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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Dicionário do estômago

Ernesto Rodrigues
Vem o Outono e dá-nos para apetecer mesa demorada, uns acepipes que combatam tristezas de nação em piloto automático, como se não precisássemos de governo, nem de orçamento. O tempo arrefece, mas ao bacalhau constipado (também eu começo a ficar) prefiro um bacalhau da bruxa de Valpaços, que ignorava existisse: afinal, diz Virgílio Nogueiro Gomes no agora saído do forno Dicionário Prático da Cozinha Portuguesa (Marcador, 2015), também há coelho da bruxa de Valpaços…
Eu gostava que ele me explicasse estas e outras bruxarias que alegram o estômago, mas muito faz Amigo ao prender-me em manhã de São Martinho – há, também, um bacalhau de São Martinho, madeirense – à substância dessas páginas, onde tanto se aprende, e tanta nostalgia sobe de entradas entre aba e zurrapa. Como se não bastasse, oferece-nos, a mim e a Teresa, o Dicionário… e um cozido, no restaurante Nobre, da macedense Justa Nobre. Acompanhá-lo por outros templos do bom gosto é sempre um prazer, luxo que nem aos deuses antigos (além da ambrósia) era concedido.
Ora, além de um dicionário da especialidade, torna-se, aqui e ali, enciclopédia, além de receituário. Reconheço a olha-podrida, informo-me sobre o abade de Priscos, e mal sabia eu que, na semana seguinte, iria provar ouriços de castanha de Eurico Castro (p. 263-264), no novel restaurante bragançano A Porta, aí onde houve caserna militar, se bem me lembro – e Rui Caseiro confirma.
Não será de somenos o amoroso cuidado em fixar vocábulos, comes e bebes transmontanos, incluindo formas populares (larego, reco, pita, pito…). Em próxima edição, aceitará as segundas frequências, em filhó / filhós, grão-de-bico / ervanço (afora garoulo, gravanço), míscaro / níscaro, e biqueiro contraposto a boa boca. Pedindo referência, na Bibliografia ou no verbete sobre covilhetes de Vila Real, à reunião de textos Os Covilhetes, do nosso caro Elísio Amaral Neves, reedição do Grémio Literário Vila-Realense, que, diz-me A. M. Pires Cabral, já esgotou.
É uma deambulação extraordinária pelo que alimenta a lusofonia, das Áfricas ao Brasil, de Goa a Macau. Enquanto sobressaem ementas para uma cozinha regional (a começar nas açordas), surpreende a qualidade medicinal de alguns produtos, o esclarecimento do que tanto aprecio e cuja composição desconhecia (caso dos peixinhos da horta), bem como designações incomuns, que não encontramos facilmente em vitrina doceira: colchão de noiva, espera-maridos, malacuecos, melindres, pata de veado, tecolameco… Livro a consumir sem moderação.

in:mdb.pt

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