Nasceu em Donai, concelho de Bragança, em 1537 e faleceu no convento da sua ordem em Lisboa a 10 de Agosto de 1627. Era filho de lavradores que o mandaram educar, estudando latim até aos quinze anos; depois foi para Salamanca cursar cânones, onde, concluídos os estudos, se ordenou de presbítero e obteve o curato da igreja de S. Lázaro, mesmo nessa cidade; mas, aborrecido das chicanas do mundo, onde a intriga e, talvez, a inveja parece lhe prepararam alguns desgostos, vendo um seu amigo morrer na flor da idade, e quatro macacos (bugios, diz a crónica, sem nos declarar se seriam diabos disfarçados) arrebatarem o cadáver de um seu paroquiano, mesmo enquanto ele lhe encomendava a alma a Deus, não teve mão em si e meteu-se frade no convento da ordem dos carmelitas descalços de Mancera, Salamanca, pelos anos de 1570, onde depois foi prior, e acabado o triénio em 1588 veio para Portugal, também como prior, governar o convento da sua ordem em Lisboa.
Tornou depois a ser mandado pelo geral da ordem para Espanha servir de reitor no colégio de Barcelona; voltando a Portugal, foi nomeado prior do convento de Cascais em 1597, e acabado o triénio voltou novamente a exercer, pela segunda vez, essa dignidade em Lisboa em 1600. Foi durante este seu segundo governo que teve certas desavenças com o vigário provincial Frei José de Jesus Maria, mas o geral da ordem, reconhecendo as grandes virtudes do nosso biografado, e como do seu lado estava a razão, mandou recolher a Castela o provincial e continuar no exercício do seu cargo Frei Baptista da Trindade.
Acabado o triénio do seu priorado em Lisboa foi exercer essa dignidade no convento de Aguilar em Castela até ao ano de 1607; depois, fundando-se o convento de Viana em 1618, foi ele o seu primeiro prelado. Recolheu em seguida ao convento de Lisboa, onde faleceu com noventa anos de idade, deixando notável fama de virtude.
Era muito caridoso; pronto em desculpar as ofensas que lhe faziam; de muita austeridade e rigor na penitência; de notável fervor na oração, onde sentia consolos espirituais; de grande humildade e docilidade aos mandados da obediência, ainda os mais impertinentes. «Sendo prior de Lisboa, foi por vezes buscar agua á fonte da horta em um macho com cangalhas e acompanhado de outros religiosos trouxe ás costas por grande espaço da rua publica a lenha que vinha de outra parte do rio em barca. Fazendo-se obra no convento, com os noviços acarretava a pedra e cal para ella. Estava mui persuadido que os lanços humildes não prejudicavam a auctoridade de Prelado».
Pelo que toca aos fogos lúbricos, isso então era de gelo. Como ao nosso Frei Gonçalo de Santo Alberto, também uma pecadora de Salamanca «o foi buscar ao seu aposento uma noute para o provocar á luxuria, elle accendeu umas folhas de papel que diante tinha e lhe quis queimar a cara e cabello, ella fugiu».
Assim o diz a Crónica da sua ordem. Apre com as meninas de Salamanca!...
Felizmente que encontravam transmontanos quais icebergues.
Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança
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