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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

No País das Maravilhas...

Em fim de férias, quando a maralha tuga serpenteia pelas autoestradas maravilha, tejadilhos pejados de malas e embrulhos, ocupando de forma displicente as faixas centrais, com o pára-brisas de trás tapado por roupa e sacaria, a RTP transmitiu a gala da versão do passatempo 7 Maravilhas, desta vez dedicado às aldeias do velho rectângulo. 
O distrito de Bragança esteve representado na escolha final por Podence e Rio de Onor, depois de Montesinho ter perdido a corrida na penúltima fase. Naturalmente sabemos que concursos deste género são folhetins para entretenimento e festa. Mas, pelos vistos, os municípios de Bragança e de Macedo de Cavaleiros empenharam-se na iniciativa e terão considerado que, assim, cumpriam o desígnio de valorizar o que ainda resta de característico, mesmo de especial nestas terras.
No espectáculo final, em Piódão, não faltaram governantes, ministros e secretários de Estado, responsáveis por pastas importantes para o desenvolvimento de políticas que poderiam conduzir ao reequilíbrio do território e ao desenvolvimento de condições de vida para populações que têm sofrido os efeitos de décadas e décadas de políticas desastradas e irresponsáveis. 
Estiveram, naturalmente, em fato de festa e ninguém os questionou sobre os problemas que as populações têm sentido, quase até à agonia, convivendo com o fim da esperança, envelhecendo sem retorno e esperando que filhos e netos não se esqueçam da terra para sempre.
Mas não perderam a oportunidade para, outra vez, arengar sobre, agora sim, atenção ao interior, acenando com a varinha mágica, que não produziu, até agora, festejadas ilusões porque a mestre de cerimónias, a ex-responsável pela Unidade de Missão para o Desenvolvimento do Interior, se desiludiu ela própria e foi trabalhar a sério para os trópicos.
A secretária de Estado do Turismo recuperou mesmo a promessa de nos pôr no mapa, parafraseando Guterres em 1995, ou seja 22 anos depois, talvez acreditando que a nossa memória já se desvaneceu sem remissão.
Rio de Onor, Podence e Montesinho são três, entre centenas de aldeias deste terrunho, que expressam a angústia da proximidade dos dias do fim, apesar do ânimo das claques que deram cor ao programa televisivo. Basta lembrar que a vencedora (Rio de Onor) dispõe de um parque de campismo sem ocupação, apesar de ser famosa desde o tempo em que o antropólogo Jorge Dias ali realizou estudos notáveis sobre o comunitarismo, a variante dialectal, a arquitectura e a relação com a natureza.
Não estamos por este nordeste a evoluir num conto de fadas, nem nos devem confundir com a pequena Alice que palpitava com as maravilhas estonteantes, guiada pelo coelhinho branco, um criado obediente da rainha de copas. Nem estaremos para aturar as madurezas do gato, os subterfúgios e os sorrisos felinos, quase gargalhadas zombeteiras, perante o enlevo da rapariga.
A dureza da vida quase nos petrificou. Por isso, era tempo de vermos tidas em conta as ásperas realidades e percebermos que alguém estaria disponível para mudar de rumo, permitindo que as maravilhosas aldeias não se reduzam a memórias difusas num futuro que pode ser espantosamente doloroso.


Teófilo Vaz
in:jornalnordeste.com

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