(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
A seara é a mesma. Nós mudamos. Ficam as emoções e as memórias.
A chegada dos segadores vindos de Argozelo e Carção. Ficam as sopas de vinho, doces como o mel. Fica a burra, o caminho, os alforges e o almoço para os segadores. Ficam as canções dolentes cheias de sol… e a sesta…o trigo e o copo da água… as espigas cheias de grão.
Ficam os carros de bois cantando, ou chorando carregados de molhos de trigo. Fica a eira, a meda, os medeiros e os malhos batendo pesados ao som cadente do ritmo dos malhadores. Fica a arca cheia de trigo e de esperança. Fica a chegada do médico, do barbeiro, do padre, do ferrador, do alfaiate, do ferreiro que vêm cobrar a quarta de cereal. Fica o tempo e o medo dos Invernos.
Fica o sonho, as tardes longas cheias de calmaria e dos saltos dos gafanhotos. Ficam as cigarras nas infindas tardes de Verão. Ficam as fontes e as cântaras de Pinela. Ficam as crianças, os homens e mulheres da nossa aldeia. Ficam as novenas da Senhora da Serra no final das colheitas…e fico eu, para numa tarde de Julho, juntar palavras…desesperadamente … tentando agarrar a nossa Terra que como a água do ribeiro me escapa por entre os dedos.
Fernando Calado nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança.
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.
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