi Oróbio circuncidado mudando o nome de Baltazar para Isaac. A existência de grande número de cenáculos literários em Amsterdã levou os judeus a fundar a sua academia com o nome "os Floridos de la Almendra" de que faziam parte grandes intelectualidades judaicas, sendo Oróbio, por esta sociedade, científica e literária nomeado seu presidente.
Teve relações com os maiores vultos da época, como Brendemburg, Mosseh Rafael de Aguilar, a quem Oróbio fez por meio de epístolas algumas perguntas, a que faz referência Mendes dos Remédios em sua obra ..., Espinoza, a quem atacou mais tarde, como se vê nos seguintes versos de Daniel Levi de Barrios, na Relacion de los Poetas u Escritores Españoles de la Nacion Yudayca em Amesterdam:
Ishac Oróbio, Médico Eminenete ,
Com sus libros da invidia a la sapiente,
Y em lo que escreve contra el Atheista
Espinoza, mas clara haze la vista
Três anos depois de ter lançado o seu tratado intitulado Certamen Philosoficum findava os seus dias. Foi em 7 de novembro de 1687 que a morte agitando a rede de caça, aprisionava o seu cérebro de lutador, levando um dos mais brilhantes sábios de Israel, abandonando-o na saudade! Sua mulher, que se chamava Ester sobreviveu-lhe alguns anos mais, vindo a falecer em 5 de julho de 1712. Oróbio deixou alguns filhos, tais como: o médico Mosseh Oróbio de Castro que exerceu as funções de tesoureiro da Academia de los Floridos; Abraham Oróbio de Castro, fundador duma sociedade de beneficência de Amsterdã e uma filha chamada Rebeca.
Segundo Ribeiro dos Santos, foi Oróbio muito propagado no século XVIII, sendo vários os escritores que dele fazem menção, citando-os na sua obra intitulada, Memórias da Literatura Sagrada dos Judeus Portugueses no século XVII.
Ao cabo desta escassa biografia resta-nos dar algumas indicações sobre a sua obra. É ela modesta, sendo a sua maior aspiração a defesa da sua crença religiosa o que levou Ribeiro dos Santos a opinar "a religião cristã não tem tido nestes últimos séculos adversário mais cruel e obstinado que Oróbio".
Nos seus escritos desenvolveu Oróbio, o seu sistema filosófico religioso, vivendo sempre embebido num misticismo e sensibilidade mórbida, recolhendo-se a si próprio acompanhando todas as imaginações e meditações do seu cérebro. A sua fé intensa e calorosa ajudada pela filosofia foram os ideais que o levaram a escrever os seus tratados de defesa contra aqueles, que condenavam e maldiziam o judaísmo. O seu impulso foi intenso, auxiliado por uma natureza de lutador, não temendo os ataques de católicos e protestantes. "O afamado Oróbio de Castro – escreve Lúcio de Azevedo – na história dos Cristãos Novos Portugueses – natural de Bragança, contraditor de Spinoza e polemista exaltado contra o cristianismo".
Para a sua defesa apologética, teve o grande auxílio de poder exprimir com facilidade e eloqüência nas línguas em que escreveu os seus eruditos tratados, manejando-as como língua natal. Neles Oróbio estuda à luz da razão o problema religioso, dentro da sua feição filosófica, com características novas de tese apresentadas por um método racional, não nos dando o parecer de análise mas sim de exemplificação.
Certamen Philosophicum – Imprimiu-se pela primeira vez em Amsterdã no ano de 1689; Foi escrito em latim, seu amigo G. de La Torre, traduziu-a para espanhol dedicando-a "ao Senhor D. Carlos de Sotto, Agente de Espana em Hollande".
A obra espanhola foi impressa pela primeira vez no ano de 1721. É com razão que Ribeiro dos Santos pondera o seguinte a respeito desta obra: "Pelo que escreveu o seu certame contra Spinoza e contra Brendemburg, e escreveu como um filósofo que tinha estudado profundamente Metafísica". É na verdade tão extraordinária, que se torna difícil classificá-la. O ataque que evoca nesta obra contra Brendemburg e Spinoza aproveitou-o o autor com inegável superioridade e intuição.
Istael Vergé – Foi publicado em espanhol e mais tarde traduzido para o inglês e francês. Este tratado foi consagrado à defesa do dogma, contra os ataques dos adversários cristãos.
Neste tratado explica o seu autor os capítulos bíblicos, que servem de base a doutrina dos cristãos, provando que eles em nada favorecem a doutrina destes, mas pelo contrário, contradizem-na, dizendo-nos ele neste tratado: "O que é que Ele ordenou dando-a a nossos pais? Segui-la sempre com a mesma pureza que o seu servidor Moisés lhes prescrevia: Ele proibiu aos seus filhos que acreditassem em deuses que os seus pais não tinham conhecido".
De Oróbio de Castro são também as seguintes obras:
Epístola invectiva contra Prado, tratado este que no dizer de Ribeiro dos Santos é "o mais considerável de todos os que escreveu Oróbio". Nele pretende que a Lei de Moises confirme perfeitamente com a Lei Natural, e que a predição dos futuros contingentes e dos sucessos ocultos no porvir demonstrava a sua Divindade.
Tratado em que se explica La prophesia de las 70 Semanas de Daniel.
Explicação Paraphrastica sobre o Capítulo 53 do Profeta Isahias.
Tratado ou Repuesta a um Cavalleri Francez Reformado.
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